quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

As personagens e a leitura literária

 


Bruxas, fadas, princesas, maluquinhos: personagens e a leitura literária.

Cristina Maria Rosa

 

 

Crianças são hábeis no trato com a imaginação.

E a imaginação...

Não tem limite!

Não as subestimemos!

O que ler para nossas crianças? Quando ler? Como ler?

Crianças bem pequenas estão ávidas por conhecer o nosso mundo. Aquele que nos importa. Aquele que valorizamos. E é por isso que serão atentos ao que faremos...

E é por isso que nossas atitudes importam.

E é por isso que vão acreditar quando apresentarmos a elas o misterioso mundo dos personagens que habitam páginas e mais páginas de interessantes livros.

Através da nossa voz, vão conhecer suas vozes.

Através de nosso silêncio, vão experimentar o medo.

 Já pensou no tom da voz do Lobo, quando encontra Chapeuzinho Vermelho na floresta? Eu já experimentei e te confesso: não é fácil imitar alguém que pretende enganar, seduzir, corromper. Mas tente, e o personagem vai obter credibilidade na hora!

Crianças amam nos ouvir lendo. Experencie ler para elas algo que tu amas, e elas amarão ler.

Por te admirar, para te agradar, para merecer teu olhar e afeição, vão aprender a amar o que tu, pai e mãe, admiram, respeitam, amam.

Como começar

Se for criança bem pequena, comece pelo melhor: colo, horário (antes de dormir é o ideal), frequência (se der, todos os dias). E pelos melhores autores e livros. Indico a Coleção Miolo Mole, de Eva Furnari. É o melhor, para os pequenos.  E O tesouro das cantigas para crianças, organizado pela Ana Maria Machado.

Se for criança que já fala, sente pertinho, antes de dormir, todos os dias e leia poemas, muitos poemas. Mas podes ler quadrinhas, trava-línguas, adivinhas, fábulas. Elas amam. Dica? A antologia Poemas que escolhi para as crianças e Canções, parlendas, quadrinhas, para crianças novinhas, de Ruth Rocha. Imperdível, também, Ou isto ou Aquilo, de Cecília Meireles.

Crianças entre quatro e seis anos podem ouvir histórias. E há muitas, para essa idade. Indico os contos de fadas. Originais. Há dois exemplares imperdíveis: um organizado pela Ana Maria Machado e os contos dos irmãos Grimm. Eu já li para crianças pequenas e quando leres, vais te surpreender!

Crianças entre os seis e os nove anos, mesmo que alfabetizadas, precisam continuar a ouvir narrativas e poemas lidos por ti. Podes diminuir a intensidade. Exemplo: em vez de todos os dias, leia dois ou três. Invista em autores jovens no mercado “para crianças” como Mario Corso e sua incrível A história mais triste do mundo, Fabrício Carpinejar e sua Lulu e Eva Furnari e seu Felpo Filva.

Mas não deixe de conhecer As aventuras do avião vermelho, A vida do Elefante Basílio, O urso com música na barriga, Os três porquinhos pobres, Outra vez os três porquinhos e Rosa Maria no castelo encantado, todos de Erico Verissimo. Foram escritos nos anos 30 do século XX e inauguraram a literatura infantil gaúcha!

Crianças entre nove e onze anos precisam de aventuras mais intensas e muitas páginas, para nunca mais deixar de gostar de ler. Temos autores nacionais, entre eles Monteiro Lobato e Ana Maria Machado, da qual recomendo especialmente Bisa Bia Bisa Bel e Bem do seu tamanho. Uma série que meu filho nessa idade leu e que é imperdível é Desventuras em Série. Treze exemplares maravilhosos que “prendem” o leitor e o convidam para outros voos.

Lembre que personagens são links que encontramos para nos comunicar de imediato com as crianças. E elas, as crianças, tem especial apreço pelo lúdico que nas personagens habita. Pois...

Em cada personagem existe um mundo repleto de imagens, emoções, enigmas, sentimentos, roteiros, intrigas, desafios, desfechos...

É isso!

Tenho muitas outras sugestões e podemos conversar outra hora.

Abraço!

domingo, 6 de dezembro de 2020

Uma infância para o século XXI

 

Clarissa, nove meses.
Ainda não sabe falar nem ler.
Já sabe onde estão os livros..
.

A criança que quero leitora

Cristina Maria Rosa

 

Tenho alunas e alunos.

Tenho, por consequência, ex-alunos. Muitos. Fiz uma conta simples, um dia desses. Em torno de seis mil, a maioria mulheres que, em algum momento de suas vidas, se encontraram comigo para aprender a amar a literatura.

Uma delas, de uns tempos para cá, decidiu que seus estudos estavam parcos. Que sua formação em Pedagogia, precisava ser potencializada.

Escreveu-me.

Não uma carta, que não somos mais disso.

Escreveu-me perguntas.

E eu, Pedagoga que sou, ponderei.

Quem leria essa resposta? Quem a tomaria como verdade? Quem a encararia com seriedade? Quem eventualmente discordaria dela?

Depois, irresistivelmente, me arrisquei.

Respondi.

Sim, respondi.

E a Pedagoga novata e atuante na escola, nunca mais parou de perguntar. E eu, de responder...

A pergunta

Não lembro mais a primeira pergunta e nem quando ocorreu. Sei a última, e é dela que me ocupo.

É uma pergunta que requer uma resposta.

E, sei, todos os enigmas se transformam em novos e mais elaborados questionamentos.

Tem sido assim, com minha ex-aluna: uma pergunta que leva à outra.

Esta, no entanto, a última, me moveu a...

Mais que responder a ela, pensar e pensar.

E redigir esse pequeno texto.

Historieta

No dia 27/11/2020, às 14 horas, a professora Pâmela escreveu:

 

Boa tarde. Estava eu aqui, mais uma vez procurando um escrito sobre a infância. Como me orientaste a descobrir, também, qual criança é esta que eu quero formar leitor, que criança é essa, que infância é essa, estou me deparando com diversas fontes e perspectivas. Como nunca me arrependo de te pedir orientações, mais uma vez estou aqui para te perguntar, a qual fontes recorre, ou: para ti que crianças são estas que tu queres que sejam leitoras? O que é a infância e a criança para ti?

 

Perceberam a simplicidade e, ao mesmo tempo, a complexidade da pergunta?

Ontem, observando o novo livro de Magda Soares – Alfaletrar – e a frase que complementa o título – toda criança pode aprender a ler e escrever – imaginei que sim, minha aluna merece um refletir conceituado. Se Magda precisa afirmar que toda criança pode, é possível que alguns pensem que nem todas podem...

Como respondi

Iniciei assim minha resposta:

 

Quando eu era criança, a infância era a que eu tinha. Ou seja, não era um conceito e, sim, uma vivência, uma experiência. Era pessoal. Sim, eu percebia que havia outras (mais ricas, mais pobres, mais livres, menos afetuosas). Imaginava que era "por causa dos pais". Pais ricos, infância rica. Quando cursei Pedagogia, teoricamente, aprendi que não há infância e, sim, infâncias. Na escola, percebi que há infância. Ou seja, há um abismo entre o que eu percebo nas teses sobre a infância e o que ocorre nas práticas escolares frente à ou às crianças. Então, inventei uma criança ideal e uma infância ideal. Para educar, via escola, pois, a única coisa comum, para as crianças brasileiras é ter que ir à escola...

 

Lendo, vejo que as lacunas que deixei não foram só a possibilidade de pensar e concluir, de minha aluna. Escrevi e, ao reler, me deparo com a essência do meu texto.

Contradição.

Vero.

Há contradição – saudável, necessária, instigante – fundada na contradição que percebo.

Um discurso muito plural, até avançado – sobre a infância – e uma docência arraigada nas crianças que antecedem Emília, de Lobato (1920), Fernando, de Verissimo (1936), Lili, de Quintana (1948). Uma “chuvarada” de metade primeira do Século XX!

Eu, como gosto de primavera, me decidi: vou reformular a resposta. Vou aprofundá-la.

Pâmela não perdeu a oportunidade: se criei uma criança, se inventei uma infância, logo quis saber:

– Qual é a sua criança ideal?

E logo em seguida: “Tu tens alguma perspectiva favorita sobre como as crianças aprendem? Vygotsky, Piaget...?”.

E, foi aí que surgiu essa escrita.

Uma criança para o século XXI?

A criança inventada por mim, a que sonho educar, é oriunda de uma tríade: é um exemplar da espécie, é herdeira legítima da cultura e não é boa nem má.

Desembaralhando...

Exemplar da espécie

Animais parcialmente inteligentes, nós, humanos não sobrevivemos sozinhos. Somos dependentes, precisamos de grupos para aprender a comer, andar, falar.

Comparados com outras espécies na mesma idade geracional, nosso exemplar infante não sobrevive facilmente.

Como animais que somos e por possuir um tipo restrito de inteligência, nos apartamos da origem – a natureza – e estamos apagando os passos deixados.

Na modernidade, conhecemos parte de nossa psique e, por isso, somos mais suscetíveis à opinião, favorável ou não, a nosso respeito. Adoecemos sem emoção, elogio, aprovação.

Para este argumento, utilizo-me da leitura que fiz de Sapiens: uma breve história da humanidade, de Yuval Harari. Na obra, uma instigante prestação de contas com nossos esquecimentos. Não deixe de ler.

Uma criança nada mais é do que um exemplar da espécie. Precisa de cuidados, receptividade, orientação, liberdade, credibilidade, responsabilidade.

Criança: uma herdeira legítima da cultura

Herdeiros são os nossos com o nosso melhor e o nosso pior. A cultura – quase que um agrupamento de siglas para conseguir definir – tem sido coloquialmente entendida como os resultados do que produzimos na história como civilização. Mesmo que seja uma queimada, mesmo que seja um desastre projetado por uma mineradora, mesmo que seja um holocausto.

A cultura escrita, que é do que se trata aqui, é tudo o que produzimos que nos encanta e representa: a música, a poesia e a literatura, por exemplo – que palavrão, também inventado por nós ninguém gosta de mencionar como cultura.

Herdeiros são aqueles que aprendem com a espécie e, se obtêm bons resultados, dizemos que aprenderam. Se, no entanto, “se perdem”, encontramos algum parente sanguíneo do qual não gostamos para dizer que nosso rebento “puxou” a ele. Más influências – amigos, um adulto falcatrua ou mesmo uma situação traumática, são insistentemente responsabilizados pelo desvio de rota.

Mas o que quero dizer com “herdeira legítima da cultura”?

Nenhum adulto de bom senso abre mão do melhor para os seus. E como sociedade, temos como dever ofertar o nosso melhor para todos. Todas as crianças que ingressam na escola são legítimas herdeiras da leitura e da escrita. E, de bons livros, bons métodos, bons resultados. Filmes, músicas, equações, localizações e todos os outros componentes do que é relevante na escola e para além dela.

 O saber produzido por todos, em relação, é de todos. É um princípio público – de sobrevivência. Do saber, das instâncias que o tornam conhecido, da sociedade e, em derradeira análise, da espécie.

Uma criança nada mais é do que uma herdeira legítimo da cultura: têm direitos e não precisa mendigar para recebê-los; tem deveres e precisa ser informada acerca deles. É capaz e precisa saber e realizar suas faculdades.

Crianças são boas ou más?

Na obra O que nos faz bons ou maus, Paul Bloom, oferece uma perspectiva sobre nossas vidas morais: para ele, os seres humanos já vêm ao mundo com uma noção de moralidade e exemplifica com pesquisas em que, antes mesmo de poderem falar ou andar, bebês julgam a bondade e a maldade das ações dos outros, sentem empatia e compaixão, agem para acalmar os que estão angustiados, e têm um senso rudimentar de justiça.

Para agrupar esse argumento a meu conceito de infância, li O que nos faz bons ou maus, de Paul Blomm (204). Nele, como epígrafe, Blomm recorre a Thomas Jefferson (1787):

 

O destino do homem é viver em sociedade. Sua moralidade, portanto, teve de ser moldada e este objetivo. Sua percepção inata de certo e errado está exclusivamente relacionada a isso. Este sentido faz parte de sua natureza tanto quanto os sentidos da audição, da visão e do tato [...]. (Thomas Jefferson, 1787 in: Blomm, Paul- Epígrafe).

 

 

E Blomm afirma: “a moralidade nos fascina”. Como argumento, ilustra:

 

As histórias de que mais gostamos, seja de ficção [...] ou reais, são contos sobre o bem e o mal. Queremos que os mocinhos sejam recompensados e queremos, realmente, que os bandidos sofram (Paul Blomm, 2014).

 

Uma criança nada mais é do que um exemplar da espécie, herdeira legítima da cultura e livre para escolher se quer ser “boa” ou “má”, se vai ser solidária ou indiferente, magnânima ou vingativa, justa ou...

Tu sabes.

A criança que inventei...

Herdeira do bem e do mal, sábia e ignorante, a criança que está nascendo no século XXI é um exemplar da espécie humana, um “homo sapiens”.

É, também, uma herdeira legítima da cultura, tem direitos instituídos, não deve precisar brigar para aprender...

E...

Não é boa nem má. Mas, sim, pode aprender a “moralidade” que, como espécie, é fundamental para a vida em sociedade.

Neste tempo.

Neste planeta.

Lembrei-me de Ruth Rocha em Azul e lindo planeta terra nossa casa.

Nele, a escritora que se dedica à infância desde muito tempo, recomenda cuidar do planeta, pois, diferentemente da casa onde moramos, aquele que tem endereço e CEP, podemos nos mudar. 

Do planeta, ainda não!

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Repertório literário de estudantes de Pedagogia em 2020

 

Repertório literário de estudantes de Pedagogia

Cristina Maria Rosa

 

Quais narrativas, lendas, contos e poemas leram os estudantes recém-chegados à Universidade? Quais gêneros literários integram o repertório de estudantes de Pedagogia?

Matriculados em Teoria e Prática Pedagógica I, uma disciplina que dá início ao estudo de temas que são a “coluna vertebral” da licenciatura, a tarefa foi sugerida pela docente e entregue pelos estudantes no dia 12 de novembro.

Conheça o repertório de parte dos estudantes, lendo a lista a seguir, organizada em ordem alfabética. Ao lado do título, quantas vezes foi mencionado.

Repertório literário: o que é isso?

Repertório é um grupo de informações literárias pessoal, único, formado ao longo do tempo em que herdamos, produzimos e utilizamos informações, emoções, memórias, palavras, inventos. É diferente de acervo, embora tenha algumas semelhanças...

Repertório é o grupo de emoções e informações literárias que acumulamos ao longo da vida e que dão sentido ao que chamamos “literatura em minha vida”.

No dicionário, repertório significa “conjunto, índice, aglomerado, coletânea, compilação, coleção, grupo de saberes sobre algo”. Mas também, “conjunto de experiências de vida que cada um de nós possui”. No caso de repertório literário, é o conjunto de experiências literárias que temos e consideramos importantes, imprescindíveis para o letramento.

Assim, desde o primeiro contato com o livro e seu significado até a escolha por gêneros e autores prediletos há um longo processo de alimentação do que se conhece por repertório. Ele é infinito, nem sempre passível de ser descrito, mas reverbera em nossa vida para sempre. Importante antes, durante e posteriormente à escola.

Bônus

Leia mais sobre o tema Acervo X Repertório em: http://crisalfabetoaparte.blogspot.com/2017/06/repertorio-e-acervo-indispensaveis.html

O repertório dos estudantes em novembro de 2020

Indicados como “livros que lembro ter lido na infância”, “minha lista de livros” ou “livros que eu li”, a tarefa foi muito bem realizada. Um dos estudantes destacou nunca ter sido “um bom leitor”. Apesar disso, listou os livros que lembrou “ter lido ou ouvido a história”. E uma das futuras professoras declarou: “Cada história literária que conheço, por mais que não seja a quantidade que gostaria (queria ter lido muito mais), é de extrema importância para a minha vida”.

Ao apresentar sua lista, uma estudante escreveu: “livros infantis que li para mim e, posteriormente, para minha filha quando pequena”. Esta declaração indica que um repertório pode ser uma herança cultural, passando de geração em geração.

Listo a seguir, “os livros de literatura infantil” ou outros, não infantis, que integram o repertório literário de meus alunos na Disciplina TPP I, da Licenciatura me Pedagogia no 1º semestre de 2020.

A arca de Noé, A barraca do beijo, A bela adormecida (3), A bela e a fera (5), A Cabana, A Cigarra e a Formiga, A culpa é das estrelas (3), A história de uma bicicleta, A menina dos fósforos, A menina que roubava livros (2), A Moreninha, A pequena sereia (3), A princesa e a ervilha, A princesa e o sapo, A raposa e as uvas, Acertando minhas finanças, Ainda sou eu, Anne da ilha, Anne de avonlea, Anne de Green gables, As 4 vidas de 1 cachorro e As mulheres nazistas. Na letra “A” ainda apareceu: A 5 passos de você. E Iniciando com número o título “500 dias sem você”.

Iniciando com a letra “B” foram citados: Bambi, Branca de Neve (4), Branca de Neve e os sete anões (4) e Btk máscara da maldade. Com a letra “C”, Cachinhos Dourados (2), Casa de pensão, Chapeuzinho vermelho (7), Cidades de Papel, Cinderela (8), Coleção Feras Futebol Club e Como eu era antes de você (3).

Títulos com a letra “D” foram: De repente Ana, Depois de você; Diário de um adolescente hipocondríaco, Diário de um mago, Dom Casmurro, Dom Quixote e Dumbo. Extraordinário, H. H. Holmes, o maligno e Iracema representaram títulos iniciados pelas letras “E”, “H” e “I”. Na letra “J”, mencionados foram: João e Maria (2), João e o pé de feijão (2). Marcelo, marmelo, martelo, Menina bonita do laço de fita e Meninos sem pátria representaram as lembranças iniciadas com a letra “M

Os títulos iniciados pela letra “N” foram: Na beira do rio Piedra eu sentei e chorei, Não olhe para trás, Não se apega não, Não se iluda e Negrinha.

Iniciados com a letra “O” estão nesta lista – que representa o repertório de licenciandos em Pedagogia os seguintes títulos: O alquimista, O amor venceu, O cortiço, O diário de Anne Frank (2), O gato de botas, O homem do saco, O jogo perfeito, O Mágico de Oz (3), O menino do pijama listrado, O menino maluquinho (3), O meu pé de laranja lima, O patinho feio (6), O pequeno príncipe (2), O som do amor, O tempo e o vento, Orgulho e preconceito e Os três porquinhos (9).

Quando o titulo lembrado e/ou lido inicia com a  letra “P”, apareceram: Peter Pan (2), Piano vermelho, Pinóquio (8), Português ou brasileiro?. E, com a letra “Q”, os seguintes: Quando o passado não passa, Quatro vidas de um cachorro, Quem é você Alaska? (3) e Querido John.

Iniciados pelas letras “R”, “S”, “T”, “U” e “V” os títulos foram: Rapunzel (8), Se abrindo para a vida, Sherlock Holmes, Simplesmente Ana, Skull a caveira de cristal, Tenha Sucesso Sendo Você Mesmo, Tudo e todas as coisas, Um capeta na vila da fumaça, Um mais um, Um porto seguro e Vale do arco-íris.

Livros e seus autores...

Entre o grupo de memórias que integram o repertório de meus alunos, alguns livros foram citados acompanhados de seus autores. São eles: A culpa das estrelas, de John Green, A mulher que matou os peixes, de Clarice Lispector, A parte que falta, de Shel Silverstein, Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque; Diana, de Andrew Norton, Dom Casmurro, de Machado de Assis, Enola Holmes, de Nancy Springer, Extraordinário, de R.J. Palacio, Na minha pele, de Lázaro Ramos, O menino do pijama listrado, de John Boyne, O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, O tempo e o vento, de Erico Verissimo e Rita Lee: autobiografia.

Outros...

Os licenciados mencionaram ainda, ter lido “diversos gibis da Turma da Mônica”, “algumas biografias”, “romances, como Sabrina e Bianca” e “uma infinidade de  gibis e jornais”.

Agradeço a todos pela tarefa cumprida e desejo novas e instigantes leituras...

 

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Literatura enquanto construção literária de sentidos...

 

A construção do termo Letramento Literário

Cristina Maria Rosa

 

Na manhã de 06 de novembro, nos reunimos para conhecer, aprofundar e comemorar a presença de Graça entre nós.

O convidado, Rildo Cosson, em sua fala, lembrou-nos de como Graça e ele redigiram o conceito de Letramento Literário[1], a partir de um convite de Regina Zilberman e Tania Rösing à Graça. Isto em 2009. Rildo ressaltou:

Como Graça havia cunhado o termo, cabia a ela, escrever. Generosa, me convidou. Fizemos um rascunho. E... Começamos a escrever. A definição, o termo, o conceito e outra parte, o letramento literário na escola.

 

E...

Atentamos os ouvidos para receber as memórias de Rildo, que, imediatamente, leu para nós a primeira linha do conceito de Letramento Literário. Aquele que está registrado no Glossário CEALE (2014), ás páginas 186 e 187: “Letramento literário é o processo de apropriação da literatura enquanto linguagem”.

E nos indicou que, cada palavra, foi discutida intensamente, com Graça. Aos poucos, foi explicitando como cada uma das palavras dessa frase – processo de apropriação da literatura enquanto linguagem – foi sendo inserida. Assim:

1.   Processo, no sentido de ação continuada, permanente. Não é habilidade, algo automatizado... É um processo que não começa e nem termina na escola. É um processo social, de apropriação...

2.  Apropriação, no sentido de tornar próprio, incorporar, tornar seu o que recebes, pois não tem leitura igual para o mesmo texto. Cada leitor tem seu universo literário e participa da manutenção/transformação – o movimento da literatura – da literatura em seu contexto. A literatura está sempre se movimentando, em transformação, as pessoas é que fazem a literatura se movimentar. É o leitor que faz a literatura existir, se o leitor não se apropria, ela desaparece!

3.      Literatura enquanto construção literária de sentidos, pois a Literatura não é um apanhado de textos: é um modo de ler e é ter um repertório cultural.

Neste momento, Rildo revelou como, hoje, observa essa imensa contribuição de Graça. Ele destacou:


Graça postulava, insistia, redizia, teimava: Construção literária de sentidos! Pleonasmo, eu pensava. Ela: “Não! Tem que...” Graça tinha razão. Aceitei. Mais tarde, percebi que Graça tinha razão. A construção é singular, própria da literatura, essa é a grande contribuição da Graça. Construção literária de sentidos, pois Graça denunciava a dificuldade que as pessoas tinham de ler literariamente a literatura!

 

Dois conceitos?

Para Rildo, há dois conceitos. Um, genérico, que se refere ao letramento que se faz com textos literários. Outro, o conceito profundo, para o qual o letramento é uma apropriação singular, única, de construção própria de sentidos. É o que faz a literatura ser diferente de todas as outras maneiras que usamos para ler e ler outros textos. E é por isso que precisa ser ensinada, para que se adquira o “traquejo”, uma das palavras que Rildo atribuiu ao repertório de Graça Paulino.



[1] PAULINO, G. Cosson, R. Letramento Literário: para viver a literatura dentro e fora da escola. ZILBERMAN, R.; RÖSING, T. Escola e Leitura: velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009.

Graça não veio ao mundo a passeio...

 

Graça: uma pessoa da ação e da imaginação literária

Cristina Maria Rosa

 

Na manhã de 06 de novembro, nos reunimos para conhecer Graça mais profundamente.

Foi o primeiro de um ciclo de encontros que pretende afirmar e evidenciar a presença de Graça Paulino na pesquisa, no ensino e na extensão, evento criado para conhecer, aprofundar e comemorar a presença de Graça entre nós, que a amamos.

Telma Borges, logo no início, nos dirigiu emocionantes palavras lembrando de Graça e de quem a encontrou na vida...

Nós...

Cada um de nós que teve a oportunidade de ler, ser aluno, orientando, amigo e até parceiro de produções científicas.

O evento...

Presentes, em torno de 70 pessoas dos grupos GPELL (FaE/UFMG), GELL (FaE/UFPel), LLEME (CEFET/MG), além de convidados (orientandos e admiradores da obra de Graça).

Em seu discurso de abertura, Zélia Versiani, emocionada, agradeceu a parceria e nos brindou com sua memória de episódios vividos com Graça:


A Graça é uma pessoa que não veio ao mundo a passeio, embora gostasse muito de viajar. Em Lisboa, em um congresso, convidou-me a comer ‘sardinha com batata ao muque’ em uma cantina que conhecia. Inúmeras voltas em círculos, naquelas ruazinhas, mortas de fome e cansaço, por fim encontramos a cantina. Graça era assim... Não desistia facilmente de seus projetos. A longevidade do GPELL deve-se a sua perseverança. Deixou-nos de herança o GPELL! Graça e o GPELL estão entrelaçados de tal modo!

 

Por fim, Zélia mencionou a preparação a uma viagem que não houve: à Havana, junto com Aracy. E, em frase emblemática, que todos entendemos, criou uma imagem de Graça que também perdura em mim: “Graça, nas suas andanças, se transformava em personagem...”.

Rildo recebe a palavra...


“Essa, para mim, será uma fala muito emotiva, que vai envolver muitas emoções...”

 Ao rever muitos e-mails trocados com Graça, Rildo notou que, ao fim deles, Graça escrevia: “Abracin”. Mineiramente, acarinhava Rildo e o convidava a voltar ao diálogo.

Anunciando-se privilegiado por integrar o GPELL e o CEALE, Rildo nos convidou a conversar, uma vez que estávamos entre pares e amigos. Disse: “Não é fácil falar de amigos entre amigos”.

E revelou...

 

Graça e eu fomos amigos. Fomos amigos sinceros. Amizade intensa, de cunho pessoal, de trocas, de confidências, de vida... Graça me recebeu na UFMG. Graça, Aracy e Marildes foram os pilares que me incluíram no GPELL e CEALE. Graça me apadrinhou na Pós-Graduação. Criou uma disciplina para eu dar com ela na Pós-graduação. Escrevemos livros juntos a partir de seminários na ABRALIC, em 2000 ou 2001, seminários sobre ensino de literatura...

 

Rildo e as discussões acaloradas

Todos que conhecem Graça sabem que ela adorava uma discussão acalorada, embora, às vezes, um simples balançar de cabeças indicava sua posição.

Com “apreço grande pelas ideias de Graça e seu pensamento”, Rildo revelou que “concordávamos e discordávamos de muitas coisas...”. E indicou como selecionou o que se tornou o foco de sua fala no evento: “Eu poderia falar de muitas coisas: leitura de filmes, textos, livros, projetos que não concretizamos, mas, vou me deter em um texto que escrevemos juntos e que foi publicano no livro de Regina Zilberman”. Nele, pela primeira vez, o conceito de letramento literário.

Um “fato anterior”...

Ocorrido antes desse momento de escrita e publicação, Rildo narrou o processo de decisão do título de seu livro – Letramento literário: teoria e prática, cujo título inicial era “Construindo uma comunidade de leitores...”.

Como a Editora que o publicou sugeriu a troca de título, Rildo consultou Graça, que cunhou o “verbete”. E lembrou que, ele e Graça, discordavam do termo letramento literário e dos sentidos do termo. Indicou, como hipótese para essas discordâncias, suas formações acadêmicas e a diferença geracional: Graça advinha da Teoria da Literatura, da Sociologia da Literatura e suas referências eram em Francês; Rildo, da Literatura Comparada e da escola inglesa. Atribuiu a essas influências o uso diversificado do termo, mesmo no GPELL.

Juntos, Graça e Rildo decidem que chegar a um acordo que definisse ou servisse de base “às meninas do GPELL”, nas palavras de Graça, segundo Rildo. A motivação que deu origem ao “acordo” foi a necessidade que Rildo teve de reconfigurar o título de seu livro. Foi, “a partir daí”, de acordo com Rildo, que Graça e ele começaram a discutir “oficialmente” sobre o termo.

Um convite para Graça

Rildo, em sua fala, lembrou a todos que Graça havia recebido um convite para publicar algo com Zilberman (UFRGS) e Rösing (UPF). O foco era escrever sobre o Letramento Literário[1]. Generosamente, Graça estendeu o convite a Rildo. Ele ressaltou: “Como Graça havia cunhado o termo, cabia a ela, escrever. Generosa, me convidou. Fizemos um rascunho. E... Começamos a escrever. A definição, o termo, o conceito e outra parte, o letramento literário na escola”.

Rildo ressaltou que Graça argumentava acerca da questão/situação da escola, do letramento na escola, e que essa era a questão mais importante. Em suas palavras: “A grande preocupação era a escola, ela era mais educadora do que eu”.



[1] PAULINO, G. Cosson, R. Letramento Literário: para viver a literatura dentro e fora da escola. ZILBERMAN, R.; RÖSING, T. Escola e Leitura: velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009.