quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Infância em livros na Dom Quixote Bento Gonçalves

 

Infância em livros na Dom Quixote Bento Gonçalves.

Cristina Maria Rosa

 

Na quarta-feira, dia 21 de outubro, por duas horas, estive na Dom Quixote, uma livraria charmosa que existe em Bento. Estrategicamente localizada em uma rua de amplo fluxo, lugar repleto de consultórios médicos, cafés, estacionamentos e “esperas”, a livraria é também sebo e café, além de estar integrada a eventos ligados ao mundo do livro e da leitura como feiras, sessões de autógrafos e diálogos com autores.

Meu intuito era conhecer o acervo dedicado às crianças. Nele, meu foco era localizar, ler e adquirir obras que pudessem ser indicadas a Professoras, Pedagogas, Bibliotecárias e Gestoras escolares que desejem conhecer, abordar e se tornar letradas em direitos das crianças que, no Brasil, estão garantidos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Os títulos que pretendo reunir em uma lista, devem ter sido publicados a partir de 1990, ano do decreto e sancionamento da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, conhecida como ECA.

Dom Quixote Livraria & Cafeteria

Livraria é uma raridade na Serra Gaúcha.

Infelizmente.

Na “capital” do vinho, a Dom Quixote “combina” com o nome. Resiste bravamente à desilusão. Como “armas” em sua cruzada, é plena de livros – usados e novos, próprios e consignados – sem se descuidar das futuras gerações: o setor infantil, embora bem pequeno se comparado ao espaço tomado pelos demais livros, é bem fornido. No acervo com em torno de 900 títulos, encontrei até uma raridade: A festa das letras, de Cecília Meireles e Josué de Castro, originalmente publicado em 1937. Se não sabes por que este livro é raro, leia sobre em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2014/01/1948-o-batalhao-das-letras-de-quintana.html.

Entrevistando o homem do casal de proprietários, descobri que há clientes fiéis, bons contatos com Editoras (em especial, duas), uma relação cultivada com o público e orgulho de ter bons títulos no acervo. O café, inserido na rotina como um odor necessário e bem-vindo, oferece apenas duas mesas com dois assentos cada. Suficiente para o meu estudo. E para os clientes que durante as duas horas em que ali estive, circularam por lá. “Uma água, um pingado e uma fatia de bolo”, “dois expressos”, “dois sucos”, “uma água e um expresso”. Esses os pedidos dos demais que, como eu, ali entraram entre as 13 e as 15 horas de quarta-feira, dia 26 de outubro de 2022. Tomam um cafezinho, espiam um livro ou outro, perguntam por algum título, batem um papinho e saem. Alguns vem focados: adquirem e saem.

Conversando com uma das atendentes, descobri que a Dom já foi grande (em torno de 100 metros quadrados) e nela havia muito espaço para estudar, o que era comum até entre jovens frequentadores. Mas, de acordo com ela, os clientes gostam muito da nova configuração: pequena, acolhedora, suficiente.

Tradição entre os gaúchos – “frequentar” uma livraria “de calçada” – não é bem o que ocorre ali. O espaço é bem pequeno, tem apenas duas grandes e repletas paredes com livros em toda a extensão, tanto longitudinal como transversalmente. No meio, entre os dois espaços destinados a tomar um café, há uma estante menor, também com livros. Percebo agora que dei pouca importância a este espaço. Vou ter que voltar lá. Ao fundo, o caixa, uma pequena cozinha onde são preparados os cafés e um banheiro bem cuidado.

O que interessa, na Dom, no meu entender, é o acervo. E, a possibilidade de ali estudar, herdada, talvez, de tempos idos. Eu fui bem recebida, me permitiram ler e manipular livros e pude conversar abertamente sobre o que é qualidade literária e editorial. Te surpreende? A mim também.


Pesquisando...

Meu propósito, já conheces. Conhecer o acervo em termos de quantidade e qualidade. O literário desse acervo é minha maior curiosidade pois, sim, há muitos livros sendo produzidos que se restringem ao desejo de "educar" o leitor, seja lá que a que educação se referem.

Me interessa também e muito, ver se há autores brasileiros, mais especialmente do Rio Grande do Sul, entre os títulos expostos. Encontrei, entre os 156 títulos observados, apenas dois aqui do Sul: Caio Riter (Sete patinhos na Lagoa, da Biruta, 2012) e Carlos Urbim (Dever de casa, da Projeto, 2011).

E encontrei alguns de André Neves, que nasceu no Recife e é radicado em Porto Alegre. É dele o melhor título que encontrei no acervo da Dom: Obrigado. Narrativa poética que reúne poemas verbais e visuais, apresenta poetas que marcaram sua trajetória de vida e o constituíram leitor, ilustrador e escritor. Premiado, maduro, Neves revela delicadezas sobre o processo de criação deste maravilhoso livro em uma entrevista à Revista Crescer. Quer ler? Clique em: https://revistacrescer.globo.com/Entretenimento/noticia/2020/09/andre-neves-e-o-lugar-da-poesia-na-infancia.html. Quer conhecer o escritor? Veja em: https://www.bing.com/videos/search?q=andr%c3%a9+neves+vive+em&docid=608019197549297549&mid=27964EB61F66D3F5D83B27964EB61F66D3F5D83B&view=detail&FORM=VIRE.

 

Atitudes e números desta visita...

Após a observação do espaço ocupado pelo acervo total da livraria (oito colunas em cada lado e 10 separações transversais em cada uma), contei quantos livros havia em uma parte de uma das estantes e multipliquei por todas para obter um valor aproximado de títulos. Quase não há duplicação de títulos na livraria, o que ajudou o resultado do cálculo a ser mais preciso.

Depois, comparei o espaço ocupado por livros no local restrito a crianças. Neste caso, a relação foi de 16 para um, ou seja, o espaço infantil é uma parte do total de 17 “estantes” da livraria. Para ser mais precisa, contei, manualmente, todos os títulos em uma das partes na estante do setor infantil. Por fim, multiplicando pelas demais, deduzi que ali se encontrava a quantidade aproximada de 600 títulos. Tanto a atendente quanto o proprietário declararam não saber o número de títulos disponíveis e ambos mencionaram estar desfalcado o acervo, em função das atividades fora da livraria (feiras do livro) que mobilizam parte considerável dos livros.

Primeira seleção

Organizei um espaço para separar (reservar para ler e descartar os que não leria). Nesta primeira escolha, 20 foram para a mesinha de café e 53 foram deixados na estante. Assim, percorri o olhar sobre 73 primeiros títulos. Me desloquei para a mesa e, diante dos 20 “separados para leitura”, fotografei todas as capas, li 18 e fotografei mais alguns detalhes dos que, entre eles, mais gostei. Dois desse grupo – Quem sou eu?, de Ana Maria Machado e O coelho, o escuro e a lata de biscoitos, de Nicola O’Byrne (Brinque-Book, 2021 – não pude ler: estavam envolvidos em papel filme e o proprietário não permitiu abrir.

Quatro destaques desta primeira seleção: Obrigado, de André Neves (Editora Pulo do Gato, 2021), Lua noite e dia, de André Neves (Paulinas, 2019), Pedro e Tina: uma amizade muito especial, de Stephen Michael King (Brinque-Book, 2015) e Diversidade, de Tatiana Belinky, editado pela Editora Quinteto, em 1999 e reeditado pela FTD, em 2015. Nesta obra, em versos que primam pela rima, a autora “argumenta” que não basta reconhecer diferenças nos aspectos físicos, comportamentais ou de personalidade. É preciso respeitá-las. Cor da pele, textura do cabelo, humor ou temperamento são fatores de diversidade e não tornam as pessoas melhores ou piores, mas diferentes, como todos os seres humanos, de acordo com Belinky (1999). Todos os quatro ficaram depositados na mesa, para a decisão final: adquirir?

Segunda seleção

Entre os 47 títulos observados nessa segunda investida no acervo, escolhi 10 e os demais 37 foram deixados na estante. Diante dos 10 “separados para leitura”, fotografei todas as capas, li todos e selecionei quatro: Vira lata, de Stephen Michael King (Brinque-Book, 2015); Ismael e Chopin, de Miguel Souza Tavares Companhia das Letrinhas, 2011); Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha (Companhia das Letras, 2002 e Salamandra, 2014) e Grandes mulheres que fizeram história, de Kate Pankhurst (Editora Vergara & Riba, 2018). Este último, destaca-se por abordar a igualdade de gênero, a presença e a importância de mulheres na história e o empreendedorismo feminino.

Terceira seleção:

Por fim, selecionei mais 7 entre 36 títulos, todos da mesma e parte da estante do setor infantil. Diante deles e sentada apreciando cada um, fotografei todos e alguns detalhes de alguns, como introdução e última capa, por exemplo e destaquei para ler de novo, ao fim, apenas um: Não me toca, seu boboca, de Andrea Viviana Taubman (Aletria, 2021). Não que outros não fossem interessantes, apenas não de adequavam a minha busca temática.


Fim da "visita"

Ao sair da Dom Quixote – eram 15 horas e trinta minutos de uma quarta-feira – eu me encontrava feliz da vida!

Tinha conseguido ler 37 livros.

Alguns integram minha biblioteca e, mesmo assim, os reli.

Nos meus braços, embalados na sacola com os dizeres “Juntos fazemos o moinho da vida girar. Aprecie sua leitura”, da Dom Quixote livraria & Cafeteria, dois títulos: Ismael e Chopin, de Miguel Souza Tavares e Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha.

O primeiro, adquiri por ser desconhecido. Ao ler uma parte, me apaixonei. Já estou lendo e, depois te conto tudo. O segundo, por motivos óbvios: trata dos direitos das crianças segundo uma grande autora de obras para a infância. Já possuía, mas comprei por ter sido publicado por outra Editora doze anos após a anterior.

Após entrar em contato com 156 títulos (26% ou quase um terço do acervo da livraria), tendo lido 37 destes (23,71%), consegui indicar nove livros a integrem minha lista de obras possíveis e adequadas a abordarem os direitos das crianças contidos no ECA. Considero que tenha sido uma excelente tarde de pesquisa!

Mais...

Para conhecer a Dom, clique em https://pt-br.facebook.com/dom.quixote.livraria.cafeteria/

Para saber mais sobre Obrigado, de André Neves clique em: https://ambrosia.com.br/infantil/obrigado-de-andre-neves-conta-em-poesia-a-infancia-de-grandes-poetas-brasileiros/

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

A infância passa rapidinho...

 

Ambiente infantil na Cirkula, em PoA.

Infância na Cirkula: livros...

Cristina Maria Rosa

 

Na sexta-feira, dia 21 de outubro, entrei na Cirkula para conhecer o acervo dedicado às crianças. É uma “livraria de calçada”, quase uma raridade no século XXI. Não na insistente Porto Alegre. Na capital dos gaúchos, uma das tradições é frequentar uma boa livraria de calçada. Em alguns casos, nem “de calçada” precisa ser. Conheces um lugar que vende livros em uma das tantas salas de um edifício comercial? A mim contaram de uma que se localiza na Rua Uruguai, ali no Centro. Atulhada de livros, duas ou três grandes janelas pelas quais o sol entra e um senhor, leitor, disponível para diálogos. Nas estantes, Porto Alegre, como um dos temas.

Cirkula

Nunca gostei do nome desta livraria. Tenho preconceito com o uso de letras que não integram nosso abecedário em títulos de livros, nomes de pessoas, denominação de estabelecimentos.

Bobagem minha, mas...

O que interessa, na Cirkula, não é o nome e o que ele denota ou se propõe a indicar.

O que realmente importa é o acervo. E, as relações que os proprietários têm com os visitantes e compradores de livros e como exercem seu papel na famosa e desconhecida “cadeia do livro”. Pois foi um diálogo que escutei lá que me inspirou a escrever o que estás lendo. Conto em outra ocasião.


A rotina

Como trabalho?

Tenho uma rotina que aprendi fazendo e, ao perceber os resultados nesses 27 anos de pesquisa com livros para crianças, organizei como método. Os procedimentos são indicados para acervos aleatórios, nem sempre organizados, como bibliotecas de amigas, livrarias, bancas em feiras e até catálogos de editoras.

O que fazer?

Depende do teu objetivo.

O meu é, sempre, conhecer o acervo em termos de quantidade, variedade e tendência temática. O literário desse acervo é minha maior curiosidade pois, sim, há muitos livro sendo produzidos que se restringem ao projeto de "educar". Me interessa também e muito, ver se há autores brasileiros, mais especialmente do Rio Grande do Sul, entre os títulos expostos.

Minha rotina (método de trabalho) inclui:

ü Ler a capa (o título, em especial) e observar autora/autor;

ü Separar os interessantes;

ü Ao fim de um tempo ou diante de uma pilha de uns trinta ou quarenta, parar;

ü Depois, sentar, ler um por um e separar novamente os mais instigantes entre os lidos, para reler ao final;

Ao fim de cada um desses 30 ou 40 livros lidos parcialmente, volto às estantes e reinicio, até terminar o acervo. Ou o tempo disponível para a pesquisa...

A livraria

Há, na Cirkula, um acervo de aproximadamente mil e quatrocentos títulos infantis. Eu fiz um cálculo a partir da contagem de uma das estantes. Quer saber como faço? Me pergunta que te ensino. A proprietária não sabia me informar, então, foi necessário.

Mil e quatrocentos títulos no setor infantil, em uma livraria não especializada nessa parcela de público, é uma quantidade relevante. Por isso, valeu a pesquisa. É uma amostra bastante impactante para garimpar títulos para uma lista ideal, ou seja, uma lista com "os melhores".

O foco da livraria visitada por mim em outubro de 2022 é a venda de livros, embora ocorra lá eventos em torno de lançamentos e diálogos com autores. A Cirkula também é uma Editora e seus proprietários se aventuram no mundo da escrita além de editarem outros autores. Leitores, ambos conhecem a Universidade, ou seja, os ritos que autorizam a produzir conhecimento. Usufruem disso mantendo um diálogo especializado caso o visitante demostre interesse. São solícitos, bem humorados, tem paixão pelo que fazem. Na Feira do Livro, explicitam sua posição política: integram a “Feira fora da Feira”.

Diário da Visita

Ao entrar – eram 13 horas de uma sexta-feira – ninguém ali ainda havia almoçado. Nem eu. Mas algo me dizia que no café da Cirkula eu encontraria o que comer, caso desejasse. Saída da UFRGS – a Cirkula fica bem pertinho, o que sempre é uma vantagem para quem vende e compra livros, eu buscava uma experiência com um acervo novo.

Encontrei.

Dirigida pela funcionária e tendo como trilha sonora as negociações do proprietário com autores que visitarão Porto Alegre na Feira do Livro, me senti “em casa”. Quase. O acervo é bem mais atual que o meu, embora não seja muito maior em termos de quantidade. E era justamente isso que eu buscava: atualidade.

Meu foco? Dirigido a minha pesquisa de pós-doutoramento, buscava títulos que pudessem ser indicados por mim para Professoras, Pedagogas, Bibliotecárias e Gestoras escolares que desejem abordar os direitos das crianças. Estes títulos que busco devem ter sido publicados a partir de 1990, ano do decreto e sancionamento do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13 de julho de 1990).

Separei para ler, em diferentes grupos, em torno de 40 a 50 livros.

Na escolha, lia a capa e mais algumas informações como a biografia do autor/autora ou a orelha e a introdução ou, ainda, a última capa. Fiz isso para obter uma quantidade de obras a serem lidas na integralidade. escolher implica descartar e, só pelo título, forma deixados nas estantes três vezes mais ou, em torno de 500 livros.

Em certo momento, recebi a curadoria da proprietária. Conhecedora do acervo, “jogou” no meu colo uma quantidade de outros títulos que estavam em um armário de portas envidraçadas que eu não ousara abrir. Foi um momento ótimo!

Após esta coleta inicial em que 159 títulos do acervo foram manipulados e lidos parcialmente, a primeira triagem teve fim. Logo iniciei a leitura integral destes e uma parcela, ou seja, em torno de 44 livros, se mantiveram firmes, para a próxima seleção. 

O grupo que resultou da segunda leitura em que todos tiveram suas capas e mais algumas páginas fotografadas e inseridas em meu arquivo de imagens, foi formado por 19 livros. Eu queria comprar todos, mas, após ler novamente cada um deles, escolhi três para adquirir. Estes integram a minha "lista dos melhores" e podem ser apresentados a crianças e também a profissionais quando o foco é a defesa de alguns dos direitos que estão no ECA: à vida e à saúde (prescrita no capítulo I), à liberdade, ao respeito e à dignidade (capítulo II) e à convivência familiar e comunitária (III).  


Os três livros escolhidos

Uma família é uma família é uma família, escrito por Sarah O’Leary e ilustrado por Qin Leng, foi traduzido do inglês por Gilda de Aquino em 2017. Foi um dos primeiros que vi, em cima de uma das mesinhas para crianças bem pequenas que há na Cirkula. Lido, resistiu até o fim na pilha dos “separados para segunda leitura” e, ao fim do estudo, veio para casa com os outros dois. Esse livro, recomendo como adequado para abordar o tema do direito à convivência familiar.

O segundo escolhido – Quem sou eu? – foi escrito e ilustrado por Philip Bunting, um inglês que atualmente vive na Austrália. Há, no mercado editorial, muitas publicações que abordam o tema “identidade”. Entre elas, o de Gianni Rodari (jornalista, escritor e poeta italiano especializado em livros de literatura infantil), publicado pela Salamandra em 2005. Pela similitude do tema, quase que fica entre os demais que, após uma ou duas leituras, foram deixados nas estantes da livraria.

Por que adquiriQuem sou eu?”? O inusitado das respostas à pergunta que dá título ao livro, publicado originalmente na Austrália em 2021, me convenceu. E ele é um potente instrumento a ser acionado quando o desejo é abordar o direito à vida e à saúde.

O terceiro escolhido estava fechado em papel filme. Diante dessas situações, sempre tenho o desejo de rasgar, abrir, ler. Penso que se está fechado, ou é muito bom e não pode estragar, ou é descuido da livraria e eu devo abrir. Posso pedir que abram, mas aí, me sinto no dever de comprar. Bobagem minha?

Eu quero um amigo é seu título e afirmo: é simplório. O título, não o conteúdo. Anete Bley – escultora, autora e ilustradora – foi traduzida do alemão para o português por Hedi Gnädinger. Reconheço que a ilustração supera o texto, mas, o texto convence. A presença de personagens incomuns – velhos, gordos, trabalhadores rurais, entre outros – e em situações corriqueiras (acidentados, dorminhocos, preguiçosos, invejosos, fofoqueiros, entre outros), tornou a aquisição necessária.

Eu quero um amigo integrou minha lista como um dos títulos em que o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade pode ser encontrado. Recomendo sua leitura para crianças e adultos. 

Coincidência...

Autores estrangeiros, todos impressos no século XXI e a Editora que os selecionou e imprimiu os torna comuns.

A editora Brinque-Book não está brincando!

Brinque-Book.

Novamente um nome que não me agrada.

Mas... É bobagem minha.

Leia para suas crianças. A infância delas está passando rapidinho!


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Literatura e escola: um direito das crianças


Literatura, Escola e Extensão Universitária

Cristina Maria Rosa

 

Ao apresentar, hoje, 19 de outubro, seu trabalho intitulado “Um espaço literário infantil: Instituto Estadual de Educação Assis Brasil”, Mateus Valadão de Souza brilhou. Junto com Darlan Porto da Rosa Junior, os dois estudantes da Universidade Federal de Pelotas integram o corpo de apresentadores na SIIEPE, a semana integrada de Inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPel.

Na ocasião, eu, orientadora de Mateus e Darlan, fui substituída competentemente pela Adriana Schüller Cavalli, a quem agradeço.

Adriana e Mateus

Foco

Criar e desenvolver um projeto de extensão que visa “a consolidação de um espaço literário infantil no Instituto Estadual de Educação Assis Brasil” foi o intuito dos estudantes.

Idealizado a partir do Estágio em Gestão – disciplina obrigatória da Licenciatura em Pedagogia (FaE/UFPel) – e apoiado pela tutora do PET Educação, professora Cristina Maria Rosa, a proposição em como foco a literatura e letramento literário.

IEEAB

Instituição que, historicamente, tem forte relação com a formação de professores em Pelotas, o Assis Brasil, como é conhecido, é uma das primeiras escolas do Município a proporcionar o Curso Normal. Localizada no centro da cidade, pode ser considerada cosmopolita por receber e educar pessoas de diferentes lugares do RS.

A proposta de criação de um espaço literário infantil surgiu através do contato com a escola de grande dimensão em um momento de enfrentamento de desafios: período histórico e político de desvalorização dos servidores e das instituições públicas e em um tempo ainda muito marcado pela pandemia da COVID 19.

Crianças

A consideração das crianças como atores sociais de pleno direito – estatuto de ator social – revigorou a proposição. Crianças têm o direito de ler. Este, um princípio. A escola é um ligar privilegiado e dotado desta funcionalidade. Assim...

A criação de um “espaço literário" partiu da ideia de inserir todas as crianças na cultura do letramento, tanto literário como o vinculado a práticas de alfabetização. No entanto, associar a leitura literária ao prazer é um engano, pois ninguém nasce gostando ou não de ler. É preciso despertar nos sujeitos a paixão por esta habilidade.

Nesse aspecto, importante considerar o termo alfabetização literária. Rosa (2015) conceitua o termo como sendo “um processo de apresentação do mundo da literatura a todos”. Além disso, elenca a importância da “elaboração e produção de um processo saboroso, articulado e intencional de apresentação do livro literário ao leitor iniciante” (ROSA, 2016). Para que a alfabetização literária aconteça, a pesquisadora aponta como imprescindível, “um futuro leitor, um mediador e um livro” (ROSA, 2015).

Direitos humanos

O crítico de cultura CANDIDO (1970) na defesa dos direitos humanos, aborda uma relação que é histórica no questionamento daquilo que é compressível e incompressível, ou seja, aquilo que socialmente é discutido e elaborado como necessário ou não dentro da sociedade. Principalmente levando em consideração que grupos de pessoas em vulnerabilidade ou minorias sociais tem constantemente suas necessidades humanas reduzidas a um lugar apenas material. A arte e a literatura na sua mais ampla conceituação encontram-se nesse paradoxo e a sua democratização esbarra na mais profunda crença de sua necessidade dentro da sociedade.

A luta pelos direitos humanos pressupõe a consideração de tais aportes e, nos aproximando do tema deste projeto, os consideramos “bens” não apenas os que asseguram a sobrevivência física em níveis decentes, mas os que garantem a integridade mental, cultural, espiritual. Parafraseando Candido (1970), “[...] a alimentação, a moradia, o vestuário, a instrução, a saúde, a liberdade individual, o amparo da justiça pública, a resistência à opressão” são direitos compressíveis. Incompressíveis,  “o direito à crença, à opinião, ao lazer e, por que não, à arte e à literatura (CANDIDO, 2004, p. 176). Esa reflexão tem apoio de GIL (2003), par quem “essa história de achar que a cultura é uma coisa extraordinária”, tem que acabar. Completa: “Cultura é ordinária! Cultura é igual feijão com arroz, é necessidade básica. Tem que estar na mesa, tem que estar na cesta básica de todo mundo”.

 Mais...

Quer saber mais sobre o tema?

Quer conhecer o trabalho do Mateus e do Darlan?

Clique em http://peteducacao.blogspot.com/2022/06/uma-biblioteca-infantil-para-o-assis.html e usufrua!

É saber público e de qualidade!

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Infâncias, Violências e Mídias no Século XXI


Imagem disponível em www.paraeducar.com.br
Violência que apaixona: a morte em clássicos infantis

Cristina Maria Rosa

 

Ocorre amanhã, dia 19 de outubro, a minha apresentação no VI Seminário Criança na Mídia - I Seminário RECRIA, com a temática "Infâncias, Violências e Mídias no Séc. XXI". Orientado pela Doutora Jane Felipe (UFRGS), o trabalho é um dos resultados de meus estudos de Pós-Doutoramento em Educação. Este importante evento está sendo desenvolvido de forma híbrida na Universidade Feevale, hoje e amanhã (18 e 19 de outubro de 2022). A seguir, leia a carta de aceite do trabalho.

 

Carta de aceite


Prezada,

Sua apresentação/paper "VIOLÊNCIA QUE APAIXONA: A MORTE EM CLÁSSICOS INFANTIS" foi aceito no Grupo de Trabalho 4 "Infâncias e Linguagens Comunicacionais" para apresentação no VI Seminário Criança na Mídia - I Seminário RECRIA, com a temática "Infâncias, Violências e Mídias no Séc. XXI",  que irá ocorrer de forma híbrida na Universidade Feevale, nos dias 18 e 19 de outubro de 2022.

 

Parecer

Recebi, também, um parecer a respeito do envio do resumo.

Quer conhecer?

Leia a seguir...

 

PARECER:

"Existe uma pergunta norteadora que indica um estudo na relação entre infância, violência e gênero em obras clássicas da literatura infantil. Embora não apresente o percurso metodológico nem os principais resultados, entende-se se tratar de uma pesquisa em andamento que poderá ser complementada pelas discussões no Seminário."

 

Para saber o que vou apresentar, publico aqui o resumo, as palavras-chave e as referências do trabalho enviado. 

 Resumo: Maus tratos emocionais, violência psicológica e morte estão presentes em narrativas literárias infantis e apaixonam quem as escuta ou lê. Na literatura clássica, especialmente, há longo e programado sofrimento infligido a personagens, quase sempre mocinhas às vésperas de descobrirem-se mulheres. Nela, a morte é quase uma promessa apresentada aos infantes por quem deveria protegê-los: mães, pais, madrastas. Tendo como suporte os estudos de gênero (SCOTT, 1995), escolhi, no acervo de Perrault (1697) e Grimm (1812-1815), um grupo de títulos para descrever e analisar como essa trama – maus tratos, violência e morte – é tecida. Ao ler Chapeuzinho Vermelho, Pele de Asno, Barba Azul, Cinderela, A Bela e a Fera, Branca de Neve, Rapunzel, João e Maria, O Patinho Feio, A pequena Vendedora de Fósforos e A princesa e a Ervilha, pergunto: em que medida esses contos podem ser potentes para discutirmos as infâncias e as questões de gênero na contemporaneidade?

Palavras-chave: Educação. Literatura. Infâncias. Relações de Gênero. Morte.

Referências

BENJAMIN, W. O Narrador. Considerações sobre a obra de Nicolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

CORSO, D. L. & CORSO, M. Fadas no Divã: Psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006.

DARNTON, R. O grande massacre dos Gatos. Rio de Janeiro: Graal, 1996.

SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, n. 20(2):71-100, 1995.

TODOROV, T. A literatura em Perigo. Rio de Janeiro: Difel, 2012.

Créditos

Apresentação: de forma on-line.

Quando: Quarta-feira, 19 de outubro, das 08 horas e 45 minutos até as 12 horas.

Sessão Temática: GT 4 - Infâncias e Linguagens Comunicacionais.

Mesa: 1: Representações infantojuvenis e Direitos Humanos.

Informações de participação do Google Meet:

Link da videochamada: https://meet.google.com/jbt-iqsr-ktr


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Prazer e compromisso: um grupo de leitura literária

 


Livros sendo lidos: a extensão da FaE UFPel

Cristina Maria Rosa

 

Foi hoje, dia 17 de outubro que Luzia Helena Brandt Martins e a Diuli Wulff apresentaram o trabalho que desenvolvem desde junho de 2022 com um grupo de leitura literária.

Quem são essas duas mulheres?

Estudantes de Pedagogia e bolsistas PET Educação, coordenam um grupo de leitura literária cujo foco é aprender a ser.

Mediadoras.

Coordenadoras.

Incentivadoras.

Do livro e da Literatura.

A plateia, reunida, foi convencida que as duas estudantes conseguem fazer isso.

Eu estava lá.

E assisti, emocionada, a apresentação.

Parte do resumo...

No resumo, as autoras declaram que “a Leitura Literária é um momento de interação agradável e sem outros objetivos entre o texto escrito e o leitor a não ser o prazer de ler” E completam:

Segundo Graça Paulino (2014), “a leitura se diz literária quando a ação do leitor constitui predominantemente uma prática cultural de natureza artística, estabelecendo com o texto lido uma interação prazerosa’’. Para a autora, o gosto pela leitura “acompanha seu desenvolvimento”, sem que “outros objetivos sejam vivenciados” como mais importantes, “embora possam também existir”. O pacto “entre leitor e texto inclui, necessariamente, a dimensão imaginária, em que se destaca a linguagem como foco de atenção”, pois através dela “se inventam outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas ações, pensamentos, emoções”.

 

Pensando e propondo um grupo, consideram possível um “processo de apropriação da Literatura enquanto linguagem” (COSSON, 2014), ou seja, o Letramento Literário. Para oportunizar que este ocorra, algumas ações pedagógicas são necessárias. Quais? As autoras respondem: "a) aproximação entre leitor e a obra literária e; b) espaço de compartilhamento de leituras".

Objetivos

Para que as duas estudantes da Licenciatura em Pedagogia responsáveis pela atividade de extensão possam aprender com o processo, é necessário que tenham como objetivo a ampliação do repertório literário de todos e “acolher (...) as mais diversas manifestações culturais, reconhecendo que a literatura se faz presente não apenas nos textos escritos, mas também em outros tantos suportes e meios”.

Assim, a “Leitura Colaborativa” pode ser tomada como uma das bases para que este grupo de leitura exista. Esta, de acordo com Brakling (2014), “baseia-se no princípio teórico-metodológico de que se aprende em colaboração com o outro”. Resultante dessa ideia e tendo em vista a diversidade de saberes e percepções sobre a leitura que qualquer pessoa possui, a proposta é que, além dos debates acerca da obra, o que ler também será uma decisão do conjunto dos participantes.

Livro escolhido

A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas, de Maria José Silveira foi a obra escolhida para ser a primeira. Na trama, que possui pouco mais de trezentas páginas, conhecemos uma deliciosa retrospectiva romanceada da história do Brasil, contada por meio da vida de mulheres e suas descendentes.

Para ler uma apreciação da obra, clique em: https://portalimulher.com.br/a-mae-da-mae-de-sua-mae-e-suas-filhas-maria-jose-silveira/

Para conhecer mais sobre o trabalho da Luzia e da Diuli, clique em: http://peteducacao.blogspot.com/2022/05/pet-educacao-na-8-siiepe-2022.html