quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Uma tertúlia com Graça...

 

Graça na Tertúlia Literária

Imagem enviada por Mônica Correia Baptista


Desde 2009, o projeto Tertúlia Literária reúne leitores para discussões literárias e troca de experiências a partir da leitura de obras-primas, de acordo com o tema proposto. A infância, o amor, a viagem, o crime, a fofoca e os direitos humanos, e a maneira como aparecem na literatura, foram os temas abordados pelo projeto em edições anteriores.

Sobre o que falou Graça? 

Infância em Graciliano Ramos, segundo Mônica.

Deve ter sido uma delícia!

O que é a Tertúlia?

O Tertúlia Literária propõe a leitura de um livro por mês, selecionado a partir da temática. Durante as semanas os participantes poderão deixar comentários e obter informações sobre a obra discutida pelo site do projeto, disponível em: www.ceale.fae.ufmg.br/tertulia. Ao final de cada mês, ocorrem os encontros, mediados por um convidado, sempre na última sexta-feira do mês, no horário de 14 às 17 horas, na Sala de Leitura da Biblioteca da FaE.

O Tertúlia Literária é destinado, principalmente, a professores de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, bibliotecários e alunos dos cursos de Pedagogia, Ciência da Informação e Letras.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Gregos, romanos...

 


Eu tenho uma amiga.

Cujos pais eram semianalfabetos.

Da cidade, o que muda a perspectiva...

Ela ama ler. E quem a incentivou a ler, foi um faxineiro gay que ajudava em sua casa!

Até hoje, disse, tem uma atração muito grande por eles.

Os faxineiros? Perguntei...

– Os gays, Cristina! Por gays, em geral. Ele limpava a casa e contava histórias. Eu adorava! Acho sempre que eles são muito inteligentes! Engraçados e espirituosos!

Como ela sabe que sou fascinada por escrever, completou:

– Podes publicar. Não é segredo.

Então, resolvi perguntar mais: Que interessante: faxineiro familiar... Que tipo de histórias te contava? Ele contava ou lia?

Ela: – As duas coisas. Geralmente era história mesmo. Gregos, romanos...

Eu: – Nunca tinha ouvido falar de "faxineiro do lar". E lembras os livros? Eram dele? Tinhas os teus? Tu tinhas biblioteca?

Eu querendo saber tudo da leitura e a minha amiga lembrando, saudosa...

– Trabalhava com minha mãe e duas tias. Excelente! Quem era muito liberal e o trouxe, bem jovem, para trabalhar foi o meu tio...

Aí, decidiu me conceder atenção:

– Eu tinha livros, mas ele também tinha. Lia muito. Depois me contava.

E, sem mais nem menos, declarou.

– Ele foi assassinado quando eu tinha 14 anos.

– Assassinado? Eu... Nossa! Por ser gay?

– Sim. Horrível não?

Aí lembrei. Na juventude, também conheci uma figura assim. Culto. Gay. Assassinado.

Ela continuou:

– Ele, como todos os gays da época, eram muito discriminados...

E aí...

Aí, minha amiga derramou sua literatura.

Eu?

Eu adoro!

Leia...

– Ele tinha um desafeto, um tal “Sabiá”. Era um criminoso. E o Wilmar era muito forte e brigão. O cara o esfaqueou. Viste como eles têm histórias trágicas? Se os dois namoravam? Não sei. Eu, na época, nem tinha noção disso! Brincava com bonecas! Era jovem. Imagino que vinte e poucos, quando começou... Eu devia ter uns cinco. Seguia ele pela casa... E ele me cuidava e contava histórias, enquanto faxinava!

Só consegui pensar: Imagina: com nome de pássaro e assassino.

E depois:

– Que delicia devia ser seguir Wilmar pelos corredores da casa!

Atingida na alma e na cabeça...

 

Graça e o “gostar de poesia”...

Cristina Maria Rosa

"Comecei a gostar de poesia. O professor de português fizera um comentário terrível sobre um poeta, Carlos Drummond de Andrade, que tinha um poema reproduzido no nosso livro didático. Tinha ouvido dizer que o poeta gostava de meninas colegiais, da nossa idade. Não entendi direito a intenção do professor, mas fui direto aos livros de Drummond. De repente a poesia me chegava, me atingia a alma e a cabeça, e eu queria saber de cor os versos, queria guardá-los comigo pelo resto da vida. Decorei muitos, não só de Drummond, também de Fernando Pessoa, Manuel Bandeira e Cecília Meireles. Este era o meu quarteto preferido".

Referência: O texto de Graça – Minha vida no mundo da escrita – foi enviado por Micheline. Graça o produziu para um curso na UNB, organizado pela professora Hilda Lontra. Não foi publicado, mas integra um livreto distribuído a quem esteve no curso. Agradecida, Micheline!

A graça de um colégio com biblioteca...

Graça descobre a biblioteca do colégio...

Cristina Maria Rosa

 

"A partir da quarta série do ginásio tornei-me aluna do famoso Colégio Municipal de Belo Horizonte. O melhor é que o Colégio Municipal tinha uma biblioteca de verdade. Era um cômodo enorme, repleto de estantes sem vidros, abarrotadas de livros. Podíamos levá-los para casa, tal como nas bibliotecas normais da cidade. Passei a pegar no mínimo uns quatro livros por semana" (PAULINO: 2004, p.51). 

 


Referência: O texto de Graça – Minha vida no mundo da escrita – foi enviado por Micheline. Graça o produziu para um curso na UNB, organizado pela professora Hilda Lontra. Não foi publicado, mas integra um livreto distribuído a quem esteve no curso. Agradecida, Micheline!

Link para a primeira matéria sobre esses texto: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2020/09/eu-me-orgulhava-muito-do-bordado-lapis.html

terça-feira, 22 de setembro de 2020

De pessoas a personagens...



A graça que Graça via no triste...

Cristina Maria Rosa

Em “De pessoas a personagens”, subtítulo escolhido por Graça para indicar o que leu e gostou de ter lido desde a infância no texto “Minha vida no mundo da escrita”, ela indica seu especial apreço por “histórias tristes e sem final feliz”, como as de “Dostoiévski, de Faulkner, de Machado, de Clarice” (PAULINO, 2004, p. 50).

Biblioteca, finalmente...

 


A biblioteca liberada: Graça no 4º ano escolar

Cristina Maria Rosa

 

“Na quarta série, ao fim de muito choro, obtive de minha mãe a permissão para ir sozinha, de ônibus, ao centro de Belo Horizonte, onde se localizava a Biblioteca do SESC. Foi emocionante: eu tinha um registro pessoal, independente, e um cartão que me permitia levar para casa dois livros por vez, com uma semana de prazo para devolvê-los. Comecei, sei lá porquê, pela Coleção dos prêmios Nobel gostei de alguns, não de outros, que mal entendi. Depois passei por Mark Twain, Hemingway, Érico Veríssimo, Tolstoi.  Li Bertrand Russel e Michel Zévaco, li Krishnamurti e Faulkner.

 Uma pérola: Graça inventa o tempo...

“José Mauro de Vasconcelos não tinha ainda escrito Meu pé de laranja lima. Se tivesse, decerto o leria também”.

domingo, 20 de setembro de 2020

Uma eterna falta de livros...

 

A carne, enfim...

Cristina Maria Rosa

 

Trancados em estantes envidraçadas, ficavam ali, se exibindo para Graça.

Os livros...

A carne e os sermões, lado a lado.

Em 2004, Graça ri da vizinhança.

Quando leu, entendeu porque as freiras detestavam sua insistência em lê-los...

As palavras de Graça: 

 

Com uma bolsa de estudos no colégio de freiras, o ensino me parecia vagaroso. O pior não era isso, era a eterna falta de livros. A aula de biblioteca continuava a mesma do grupo. Os livros trancados em estantes envidraçadas, e a gente ouvindo, ouvindo. As irmãs. Vi que A carne, de Júlio Ribeiro, estava lá, ao lado dos Sermões do Padre Vieira. Consegui-a na biblioteca pública e intuí o motivo do veto: raciocinava de modo brilhante o tempo inteiro... 

E em silêncio indaguei: porque não era um livro?



Um livrinho lindo: o primeiro...

Cristina Maria Rosa

 

O fato é que a escola de meus primeiros anos fez bem pouco para alimentar meu prazer de leitora. Apenas a professora da terceira série, no grupo escolar, me dera de presente um livro, o primeiro livro que ganhei na vida, da a professora da terceira série. Era um livrinho no sentido exato do termo, pois pertencia à Coleção Formiguinha, de uma editora de Portugal. Ela presenteou a todos os seus alunos, mas, particularmente a mim, com esse livrinho lindo. Na contracapa, a dedicatória que, se esqueci, recrio: Para minha querida aluna Maria das Graças, com o abraço de sua Professora Leny. Senti-me muito importante. Os dois corcundinhas, viviam outrora, bem longe das gentes...

No fim do curso primário, ganhei um prêmio pelo primeiro lugar geral. A diretora me abraçou e me entregou de presente uma caneta tinteiro. E em silêncio indaguei: porque não era um livro?

O primeiro livro

Pesquisando sobre este livro – o primeiro na vida de Graça – encontrei a  coleção completa na Editora Majora (http://www.majora.pt/), em Portugal. Lá, está escrito:

 

Bem-vindos à Majora! A marca que fez as delícias da infância de muitas gerações de portugueses está de volta com o objetivo de voltar a reunir famílias e aproximar gerações: pais com filhos, irmãos com irmãos, avós com netos e amigos com amigos. A nossa missão, é fazer as crianças felizes, promover as relações humanas e incentivar que o tempo livre das crianças é passado a brincar, a criar e a imaginar. A Majora produz jogos de qualidade que passam de geração em geração porque queremos construir algo que perdure no futuro e que continue a inspirar todos os seres humanos nas várias etapas do seu desenvolvimento. Porque brincar não tem idade. Está na altura de levantar os olhos do ecrã e brincar, também, olhos nos olhos. Pais com filhos, irmãos com irmãos, amigos com amigos, velhos com novos, novos com novos, todos juntos, no mesmo espaço, no mesmo tempo, unidos por uma marca que renova um convite a todas as infâncias. 

 

Bônus

A Coleção Formiguinha é composta de 60 títulos, entre eles, Os Dois Corcundinhas, citados por Graça. Os demais títulos são: A Menina dos cabelos de oiro; A menina e a figueira, A menina e o coelhinho branco, A menina e o dragão, A menina muda, A menina vestida de estrelas, a noiva do príncipe sério, a pata real, a princesa da ervilha, A rainha de coração de pedra, A riqueza e a fortuna, A vara seca, As caras trocadas, As três irmãs e o corvo, As três maçãzinhas de oiro, As três mentiras da avozinha, Aventuras de um frango pedrês, Bela-feia e feia-bela, Bonifácio e as suas ambições, Canta, surrão!, Gulliver ou o homem migalha, Gulliver ou o homem montanha, João adivinhão, João e a gata princesa, Maria da silva, O coraçãozinho de chumbo, O gigante egoísta, O gigante sôfrego e o anão comedido, O lobo e a escada, O menino grão de milho, O papagaio do capitão corneta, O peixinho encantado, O pescador e a sereiazinha, O pinheirinho, O poço encantado o porqueiro ladino, O príncipe com orelhas de burro, O príncipe do mar, O príncipe e a andorinha, O príncipe envergonhado, O rapaz do anel, O rapaz do cavalinho branco, O rei e os sabichões, O rouxinol e o imperador, O sapateiro e o brilhante, O sonho do jovem rei, O tesouro do ceguinho, O trajo novo do rei, O velho querecas, Os dez anõezinhos, Os fósforos de oiro, Os meninos abandonados, Os sapatinhos vermelhos, Os sete encantados, Os três anõezinhos da floresta, Os três cães encantados, Os três irmãos e os três pretos, Os três vestidos e Um valentão.

Referência: O texto de Graça foi enviado por Micheline. Agradecida!

Uma Graça de menina...

 

Os dois primeiros anos de Graça na escola...

Cristina Maria Rosa


"Nasci sem biblioteca, e, aos sete anos, imaginava rapidamente aprender a ler e começar a ter acesso aos livros. Engano bobo: os livros seriam mais difíceis do que eu pensava. Apenas grandes cartazes exibiam para nós a história de Lili. Ah, o livro, esse primeiro e preciosíssimo livro... apenas alguns puderam comprá-lo, e eu não estava entre estes. Dona Julieta, uma santa professora, apesar de muito brava, chegava com as fichas de cartolina manuscritas, todos os dias. Eu achava as historinhas da Lili simplesmente o máximo: Olhem para mim. Eu me chamo Lili. Eu comi muito doce. Vocês gostam de doce? Eu gosto tanto de doce! Se íamos à biblioteca, o que acontecia muito raramente, uma velha e casmurra professora lia para nós em voz alta os preciosos textos, em livros – preciosíssimos livros – que não podíamos tocar. Distantes, eu os desejava cada vez mais, enlouquecia de vontade de ter especialmente um deles, que contava coisas extraordinárias: As mais belas histórias, de Lúcia Casassanta. Era uma antologia de contos infantis do mundo inteiro, narrados com leveza, rapidez e técnica narrativa quase impecável. A biblioteca tinha esse livro, Dona Julieta tinha esse livro, dois colegas ricos tinham esse livro. Mais ninguém. Deviam ser mesmo muito caros os livros em 1955. Assim, virgem de livros, passei os dois primeiros anos da escola. Aqueles dois colegas ricos, muito ricos, milionários, pois éramos todos muito pobres, compraram, no segundo ano, um livro de Ciências e outro de Geografia (PAULINO, 2004, p.50).


Bônus: O texto de Graça foi enviado por Micheline. Agradecida!

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Cercada de livros por todos os lados...

Graça e os romances de “capa e espada”.


Cristina Maria Rosa

 

O que leu Graça Paulino antes de ingressar na Faculdade de Letras? O que conta desse tempo? Antes de ingressar, com seu repertório de textos, na Faculdade de Letras, o que imaginava?

Por ter dado “início bem cedo à tarefa gratíssima de circular sem medo pelos labirintos das páginas impressas” e “cercada de livros por todos os lados”, o que revela Graça Paulino (2004) em “Minha vida no mundo da escrita”?

Na adolescência, capa e espada!

Michel Zevaco, o primeiro autor citado como lido por Graça depois da cartilha O livro de Lili, de Anita Fonseca e As mais belas histórias, de Lúcia Casasanta, foi um sujeito que, se Graça conhecesse, com certeza, se tornaria amiga. Escritor, romancista, anarquista, professor, jornalista, editor e diretor de cinema francês, Michel Zevaco escreveu e publicou muitos romances de “capa e espada”. Graça assim o cita, em suas memórias:

 

Minha mãe foi quem se empenhou no meu sucesso no mundo da escrita de modo mais insistente. [...] fazia parte do projeto de vida dela. Por ela frequentei a escola, e graças a ela pude ler em paz Michel Zevaco. Sim, Michel Zevaco, embora fosse autor de capa e espada, adquiria a seriedade de um autor científico, pois, ao me ver lendo, sem saber de que se tratava, minha mãe sempre dizia: vamos deixar a Graça em paz. Está estudando. Precisa estudar: Gosta de estudar (PAULINO, 2004, p. 45).

 

 

E o que escreveu Michel Zevaco?

"Les Pardaillan" começou a ser publicado em episódios em jornais em 1900 e, imediatamente, foi um grande sucesso popular na França. No Brasil, O Fanfarrão, é considerado um de seus melhores livros. Mas há outros, muitos outros...

Outra memória

Pesquisando leitores de mesmo autor, encontrei Eduardo Chaves (https://chaves.space/), que, no início dos anos 50, com a família, migrou do interior – Maringá, PR – para São Paulo. Decididos a permanecer, em Santo André, o então menino Eduardo encontrou bancas de jornal com também revistas e livros. Ele descreve o momento:

 

Para quem só havia morado, até aquele momento, em cidade de ruas de terra, em casa de madeira, sem água corrente, sem eletricidade, sem chuveiro, só tomando banho de bacia, e com privada no fundo do quintal, Santo André da Borda do Campo era um deslumbre. [...] Tudo era novidade. Uma das novidades principais para mim é que em Santo André havia livrarias e bancas e jornal [...].,

 

Eduardo Chaves menciona, em Eu, meu pai e Les Pardaillan (https://chaves.space/2019/08/25/eu-meu-pai-e-les-pardaillan/comment-page-1/), a chegada a sua casa dos romances históricos de Zévaco. Leia:

 

Logo meu pai começou trazer uns livros para casa da série “Os Pardaillan”, de autoria do escritor francês do início do século, Michel Zévaco. Eram dez romances históricos ao todo — e me parece que foram publicados naquela época, aqui no Brasil, um por mês, quase em série. Meu pai os devorava, minha mãe os lia religiosamente, e, naturalmente, esse fato me despertou a curiosidade: fiz o mesmo, comecei a lê-los e não parei mais. Eu tinha de 8 para 9 anos, mas lia com fluência desde os cinco [...]. Fiquei fascinado [...].

 

Bônus

No relato de Eduardo Chaves há um bônus. Em 1988, na “Livraria Francesa, da Barão de Itapetininga”, encontrou e comprou a Collection Bouquins: a série completa dos Pardaillan, no original. O bônus? Segundo diz a Introdução dos livros na Collection Bouquins, Jean-Paul Sartre era fã incondicional dos Pardaillan.

Graça e o perfil da produção premiada na FNLIJ


Graça e o perfil da produção premiada na FNLIJ

Cristina Maria Rosa

 

Na reunião do GPELL ocorrida sexta, dia 18 de setembro, Florence Barbosa Gomes Santos mencionou o “nascimento” da ficha, via formulário eletrônico, que apoiava o GPELL/UFMG na avaliação de obras destinadas a politicas públicas de leitura no Brasil.

Capitaneada pela FNLIJ – Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, os premiados passavam por vários critérios, sempre uma demanda intelectual muito forte ao GPELL, desde as primeiras décadas do século XX[1]. Leia parte do relato:

 

Eu conheci graça faltando um ano para a formatura em Letras. No mural, vaga para bolsista do LIED. Eu muito frustrada com a Faculdade de Letras, pela falta de conexão da teoria com a prática, procurei a Graça pensando nessa vaga. Graça era prática: – Olha, você pode desistir. Acabou de sair daqui de minha sala uma pessoa que se formou em jornalismo, depois em Letras. Ela vai me ajudar muito, já ocupou a vaga. Pode desistir. Seis meses depois, Graça ligou e disse: – Olha, eu gostei muito de você e não fiquei com você porque fiquei com a jornalista. Venha que tem uma vaga para você. É uma bolsa de iniciação científica no GPELL. Quando cheguei para trabalhar, ela me explicou. É um relato da Graça: “Em 2005, ela perguntou ao grupo: Já que estamos lendo e avaliando esses materiais da FNLIJ, por que não afirmamos que estamos estudando e abrimos uma pesquisa sobre esse material? Qual o perfil da produção literária das crianças e jovens?”. As fichas ainda não estavam sistematizadas. A ficha inicial, em meu trabalho de bolsista, foi inserir em planilhas do Excel. De 2007 a 2009, coloquei no Excel. Eu trabalhava no gabinete, digitando e salvando os dados. Transformava em gráficos para fazer um estudo dos livros premiados. Chegavam as fichas por debaixo da porta. As pessoas passavam as fichas preenchidas por debaixo da porta. Eu pensava: “Alguém vai pisar na ficha!”, “Segunda eu vou pisar na ficha!”. Essa foi a motivação para transformar a ficha em uma ficha eletrônica.

A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil envia, para a UFMG, que os guarda em arquivo desde então, todos os exemplares para a seleção. São milhares de livros que as editoras inscrevem. Eles são lidos, avaliados, catalogados e, por fim, um pequeno grupo é premiado.

Estes livros integram um acervo precioso, sob guarda do GPELL, na Biblioteca da FaE. Em 2010, quando de minha estada na UFMG para o Pós-Doutorado, tive o privilégio de conhecer e ministrar uma aula lá, para as colegas de Disciplina sob orientação de Graça Paulino. Foi emocionante!

Sobre a história da feitura da ficha de avaliação, leia mais um trecho do depoimento de Florence:

 

Falei: – Graça: vamos transformar a ficha em eletrônica? “Decisão de grupo”, disse a Graça. “Você vai levar e o grupo vai votar”. A ficha foi criada no google docs excel. Ela permitia salvar os elementos e gerava uma planilha final, com detalhes que a ficha abrangia. Qual a vantagem? Possibilitava cópia mensal. Ao final de um semestre, um gráfico era gerado automaticamente, para cada item da ficha. O grupo se debruçava sobre dados extraídos dali. A ficha era para, depois de avaliado, analisar e entender o perfil dessa produção premiada. Graça tinha essa intenção!



[1] Em 2005, iniciou o uso de fichas de avaliação. Era manual e nela havia 29 campos de preenchimento. Em 2010, passou a uma planilha do Google docs, com 37 campos e em 2018, passou a ser alimentada em uma planilha do Google Drive e nela há 70 campos para dados.