terça-feira, 7 de novembro de 2017

Jogo do Livro: Leitura para meninas...

Ocorre, entre 08 e 10 de novembro, o evento Jogo do Livro, na FaE/UFMG.
Uma das comunicações orais que vou fazer é Leitura para meninas: um punho e um útero, inserida no Eixo temático 5 - Formação do leitor de literatura.
A seguir, o resumo aprovado:


Leitura para meninas: um punho e um útero
Cristina Maria Rosa – Doutora em Educação - UFPel


RESUMO: No trabalho apresento a composição de um acervo que integra um projeto de leitura literária para adolescentes. Trata-se de literatura produzida para “emancipar” meninas. Ao desenvolver, por um ano, um trabalho de restauro em uma biblioteca escolar na periferia urbana de Pelotas, pude conhecer um grupo de meninas, observar suas andanças pelos corredores e pátios da escola, jogos e brincadeiras. Livres dos limites da sala de aula e dos programas curriculares, exploram e usufruem da companhia umas das outras e, também, da presença/ausência dos meninos. E revelam o que pensam, como agem, o que esperam, sonham, almejam. Tendo como referencial teórico os scripts de gênero ou cultura que legitima, demarca e estabelece modos de ser para as masculinidades e as feminilidades (FELIPE, GUIZZO & BECK, 2013), produzi evidências que indicam que a sexualidade, para muitas meninas, não é desejo, escolha, direito e, sim, a materialização do desejo do outro – o pai, o irmão, o colega, o grupo, o namorado. Para ROSA (2017) “a violência contra mulheres e meninas – representada por maus tratos emocionais ou violência psicológica – também está presente nas narrativas literárias, especialmente nos contos clássicos”. E, lendo, questionando e reverberando internamente os dilemas propostos por estes contos nem sempre maravilhosos, meninas podem educar-se. Observando de um lócus privilegiado – a escola – e por um tempo considerável – um ano –, decidi, a partir de então, reunir um acervo literário para pensar sobre estas “questões de gênero”. Focando a busca por obras que sugerissem protagonismo, o intuito foi criar um programa de leituras para meninas em que a liberdade para pensar e escolher fosse o meio e o fim. Assim, reuni, entre os títulos de minha biblioteca, um grupo de livros que têm em comum, temas ou protagonistas meninas, mocinhas ou mulheres que extrapolam os clássicos papéis destinados culturalmente ao gênero feminino. Na construção dessas personagens e tramas, os autores e autoras apresentam a nós, leitores, perfis, ideias e desfechos inusitados, inteligentes, bem humorados, afetivamente includentes e com lógicas não violentas. Entre os resultados, uma pequena lista, iniciada por Le petit Chaperon Rouge, conto de fadas de origem europeia publicado pela primeira vez em 1697, pelo francês Charles Perrault com um claro recado à infância e às meninas: os lobos existem, eles são perigosos, eles se disfarçam, eles matam. Os demais títulos são: Maria vai com as outras, de Sylvia Orthof; Teresinha e Gabriela, de Ruth Rocha; A Zeropéia, de Herbert de Souza; Bisa Bia, Bisa Bel, de Ana Maria Machado; Pandolfo Bereba, de Eva Furnari; Mania de Explicação, de Adriana Falcão; Sebastiana e Severina, de André Neves; Nós, de Eva Furnari; Ceci tem pipi? De Thierry Lenain; Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque; Ervilina e o princês, de Sylvia Orthof; Selma, de Udo Araiza; Espelho, de Suzi Lee; Vermelho Amargo, de Bartolomeu Campos de Queirós; Uma chapeuzinho vermelho, de Marjolaine Leray;  O cabelo de Lelê, de Valéria Belém;  Orie, de Lúcia Hiratsuka;  O livro dos grandes opostos filosóficos, de Oscar Brenifier e Jacques Després; Inês, de Roger Mello e Mariana Massarani e A ervilha que não era torta... mas deixou uma princesa assim, de Maria Amália Camargo. Por fim, indico um título, pleno de sentidos: Um útero é do tamanho de um punho, de Angélica Freitas. A escolha se deu pelo título, pois todos temos punhos, mas só meninas têm útero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário