quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Infância em livros na Dom Quixote Bento Gonçalves

 

Infância em livros na Dom Quixote Bento Gonçalves.

Cristina Maria Rosa

 

Na quarta-feira, dia 21 de outubro, por duas horas, estive na Dom Quixote, uma livraria charmosa que existe em Bento. Estrategicamente localizada em uma rua de amplo fluxo, lugar repleto de consultórios médicos, cafés, estacionamentos e “esperas”, a livraria é também sebo e café, além de estar integrada a eventos ligados ao mundo do livro e da leitura como feiras, sessões de autógrafos e diálogos com autores.

Meu intuito era conhecer o acervo dedicado às crianças. Nele, meu foco era localizar, ler e adquirir obras que pudessem ser indicadas a Professoras, Pedagogas, Bibliotecárias e Gestoras escolares que desejem conhecer, abordar e se tornar letradas em direitos das crianças que, no Brasil, estão garantidos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Os títulos que pretendo reunir em uma lista, devem ter sido publicados a partir de 1990, ano do decreto e sancionamento da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, conhecida como ECA.

Dom Quixote Livraria & Cafeteria

Livraria é uma raridade na Serra Gaúcha.

Infelizmente.

Na “capital” do vinho, a Dom Quixote “combina” com o nome. Resiste bravamente à desilusão. Como “armas” em sua cruzada, é plena de livros – usados e novos, próprios e consignados – sem se descuidar das futuras gerações: o setor infantil, embora bem pequeno se comparado ao espaço tomado pelos demais livros, é bem fornido. No acervo com em torno de 900 títulos, encontrei até uma raridade: A festa das letras, de Cecília Meireles e Josué de Castro, originalmente publicado em 1937. Se não sabes por que este livro é raro, leia sobre em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2014/01/1948-o-batalhao-das-letras-de-quintana.html.

Entrevistando o homem do casal de proprietários, descobri que há clientes fiéis, bons contatos com Editoras (em especial, duas), uma relação cultivada com o público e orgulho de ter bons títulos no acervo. O café, inserido na rotina como um odor necessário e bem-vindo, oferece apenas duas mesas com dois assentos cada. Suficiente para o meu estudo. E para os clientes que durante as duas horas em que ali estive, circularam por lá. “Uma água, um pingado e uma fatia de bolo”, “dois expressos”, “dois sucos”, “uma água e um expresso”. Esses os pedidos dos demais que, como eu, ali entraram entre as 13 e as 15 horas de quarta-feira, dia 26 de outubro de 2022. Tomam um cafezinho, espiam um livro ou outro, perguntam por algum título, batem um papinho e saem. Alguns vem focados: adquirem e saem.

Conversando com uma das atendentes, descobri que a Dom já foi grande (em torno de 100 metros quadrados) e nela havia muito espaço para estudar, o que era comum até entre jovens frequentadores. Mas, de acordo com ela, os clientes gostam muito da nova configuração: pequena, acolhedora, suficiente.

Tradição entre os gaúchos – “frequentar” uma livraria “de calçada” – não é bem o que ocorre ali. O espaço é bem pequeno, tem apenas duas grandes e repletas paredes com livros em toda a extensão, tanto longitudinal como transversalmente. No meio, entre os dois espaços destinados a tomar um café, há uma estante menor, também com livros. Percebo agora que dei pouca importância a este espaço. Vou ter que voltar lá. Ao fundo, o caixa, uma pequena cozinha onde são preparados os cafés e um banheiro bem cuidado.

O que interessa, na Dom, no meu entender, é o acervo. E, a possibilidade de ali estudar, herdada, talvez, de tempos idos. Eu fui bem recebida, me permitiram ler e manipular livros e pude conversar abertamente sobre o que é qualidade literária e editorial. Te surpreende? A mim também.


Pesquisando...

Meu propósito, já conheces. Conhecer o acervo em termos de quantidade e qualidade. O literário desse acervo é minha maior curiosidade pois, sim, há muitos livros sendo produzidos que se restringem ao desejo de "educar" o leitor, seja lá que a que educação se referem.

Me interessa também e muito, ver se há autores brasileiros, mais especialmente do Rio Grande do Sul, entre os títulos expostos. Encontrei, entre os 156 títulos observados, apenas dois aqui do Sul: Caio Riter (Sete patinhos na Lagoa, da Biruta, 2012) e Carlos Urbim (Dever de casa, da Projeto, 2011).

E encontrei alguns de André Neves, que nasceu no Recife e é radicado em Porto Alegre. É dele o melhor título que encontrei no acervo da Dom: Obrigado. Narrativa poética que reúne poemas verbais e visuais, apresenta poetas que marcaram sua trajetória de vida e o constituíram leitor, ilustrador e escritor. Premiado, maduro, Neves revela delicadezas sobre o processo de criação deste maravilhoso livro em uma entrevista à Revista Crescer. Quer ler? Clique em: https://revistacrescer.globo.com/Entretenimento/noticia/2020/09/andre-neves-e-o-lugar-da-poesia-na-infancia.html. Quer conhecer o escritor? Veja em: https://www.bing.com/videos/search?q=andr%c3%a9+neves+vive+em&docid=608019197549297549&mid=27964EB61F66D3F5D83B27964EB61F66D3F5D83B&view=detail&FORM=VIRE.

 

Atitudes e números desta visita...

Após a observação do espaço ocupado pelo acervo total da livraria (oito colunas em cada lado e 10 separações transversais em cada uma), contei quantos livros havia em uma parte de uma das estantes e multipliquei por todas para obter um valor aproximado de títulos. Quase não há duplicação de títulos na livraria, o que ajudou o resultado do cálculo a ser mais preciso.

Depois, comparei o espaço ocupado por livros no local restrito a crianças. Neste caso, a relação foi de 16 para um, ou seja, o espaço infantil é uma parte do total de 17 “estantes” da livraria. Para ser mais precisa, contei, manualmente, todos os títulos em uma das partes na estante do setor infantil. Por fim, multiplicando pelas demais, deduzi que ali se encontrava a quantidade aproximada de 600 títulos. Tanto a atendente quanto o proprietário declararam não saber o número de títulos disponíveis e ambos mencionaram estar desfalcado o acervo, em função das atividades fora da livraria (feiras do livro) que mobilizam parte considerável dos livros.

Primeira seleção

Organizei um espaço para separar (reservar para ler e descartar os que não leria). Nesta primeira escolha, 20 foram para a mesinha de café e 53 foram deixados na estante. Assim, percorri o olhar sobre 73 primeiros títulos. Me desloquei para a mesa e, diante dos 20 “separados para leitura”, fotografei todas as capas, li 18 e fotografei mais alguns detalhes dos que, entre eles, mais gostei. Dois desse grupo – Quem sou eu?, de Ana Maria Machado e O coelho, o escuro e a lata de biscoitos, de Nicola O’Byrne (Brinque-Book, 2021 – não pude ler: estavam envolvidos em papel filme e o proprietário não permitiu abrir.

Quatro destaques desta primeira seleção: Obrigado, de André Neves (Editora Pulo do Gato, 2021), Lua noite e dia, de André Neves (Paulinas, 2019), Pedro e Tina: uma amizade muito especial, de Stephen Michael King (Brinque-Book, 2015) e Diversidade, de Tatiana Belinky, editado pela Editora Quinteto, em 1999 e reeditado pela FTD, em 2015. Nesta obra, em versos que primam pela rima, a autora “argumenta” que não basta reconhecer diferenças nos aspectos físicos, comportamentais ou de personalidade. É preciso respeitá-las. Cor da pele, textura do cabelo, humor ou temperamento são fatores de diversidade e não tornam as pessoas melhores ou piores, mas diferentes, como todos os seres humanos, de acordo com Belinky (1999). Todos os quatro ficaram depositados na mesa, para a decisão final: adquirir?

Segunda seleção

Entre os 47 títulos observados nessa segunda investida no acervo, escolhi 10 e os demais 37 foram deixados na estante. Diante dos 10 “separados para leitura”, fotografei todas as capas, li todos e selecionei quatro: Vira lata, de Stephen Michael King (Brinque-Book, 2015); Ismael e Chopin, de Miguel Souza Tavares Companhia das Letrinhas, 2011); Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha (Companhia das Letras, 2002 e Salamandra, 2014) e Grandes mulheres que fizeram história, de Kate Pankhurst (Editora Vergara & Riba, 2018). Este último, destaca-se por abordar a igualdade de gênero, a presença e a importância de mulheres na história e o empreendedorismo feminino.

Terceira seleção:

Por fim, selecionei mais 7 entre 36 títulos, todos da mesma e parte da estante do setor infantil. Diante deles e sentada apreciando cada um, fotografei todos e alguns detalhes de alguns, como introdução e última capa, por exemplo e destaquei para ler de novo, ao fim, apenas um: Não me toca, seu boboca, de Andrea Viviana Taubman (Aletria, 2021). Não que outros não fossem interessantes, apenas não de adequavam a minha busca temática.


Fim da "visita"

Ao sair da Dom Quixote – eram 15 horas e trinta minutos de uma quarta-feira – eu me encontrava feliz da vida!

Tinha conseguido ler 37 livros.

Alguns integram minha biblioteca e, mesmo assim, os reli.

Nos meus braços, embalados na sacola com os dizeres “Juntos fazemos o moinho da vida girar. Aprecie sua leitura”, da Dom Quixote livraria & Cafeteria, dois títulos: Ismael e Chopin, de Miguel Souza Tavares e Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha.

O primeiro, adquiri por ser desconhecido. Ao ler uma parte, me apaixonei. Já estou lendo e, depois te conto tudo. O segundo, por motivos óbvios: trata dos direitos das crianças segundo uma grande autora de obras para a infância. Já possuía, mas comprei por ter sido publicado por outra Editora doze anos após a anterior.

Após entrar em contato com 156 títulos (26% ou quase um terço do acervo da livraria), tendo lido 37 destes (23,71%), consegui indicar nove livros a integrem minha lista de obras possíveis e adequadas a abordarem os direitos das crianças contidos no ECA. Considero que tenha sido uma excelente tarde de pesquisa!

Mais...

Para conhecer a Dom, clique em https://pt-br.facebook.com/dom.quixote.livraria.cafeteria/

Para saber mais sobre Obrigado, de André Neves clique em: https://ambrosia.com.br/infantil/obrigado-de-andre-neves-conta-em-poesia-a-infancia-de-grandes-poetas-brasileiros/

Nenhum comentário:

Postar um comentário