segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Como as histórias se espalharam pelo mundo?

No dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra, o Curso de Música (Centro de Artes/UFPel) acolheu um grande público no encerramento da I Semana Internacional dos Saberes Percussivos. Com uma Noite dos Tambores Poéticos, ocorrida no Museu do Doce entre as 21 e as 23 horas, a intenção foi proporcionar encontros e trocas de saberes sobre a música de percussão.
Convidada a ler, escolhi Como as histórias se espalharam pelo mundo, de Rogério Andrade Barbosa. A leitura do conto mitológico que passeia pelos diversos países que integram o continente africano ocorreu acompanhada de sons do Berimbau e de mais uma infinidade de instrumentos escolhidos pelo professor e músico percussionista José Everton Rozzini, o Coordenador do PEPEU, o Programa de Extensão em Percussão da UFPel.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Micropolíticas de Leitura: um conceito


O que são micropolíticas de leitura?
São políticas – arte ou ciência – dedicadas a intervir na existência singular dos sujeitos, tornando-os entregues à fantasia – libertos do agir prático e da necessidade (Queirós, 2009) – através da fruição literária. Tem como objetivo a qualidade da existência humana, um bem inalienável.
Micropolíticas de leitura são atitudes engendradas a partir de um projeto literário que intenciona inserir crianças, estudantes e professores dos anos iniciais em uma sociedade leitora. É um projeto literário e também uma ação política.
Princípio
Parte-se da certeza de que a fruição da arte literária é um direito que ainda não está escrito e, para tal, precisa ser desejado, formulado e produzido entre os seres humanos. As micropolíticas – ações organizadas com objetivos claros e princípios éticos defensáveis universalmente – configuram o campo, tornando a literatura indispensável à existência, elevando-a à condição de artesania humana.
Objetivos
1.      Democratizar o poder de criar, imaginar, recriar, romper o limite do provável;
2.      Acolher a todos e concorrer para o exercício de um pensamento crítico, ágil e inventivo;
3.      Possibilitar à infância acesso ao texto literário como essencial para o seu crescimento;
4.      Promover atividades que tem a literatura como objeto central;
5.      Fazer do País uma sociedade leitora;
6.      Sonhar um País mais digno.

Sala de Leitura Erico Verissimo
As micropolíticas de leitura desencadeadas pelo GELL – Grupo de Estudos em Leitura Literária –, são representadas pela criação de um conceito – a alfabetização literária – pela composição de um acervo literário, pela disponibilização deste em um local e em atividades como cursos curtos, leituras públicas, saraus literários e visitas guiadas e pela criação de uma metodologia de ensino – a mediação para o gostar de ler.
A materialidade
Inserido em uma estrutura acadêmica que integra ensino, pesquisa e extensão, a Sala de Leitura tem como centralidade a proposição de micropolíticas de formação do leitor literário. Geograficamente localizada no térreo do ICH, é vinculada à Faculdade de Educação.
Foco na formação de professores
A formação do mediador literário é estruturador e primordial no exercício cotidiano da docência nos anos iniciais da escolaridade. A argumentação parte do princípio de que crianças que chegam à escola pública precisam ser apresentadas à linguagem literária, alfabetizadas literariamente (ROSA, 2015).
Ao referir-se à formação do leitor, Zilberman (2003, p. 30) diz que a legitimidade do uso da literatura na sala de aula vem tanto “da relação que estabelece com seu leitor, convertendo-o num ser crítico perante a sua circunstância” quanto “do papel transformador que pode exercer dentro do ensino, trazendo-o para a realidade do estudante”.
Outra das ideias compartilhadas é que a oportunidade de entrar em contato com impressos que a escola e a sociedade valorizam deve acontecer através do professor. Assim, a alfabetização literária requer a atitude de um mediador – uma pessoa que "estende pontes entre os livros e os leitores" (REYES, 2014).
O que é a leitura literária?

Para Paulino (2014, p. 177) há, quando da leitura, um “pacto entre leitor e texto” que “inclui, necessariamente, a dimensão imaginária, em que se destaca a linguagem como foco de atenção, pois através dela se inventam outros mundos, em que nascem seres diversos, com suas ações, pensamentos, emoções”. A pesquisadora argumenta que a leitura literária constitui “uma prática capaz de questionar o mundo já organizado, propondo outras direções de vida e de convivência cultural”. Ao selecionar “livros que fascinam”, os mediadores transformam pessoas em leitores. Leitores de imagens, leitores de textos, leitores de sentidos, leitores de vidas.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Feliz 16 de novembro de 2017: Patrona da Feira do Livro!

Bom dia a todos! Feliz 16 de novembro de 2017!
Assim dei início a meu pequeno discurso na abertura da Feira do Livro que ocorreu na manhã do dia 16/11/2017 na Escola Adventista de Pelotas. Convidada a ser “Patrona”, fui recebida com admiração, carinho e acolhimento.
Entre minhas responsabilidades, escrever e ler, dialogar e divulgar o livro e a literatura. O fiz com gosto e alegria, partilhei momentos e aprendi muito.
Os estudantes do 6º ao 9º ano que estiveram comigo na manhã dessa quinta-feira se divertiram ao som de “Descobridor dos sete mares”, dos compositores Gilson Mendonça e Miguel de Oliveira Neto, uma das melodias entoada pela Banda da Brigada Militar. Ouça um pouquinho:

Uma luz azul me guia
Com a firmeza e os lampejos do farol
E os recifes lá de cima
Me avisam dos perigos de chegar
Angra dos Reis e Ipanema
Iracema, Itamaracá
Porto Seguro, São Vicente
Braços abertos sempre a esperar
Pois bem, cheguei
Quero ficar bem à vontade
Na verdade eu sou assim
Descobridor dos sete mares
Navegar eu quero...

Foi intenso e gratificante participar da abertura da Feira e conversar com os adolescentes que curiosos, ouviram, perguntaram, riram e revelaram sonhos de escrever e publicar suas próprias histórias.

1º ato: leitura da Minibiografia
A leitura foi realizada pela Coordenadora Pedagógica da Escola.
O texto, fornecido por mim, foi o seguite:

Escritora gaúcha, nascida em Santa Rosa, em 1964, Cristina é filha de um italiano nascido em Villa Franca, um vilarejo pertinho de Torino, ao norte da Itália. Leitor desde sempre, foi o pai que lhe presenteou o primeiro livro, A fada dos Moranguinhos, quando Cristina tinha apenas cinco anos. A mãe da escritora é descendente de alemães e italianos em igual medida e sempre gostou muito de ler. Quando menina, seu sonho era ser professora de geografia.
Apesar dessa ascendência, Cristina faz questão de se apresentar como uma típica brasileira: gosta do léxico e da semântica da língua portuguesa e seus autores prediletos são brasileiros, embora abra uma exceção para José Saramago. O conto da ilha desconhecida, desse escritor, é um de seus textos prediletos e quando presenteia alguém que não é criança, esse é o escolhido. Quando o presenteado é criança, ela escolhe os livros da Eva Furnari ou os infantis do Erico Verissimo. Às vezes, Monteiro Lobato. As invenções desses outros escritores lhe encantam.
 Desde criança, Cristina é professora. Quando menina, pulava o muro e ia receber as crianças da escola pública municipal que ficava ao lado da sua casa. Brincadeiras de roda, primeiro, e um convite para cuidar do “Jardim de infância”, depois, a tornaram professora aos oito anos.
De manhã, estudava.
À tarde, brincava de professora.
Era brincadeira, mas ela levou a sério.
Atualmente, ensina a gostar de ler na Universidade Federal de Pelotas. Suas alunas e alunos serão professores de crianças e, por isso, Cristina busca torná-los apreciadores de autores de bons livros.
Gosta, e muito, de inventar a partir de episódios corriqueiros, que acontecem bem pertinho dela. Por isso, às vezes, fica parecendo distraída. Na verdade, está prestando atenção em outras coisas, ouvindo palavras sendo ditas pertinho e tramando como colocá-las na tela do computador.
Não raro, anota em uns bilhetinhos tudo que ouviu...
Logo que chega a seu escritório, vai passando tudo o que está nos bilhetinhos para a tela. E aproveita para inventar mais um pouquinho, que literatura não é cópia do real...
Quando está pronto o conto ou poema, envia para os personagens ali retratados, um de seus prazeres. Envia pelo celular ou por e-mail. Se a pessoa que recebe não conhece nem usa essas tecnologias, a escritora imprime o texto e, em um envelope colorido, entrega em mãos para a pessoa.
E diz que é presente.
Depois, curiosa, aguarda as palavras da pessoa presenteada.
Se as pessoas respondem?
Sempre.
É autora dos infantis De arqueologias e de avôs (2005); Luíza (2007) e Cobras no Laranjal (2009). Publicou Um alfabeto à parte: biobibliografia de Pedro Rubens de Freitas Wayne em 2009. Organizou as obras Alfabetização e Cidadania: o inverso do espelho na educação de jovens e adultos (2002); Jovens e Adultos na Escola: Aprendendo a ler o mundo e a palavra (2005); Leituras: Clássicos e Modernos (2006); Educação Inclusiva: Textos e Glossário (2006); Das Leituras ao Letramento Literário (2009); Escritas, Leitores e História da Leitura (2012) e A Velha, a Mosca e a Narrativa (2013).

Nos últimos anos, Cristina está se dedicando a livros digitais ilustrados. Os que já estão disponíveis são: Irmãzinha de Estimação, Frederico, o príncipe, As três Dulces, Frederico e seus bichos de estimação, A volta de Orestes, o cachorro do príncipe Frederico, Amanda, Sílvia, a rainha mãe de Frederico, A fome da água, Listas incríveis, malucas, e inventadas de A à Zebra, Era uma vez, Joaquim, Gabriela e Quintal ao lado.  Para ter acesso a eles, escreva ao e-mail cris@ufpel.tche.br e solicite.

2º ato: ler e conversar
No diálogo com os adolescentes, 6º e 7º ano primeiro. Depois, 8º e 9º ano.
Com leituras de contos enviados com antecedência à escola, foi possível conhecver o que cada um dos presentes pensa da escrita literária.
Foi uma delícia o dia 16 de novembro!

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Contos de Infâncias

Contos de Infância é um livro digital produzido no Módulo Artes Visuais, Literatura Infantil e Música da Especialização em Educação ofertada na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas no ano de 2017 e 2018.
Organizado pela docente Cristina Maria Rosa, reune contos de infância dos estudantes que, além de escreverem, participaram de um Sarau de Leitura no Mercado Central da cidade, lendo-os para o público.
A seguir, leia a apresentação e a ficha técnica do livro.




Apresentação
Herdeiros da arte de contar, nós humanos, narramos e, desse modo, existimos: como sujeitos e como espécie. É através da narrativa que nos é possibilitado criar vínculos com a cultura circundante, aprender e ensinar uns aos outros, ouvir e falar, ler e escrever, pensar, refletir, registrar.
A narrativa é “um modo de conformação de realidades, em que a passagem do tempo está claramente configurada, mobilizando, para isso, elementos de linguagem” (GETHL, 2014). É arte, dolce e utile, e demanda um “outro” para existir: quem escreve deseja  ser lido.
Com o objetivo de oportunizar um encontro profícuo com o gênero literário e seus elementos constituidores, propus aos estudantes da Especialização em Educação (FaE/UFPel 2017-2018) que ouvissem contos escritos por mim, lessem muitos outros e escrevessem um novo, próprio, original.
Depois de escritos, organizamos um Sarau Literário no Mercado Central e os lemos em voz alta. Foi um momento marcante, de emoções e reconhecimentos. Ali surgiu o desejo de deixar impresso o resultado do investimento: um e-book foi pensado e aqui está.
O trabalho de organização, correção, ilustração e finalização do e-book, contou com a colaboração da Raquel Casanova dos Santos Wrege, Ieda Maria Kurtz de Azevedo e Raissa Cardoso Amaral, a quem agradeço profundamente.

Ficha Técnica:

Projeto literário: Cristina Maria Rosa
Concepção Ilustrativa: Raquel Casanova dos Santos Wrege
Revisão: Ieda Kurtz
De acordo com a AOLP: Raissa Cardoso Amaral
Supervisão do Projeto Editorial e Gráfico: Cristina Maria Rosa


Autores: Adriana Dal Molin, Andressa Bastos da Cunha, Ana Lúcia Cardoso Pereira, Ariane Martins Vasquez, Camila Rico Carret, Carolina Leal Andrade, Cristina Maria Rosa, Cibele Da Silva Fernandes, Daiane Sudo Cabana Goia, Daniel De Souza Lemos, Débora de Quadros da Silva, Diego Domingos Goulart, Ieda Kurtz de Azevedo, Isabela Schiavon Amaral, Jessica Moara da Cunha Tessmann, João Matheus Soares Miranda, Laís Ribeiro Soler, Lauren Barbosa Antunes, Liane Naetzold, Raíssa Cardoso Amaral, Raquel Rossales Aires, Raquel Wrege, Renata Lopes Sopeña e Tatiane Duarte Cavalheiro.

Acesso
Para acessar o livro na íntegra, escreva solicitando envio para: cris.rosa.ufpel@hotmail.com


terça-feira, 7 de novembro de 2017

Alfabetização Literária de bebês no Jogo do Livro 2017

"Alfabetização Literária: os bebês e seus modos de ler", inscrito para ser apresentado no Jogo do Livro que ocorre em Belo Horizonte entre 08 e 10 de novembro de 2017, será uma das comunicações orais no Eixo temático 5 - Formação do leitor de literatura. A seguir, leia, na íntegra, o resumo aprovado.


Alfabetização Literária: os bebês e seus modos de ler
Cristina Maria Rosa – Doutora em Educação
UFPel/RS
Renata Junqueira de Souza – Doutora em Letras
UNESP/Presidente/recellij@gmail.com


RESUMO: Tendo como objetivo apresentar resultados de pesquisas que vêm sendo desencadeadas em duas instituições – UNESP/Presidente Prudente/SP e UFPel/RS – no trabalho revelamos que bebês indicam ter “repertório literário” e que este pode ser observado em comportamentos espontâneos e adquiridos. Como fonte teórica para o diálogo com as descobertas que realizamos, pesquisadores para quem as práticas formadoras do leitor são definidas pelo conteúdo – o que ler – e pelos procedimentos ou “como” ler. No primeiro aspecto, Cademartori (2014), Machado (2002), Paulino (2014) e Zilberman (2005), concordam que o texto literário deve ser ponto de partida para a alfabetização literária. Com relação aos procedimentos, Tzvetan Todorov (2010) nos ensina que a principal função de um professor é iniciar os seus “nessa parte tão essencial de nossa existência que é o contato com a grande literatura” e que a escola deveria “ensinar os alunos a amar a literatura”. Como escolha metodológica, a coleta de informações em interações com bebês, os livros, suas mães, suas professoras e as pesquisadoras. Entre os primeiros resultados – embora cedo mencionar repertório quando se trata de bebês –, as atitudes destes em relação aos livros indicam se já foram apresentados a práticas culturais nas quais o livro é protagonista. Nas coletas realizadas tanto no interior de SP, como no RS observamos gestos, ritos e modos de ter contato com o livro mesmo quando o bebê indistingue o artefato cultural de qualquer outro objeto. Esses modos de manipular independem de sua idade cronológica e revelam o quão familiarizado o bebê está com livros e modos de ler. Em alguns casos, confunde o livro com um objeto qualquer, como um chocalho, bola ou uma boneca. O primeiro gesto que observamos foi tocar e bater sobre o livro. Ele busca sentir as dimensões do objeto. Logo depois, busca pegar e aproximar o livro de si e da boca – fonte conhecida de sensações. Após bater, tocar, pegar e aproximar, o bebê leva o livro à boca, evidenciando que não conhece, não foi apresentado ao livro como objeto cultural. Pode também ocorrer de o bebê, ao “pegar de qualquer jeito”, ao tentar olhar e ou folhear, pode folhear de “trás para frente”, ou pegar várias páginas ao mesmo tempo. São indícios de que ao bebê ainda não foram disponibilizados os rudimentos do comportamento leitor, atitudes prévias e imprescindíveis para a alfabetização literária. Entre os bebês que já foram apresentados ao livro como objeto central da cultura escrita, as atitudes são diferentes e, de forma mais intensa, também manifestam seu repertório de informações sobre o livro, a leitura e a literatura. Entre as evidências do comportamento adquirido – quando o bebê indica perceber os ritos no trato com o livro – pudemos observar que o bebê costuma folhear e ajudar o adulto a folhear. Quando este está lendo, ouve com atenção. Se lhe é oportunizado, segura sozinho o livro, imitando a ação do adulto e, quando permitem, escolhe o que quer que leiam, abre, observa, fecha, troca, guarda. Eventualmente, reclama se o livro se fecha e comemora ter encontrado algo conhecido em alguma página ou capa. Ao apontar o livro ou imagens nele, indica ao adulto que o livro está danificado, responde a perguntas olhando e/ou apontando para imagens ou escritos, e balbucia, exclama, põe a mão na cabeça e “lê” em voz alta, com entonação. São alguns dos indícios de que o bebê conhece ritos esperados quando o objeto em interação é o livro. Percebemos ainda que alguns bebês estranham um livro desconhecido e o comparam, descartam, devolvem, se não querem a interação com aquele livro, por exemplo.

Palavras-chave: literatura na primeiríssima infância; literatura infantil; repertório; formação do leitor literário.


Jogo do Livro: Leitura para meninas...

Ocorre, entre 08 e 10 de novembro, o evento Jogo do Livro, na FaE/UFMG.
Uma das comunicações orais que vou fazer é Leitura para meninas: um punho e um útero, inserida no Eixo temático 5 - Formação do leitor de literatura.
A seguir, o resumo aprovado:


Leitura para meninas: um punho e um útero
Cristina Maria Rosa – Doutora em Educação - UFPel


RESUMO: No trabalho apresento a composição de um acervo que integra um projeto de leitura literária para adolescentes. Trata-se de literatura produzida para “emancipar” meninas. Ao desenvolver, por um ano, um trabalho de restauro em uma biblioteca escolar na periferia urbana de Pelotas, pude conhecer um grupo de meninas, observar suas andanças pelos corredores e pátios da escola, jogos e brincadeiras. Livres dos limites da sala de aula e dos programas curriculares, exploram e usufruem da companhia umas das outras e, também, da presença/ausência dos meninos. E revelam o que pensam, como agem, o que esperam, sonham, almejam. Tendo como referencial teórico os scripts de gênero ou cultura que legitima, demarca e estabelece modos de ser para as masculinidades e as feminilidades (FELIPE, GUIZZO & BECK, 2013), produzi evidências que indicam que a sexualidade, para muitas meninas, não é desejo, escolha, direito e, sim, a materialização do desejo do outro – o pai, o irmão, o colega, o grupo, o namorado. Para ROSA (2017) “a violência contra mulheres e meninas – representada por maus tratos emocionais ou violência psicológica – também está presente nas narrativas literárias, especialmente nos contos clássicos”. E, lendo, questionando e reverberando internamente os dilemas propostos por estes contos nem sempre maravilhosos, meninas podem educar-se. Observando de um lócus privilegiado – a escola – e por um tempo considerável – um ano –, decidi, a partir de então, reunir um acervo literário para pensar sobre estas “questões de gênero”. Focando a busca por obras que sugerissem protagonismo, o intuito foi criar um programa de leituras para meninas em que a liberdade para pensar e escolher fosse o meio e o fim. Assim, reuni, entre os títulos de minha biblioteca, um grupo de livros que têm em comum, temas ou protagonistas meninas, mocinhas ou mulheres que extrapolam os clássicos papéis destinados culturalmente ao gênero feminino. Na construção dessas personagens e tramas, os autores e autoras apresentam a nós, leitores, perfis, ideias e desfechos inusitados, inteligentes, bem humorados, afetivamente includentes e com lógicas não violentas. Entre os resultados, uma pequena lista, iniciada por Le petit Chaperon Rouge, conto de fadas de origem europeia publicado pela primeira vez em 1697, pelo francês Charles Perrault com um claro recado à infância e às meninas: os lobos existem, eles são perigosos, eles se disfarçam, eles matam. Os demais títulos são: Maria vai com as outras, de Sylvia Orthof; Teresinha e Gabriela, de Ruth Rocha; A Zeropéia, de Herbert de Souza; Bisa Bia, Bisa Bel, de Ana Maria Machado; Pandolfo Bereba, de Eva Furnari; Mania de Explicação, de Adriana Falcão; Sebastiana e Severina, de André Neves; Nós, de Eva Furnari; Ceci tem pipi? De Thierry Lenain; Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque; Ervilina e o princês, de Sylvia Orthof; Selma, de Udo Araiza; Espelho, de Suzi Lee; Vermelho Amargo, de Bartolomeu Campos de Queirós; Uma chapeuzinho vermelho, de Marjolaine Leray;  O cabelo de Lelê, de Valéria Belém;  Orie, de Lúcia Hiratsuka;  O livro dos grandes opostos filosóficos, de Oscar Brenifier e Jacques Després; Inês, de Roger Mello e Mariana Massarani e A ervilha que não era torta... mas deixou uma princesa assim, de Maria Amália Camargo. Por fim, indico um título, pleno de sentidos: Um útero é do tamanho de um punho, de Angélica Freitas. A escolha se deu pelo título, pois todos temos punhos, mas só meninas têm útero.