Metodologias ativas: o que é isso?
Cristina Maria Rosa
Parte da Pedagogia se interessa por responder, hoje, já, agorinha,
pela aprendizagem de pessoas em todos os níveis e modalidades de educação. Metodologias
ativas é um título que representa esse desejo vinculado ao tempo da urgência,
esse mesmo que estamos vivendo hoje em que parece que tudo é “para ontem”.
Mas, o que são metodologias ativas?
Nelas, em comum, o aluno, o estudante é o principal ator, é o
protagonista. E a proposta dessas metodologias é “ajudar”, mediatizar, contribuir
para que o protagonista adquira o saber. Uma das definições encontradas em uma
busca sobre o tema informa que Metodologias ativas são “novas formas de desenvolver
o processo de aprendizagem”, uma vez que “se utilizam de “experiências reais ou
simuladas” com o objetivo de “criar condições” para “solucionar os desafios
advindos das atividades essenciais da prática social”. Mais aprofundadamente, encontras
referências ao ler As metodologias ativas e a promoção da autonomia de
estudantes, um texto de Neusi Berbel publicado em 2011. Ao fim deste texto,
inseri o link para pesquisares.
Ativo: lépido e faceiro?
“Ativo” tem, no seu campo semântico, a presença de palavras
como dinâmico, ágil, vivo, enérgico, animado, agitado, mexido, movimentado. E,
ainda, participante, presente, atuante. Ativo, ainda, é alguém que não deixa de
ser eficiente, eficaz, diligente, pronto, rápido, ligeiro, despachado,
desembaraçado, empreendedor, competente.
Ao conhecer essas possibilidades para a palavra “ativo, não se pode
deixar de imaginar que também é um trabalhador esforçado, inteligente, esperto,
perspicaz, sagaz, astuto, objetivo, prático, pragmático, atinado, lépido. O que
me fez pensar em lebres, que, todos afirmam ser mais rápidas que tartarugas
embora existam controvérsias...
Ativo ainda é sinônimo de industrioso, laborioso! E dele se diz
que, quando exerce uma atividade, demonstra ser operante, funcional, produtivo,
efetivo. Mais modernamente, entre as novas gerações, ativo é alguém que está ligado,
conectado e, poeticamente pode se dizer que é muito intenso, forte, vigoroso.
Se o sujeito estiver na vida pública e for “ativo”, se diz dele que é influente,
importante, “grande” ou “grandão”. Tudo para afirmar que é respeitado,
prestigiado. Por fim, para circunscrever esse termo polissêmico, há fenômenos
da natureza que precisam ser respeitados quando a eles nos referimos como
“ativos”. É o caso dos Vulcões que, se estiverem em atividade, eruptivos,
causam muita confusão.
Lembrando quem aqui tudo foi escrito no masculino – ativo,
eruptivo, grandão –, pois os dicionários, em nossa língua, ainda não
descobriram a flexão de gênero.
Os tipos de metodologias ativas
Ao proceder um estudo sobre o tema descobri que há onze tipos de
metodologias ativas: gamificação, júri simulado,
ensino híbrido, mapa conceitual, estudo de caso e sala de aula invertida,
tempestade cerebral, aula expositiva dialogada, aprendizagem entre pares,
aprendizagem baseada em problemas e aprendizagem baseada em projetos. Resolvi
te apresentar, com minhas palavras, o que
aprendi.
Gamificação é uma metodologia que
intenciona dinamizar vínculos, utilizando o que os meninos e meninas já dominam
para aprenderem mais na escola. Conta com colaboração e engajamento,
possibilidade de avaliação constante por parte do professor e dos integrantes,
agilidade na proposição e resolução de demandas e favorece a consolidação de
uma inteligência coletiva.
Ensino híbrido é um programa de educação
formal que mescla momentos presenciais (na presença de pares e professor) e
outros, em que o estudante busca aprender de modo online, com orientação e
acompanhamento. As propostas de ensino híbrido se dividem em sustentados
e disruptivos e isso significa dizer que quando há inserção de novas
metodologias sem a exclusão de parcelas da proposta de ensino tradicional,
temos o modelo “sustentado”, ancorado no que já havia. Se, no entanto, temos a
apresentação de uma metodologia que propõe a total quebra do ensino tradicional,
estaremos diante de uma metodologia disruptiva.
Júri simulado é uma metodologia que
organiza os aprendentes em três grupos: acusação, defesa e julgamento. Através
da simulação de um tribunal, “casos” são estudados e argumentos sãos
construídos. Embora listada entre as “novas” metodologias, lembro de ter vivido
essa experimentação no ensino fundamental, lá em minha cidade natal, Santa
Rosa.
Mapa conceitual é o uso de diagramas –
conjuntos coloridos de círculos, retângulos e/ou triângulos interseccionados e
marcados, destacados ou hachurados por setas, flechas ou chaves – e outras
ferramentas gráficas que concebem e apresentam de forma visual as analogias
entre conceitos e ideias. É denominado “mapa mental” ou “mapa conceitual”
pela oferta de links visuais que tem o intuito de se tonar memorizável e
facilmente compreensível. Exige esforço para compreender os conceitos e
expressar saberes conexos. Eu amo mapas mentais e sempre que estou estudando,
faço.
Estudo de caso são relatos de casos da
vida real com o intuito de oferecer ancoragem para a aprendizagem a partir de
um “caso”, uma situação, uma história. Com em todo caso, tem
peculiaridades e sobre ele podem ser feitas perguntas com o intuito de ampliar
o modo como se conhece algo. Os casos a serem levados para a sala de aula devem
estar focados em habilidades e competências a serem adquiridas ou ampliadas e
esta é uma abordagem ativa e colaborativa que intenciona promover o
desenvolvimento da autonomia.
Por sua vez a Sala de aula invertida é uma metodologia que
intenciona colocar o aluno em contato com elementos teóricos e metodológicos a
respeito de um tema antecipadamente do encontro com o professor e colegas.
Assim, ele “estuda em casa” e, quando chega na escola, pode debater, dialogar,
perguntar e até ensinar o tema aos demais. O foco é não apenas receber do
docente uma visão definitiva e expositiva sobre o tema, mas, sim, tornar o
momento mais rico e pleno de “opiniões” diversas. O estudante passa a realizar
atividades antes, durante e depois das aulas, presenciais e online.
Tempestade cerebral é
um método utilizado para desenvolver as capacidades criativas de um grupo. Ao
conhecer o que pensam de forma desorganizada, o professor pode explorar “a
priori” níveis e graus de conhecimento e, com a formulação de uma nova redação,
dar forma a conceitos. Apresentações de ideias, liberdade de expressão, choque
de conhecimentos, palavras livres e soltas são habilidades a serem trabalhadas
a fim de que o estudante possa expressar organizadamente um saber com concisão,
logicidade, pertinência e aplicabilidade. Ao estudar a tempestade de ideias
lembrei de momentos vividos quando, estudante recém chegada na UFSM e em contato
com pessoas que estudavam design de produtos para a publicidade, ouvi o termo
pela primeira vez. Para eles, era uma técnica corriqueira...
A Aula expositiva dialogada compreende uma relação em que o
eu e o outro importam. Uma relação dialógica e ética é o seu fundamento e o
foco está na capacidade de aprender a refletir profundamente sobre o saber
algo. A participação dos educados é um objetivo e esta proposta metodológica se
coloca filosoficamente contrária à educação bancária. Sempre gostei
dessa abordagem e me reconheço nela. Quando tive a primeira oportunidade de
realizar um estágio no campo da Didática e meu público eram professoras de
escola, empreguei essa metodologia. Era o ano de 1989 e eu me sentia plena em
exercitar o diálogo com que já estava no mundo do trabalho. Nunca esqueci essa
experimentação e dela sempre levei ensinamentos.
Aprendizagem entre pares ou times (em inglês, peer
instruction ou team based learning) é aquela que incentiva o debate,
a reflexão, o diálogo entre iguais, em conjunto. Times aprendem em grupo, com
alguma disputa entre os demais. “Nosso time” é uma noção importante para essa
metodologia. A disputa, como ocorre em gincanas, oferece a essa metodologia um
elemento de “animação” e contribui para o “espírito de grupo”. Como tutora de
um grupo PET na Educação e em convívio com outros grupos, participamos, em certa
ocasião, de uma grande gincana. Nela, inventamos música, tema, lema, cores,
nome e, em clima de GreNal, disputamos cada ponto. Nosso time,
vitorioso, entendeu que juntos, somos melhores.
Quando se trata da Aprendizagem baseada em problemas estamos
diante de um olhar para a realidade e, após, a necessária seleção de um “problema”
para estudo. O foco é adquirir afinco na observação e categorias de
aprofundamento para descrever e propor alternativas. A ideia é ter um professor
orientador, estudantes protagonistas e, como resultado, a “criação” de uma
solução ou proposta de intervenção.
Por sua vez, a metodologia denominada Aprendizagem baseada em
projetos tem como diferencial a trabalho em grupo, colaborativo, com o intuito
de resolver problemas que ocorrem fora do ambiente escolar, mas que dizem
respeito à vida dos estudantes. Por ter como um dos princípios a
interdisciplinaridade, extrapola o trabalho de um professor ou de uma disciplina
e seus resultados devem ser compartilhados na sala de aula, ao fim de um período
ou intervenção.
Concluindo...
No cenário educacional contemporâneo há significativos desafios a
serem afrontados por nós, professores, na promoção de aprendizagens e, dentre
elas, as mais significativas. O fenômeno mais desejado parece ser conquistar
e manter a atenção e o comprometimento de crianças e adolescentes que,
diante de retornos indiscriminadamente intensos, frequentes e fugazes que as
tecnologias digitais lhes aportam, ainda não desenvolveram habilidades de
seleção do que realmente importa para sua presença no mundo do conhecimento.
Ao buscar “metodologias ativas”, ou seja, procedimentos técnicos e
saídas eficazes para acessar o saber, muitos de nós imaginam que estão diante
de uma grande novidade e, ao aprender essa ou aquela artimanha, procedimento, tática,
artifício, esquema, recurso, conseguirá ter “de volta” a criança ou o
adolescente que sempre sonhou: integrado, curioso, atento, interessado, colaborativo.
É de artimanhas que precisamos?
Compreender como essas abordagens influenciam a motivação dos
estudantes, a retenção dos saberes constituídos e o desenvolvimento de
habilidades críticas, porém, requer conhecer para que estudamos. Por que a
humanidade escreve memórias? Quais destas memórias são consideradas conhecimentos
indispensáveis para a vida em sociedade? Como estas memórias se transformam em currículos
escolares? Como são escalonadas para integrar os graus e níveis de
escolaridade? O que nós, como sociedade, deixamos de fora destas listas e
abordagens e por que o fazemos?
Penso que é de grande valia
circunscrever obstáculos percebidos pelos educadores na implementação de metodologias,
mas, além destes, urge que saibamos de onde viemos e para onde vamos. Ou, de onde
imaginamos que viemos e para onde desejamos ir.
A efetividade do processo educacional não pode estar a serviço, apenas,
de um calendário organizado em ciclos e mediado por técnicas. Necessário que, a
cada tempo transcorrido e novo ano de saberes conquistado, saibamos o quanto
mais íntegros, solidários, cuidadores de nós, do outro e do planeta nos
tornamos. Esse é o papel da escola! Ela foi inventada para nos encontrarmos,
nos olharmos, nos cheirarmos. Ela foi instituída para que saibamos que em
bando, podemos ser melhores. E que as regras podem ser avaliadas, modificadas, reinventadas,
mas, que sem elas, somos erráticos.
Não nos faltam conteúdos, leis, regras, metodologias. Não nos
faltam conhecimento escolar. Nem livros, professoras e professores dedicados,
estudiosos, comprometidos. Sim, pode ser que não tenhamos tantos aparelhos de
ar condicionado nas escolas, mas ainda sabemos plantar árvores.
Ao listar e conceituar um grupo de “metodologias ativas” que estão
sendo propostas atualmente, tive o intuito de perguntar: será que são elas que desempenham
papel crucial nos processos de ensino e aprendizagem em curso? Têm elas o poder
de serem nomeadas como responsáveis por experiências mais participativas e
significativas nas escolas? Ao declarar que suas abordagens são inovadoras e
centradas nos/nas estudantes, garantimos ambientes educacionais mais dinâmicos
e envolventes? Será que com elas garantiremos sombra e água fresca?
Para saber mais...
Quer conhecer um bom texto sobre o tema? Leia As metodologias
ativas e a promoção da autonomia de estudantes, de Neusi Aparecida Navas
Berbel, disponível em:
<http://proiac.sites.uff.br/wp-content/uploads/sites/433/2018/08/berbel_2011.pdf>.