sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Cercada de livros por todos os lados...

Graça e os romances de “capa e espada”.


Cristina Maria Rosa

 

O que leu Graça Paulino antes de ingressar na Faculdade de Letras? O que conta desse tempo? Antes de ingressar, com seu repertório de textos, na Faculdade de Letras, o que imaginava?

Por ter dado “início bem cedo à tarefa gratíssima de circular sem medo pelos labirintos das páginas impressas” e “cercada de livros por todos os lados”, o que revela Graça Paulino (2004) em “Minha vida no mundo da escrita”?

Na adolescência, capa e espada!

Michel Zevaco, o primeiro autor citado como lido por Graça depois da cartilha O livro de Lili, de Anita Fonseca e As mais belas histórias, de Lúcia Casasanta, foi um sujeito que, se Graça conhecesse, com certeza, se tornaria amiga. Escritor, romancista, anarquista, professor, jornalista, editor e diretor de cinema francês, Michel Zevaco escreveu e publicou muitos romances de “capa e espada”. Graça assim o cita, em suas memórias:

 

Minha mãe foi quem se empenhou no meu sucesso no mundo da escrita de modo mais insistente. [...] fazia parte do projeto de vida dela. Por ela frequentei a escola, e graças a ela pude ler em paz Michel Zevaco. Sim, Michel Zevaco, embora fosse autor de capa e espada, adquiria a seriedade de um autor científico, pois, ao me ver lendo, sem saber de que se tratava, minha mãe sempre dizia: vamos deixar a Graça em paz. Está estudando. Precisa estudar: Gosta de estudar (PAULINO, 2004, p. 45).

 

 

E o que escreveu Michel Zevaco?

"Les Pardaillan" começou a ser publicado em episódios em jornais em 1900 e, imediatamente, foi um grande sucesso popular na França. No Brasil, O Fanfarrão, é considerado um de seus melhores livros. Mas há outros, muitos outros...

Outra memória

Pesquisando leitores de mesmo autor, encontrei Eduardo Chaves (https://chaves.space/), que, no início dos anos 50, com a família, migrou do interior – Maringá, PR – para São Paulo. Decididos a permanecer, em Santo André, o então menino Eduardo encontrou bancas de jornal com também revistas e livros. Ele descreve o momento:

 

Para quem só havia morado, até aquele momento, em cidade de ruas de terra, em casa de madeira, sem água corrente, sem eletricidade, sem chuveiro, só tomando banho de bacia, e com privada no fundo do quintal, Santo André da Borda do Campo era um deslumbre. [...] Tudo era novidade. Uma das novidades principais para mim é que em Santo André havia livrarias e bancas e jornal [...].,

 

Eduardo Chaves menciona, em Eu, meu pai e Les Pardaillan (https://chaves.space/2019/08/25/eu-meu-pai-e-les-pardaillan/comment-page-1/), a chegada a sua casa dos romances históricos de Zévaco. Leia:

 

Logo meu pai começou trazer uns livros para casa da série “Os Pardaillan”, de autoria do escritor francês do início do século, Michel Zévaco. Eram dez romances históricos ao todo — e me parece que foram publicados naquela época, aqui no Brasil, um por mês, quase em série. Meu pai os devorava, minha mãe os lia religiosamente, e, naturalmente, esse fato me despertou a curiosidade: fiz o mesmo, comecei a lê-los e não parei mais. Eu tinha de 8 para 9 anos, mas lia com fluência desde os cinco [...]. Fiquei fascinado [...].

 

Bônus

No relato de Eduardo Chaves há um bônus. Em 1988, na “Livraria Francesa, da Barão de Itapetininga”, encontrou e comprou a Collection Bouquins: a série completa dos Pardaillan, no original. O bônus? Segundo diz a Introdução dos livros na Collection Bouquins, Jean-Paul Sartre era fã incondicional dos Pardaillan.

Nenhum comentário:

Postar um comentário