sábado, 8 de março de 2025

Recado para quem estuda...

 

O que ler: algumas sugestões

Cristina Maria Rosa

 

Dialogando com meu grupo 60+ aqui em Monte Belo do Sul e por mídias digitais com alunas da UNAPI - Universidade Aberta a Pessoas Idosas, o tema foi “as melhores” leituras, livros, autores. E, nesse universo, quem teria o saber/poder de decisão/orientação.

Cientes de que há agentes – pais, professores, escritores, leitores, pesquisadores, sábios – a indicar e conduzir os demais e que “não basta ler qualquer coisa”, concordamos que a qualidade da leitura que fazemos “depende de quem nos orienta”. Entre nós circulou, também, a ideia de que “as escolhas dos orientadores deveriam ser baseadas na qualidade e não na origem do escritor”, pois há obras estrangeiros que são descartadas apenas por não terem sido escritas na língua pátria.

Na maioria das vezes o que ocorre? Pergunta uma de minhas interlocutoras. E ela mesmo responde, já argumentando: “Os jovens detestam o que têm obrigação de ler!”

Querendo saber se os professores são orientados quanto a isso, a pergunta tocou para mim. Não me furtei.

Os professores...

Não conheço a orientação que é dada aos futuros professores nas Licenciaturas em Letras. Mas sei que, nas instituições em que se estuda Literatura Brasileira, se ensina o que é considerado clássico brasileiro. Machado de Assis, Clarice Lispector, Mario Quintana e por aí vai.

Quando atuava na Licenciatura em Pedagogia, como a literatura escrita para crianças tem origem em culturas europeias, o clássico vem "de fora", exigindo que tenhamos mais amplitude ao tratar o que é o cânone. Consequentemente, menos preconceito em reconhecer que literatura, desde que de qualidade, não importa a origem...

 

Eu pergunto: no Brasil, temos bons escritores? Quem pode responder? Quem leu tudo o que foi produzido no mundo e pode atestar que a nossa literatura é boa? É por isso, por não conseguir, em uma vida, ler tudo o que já foi escrito que nós precisamos de ajuda. E o que é ajuda? Ajuda são obras escritas por renomados leitores que indicam...

Exemplo: Uma rede de casas encantadas, de Ana Maria Machado.

Outro: a reunião de melhores contos, poemas, fábulas de um país como Os 100 melhores contos de humor da literatura universal, organizado por Flávio Moreira da Costa.

Mai um: Por que ler os clássicos, de Italo Calvino.

Sem esquecer de Contos e Poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades, de Harold Bloom.

E, ela aí de novo: Como e por que ler os clássicos universais desde cedo, de Ana Maria Machado, entre outros.

O que é o melhor e para quem é uma pergunta que põe em xeque o cânone ou o que especialistas indicam como cânone. Afinal, quem tem a prerrogativa de decidir o que realmente devo ler?

Ao pensar em responder, lembrei-me de uma reportagem que li a respeito dos livros indicados ao vestibular. Nela, um “especialista” dizia que bom mesmo é aquilo que gosto. Pensei um pouco mais e recordei de um filósofo brasileiro, vivo, que diz que nosso tempo é curto, então, não devemos perder tempo lendo o que não é bom. Eu gosto dessa ideia: ler só o que é bom. Mas como saber, antes de abrir um livro?

Na Universidade, um de meus trabalhos mais intensos ocorreu na formação de novos leitores. Então, o gostar de ler, às vezes, se sobrepõe ao "o que ler". Quando o diálogo é com leitores maduros, "o papo" é outro e podemos explorar mais os critérios do que é considerado bom...

O que observo, mesmo entre pares, é que a maioria não sabe o que é "formar um leitor". Isso não é um demérito. Mas deve ser um desafio. Alfabetizar literariamente é parte de um processo delicado, e poucos, realmente, conseguem ter êxito quando se propõem.

Fim de papo...

Sobre mulheres

 

Sobre mulheres

Cristina Maria Rosa

 

Mulheres não nascem mulheres...

Mulheres nascem bebês.

Depois, se tudo der certo, são meninas que usam sapatos vermelhos de verniz...

E acumulam abraços, casaquinhos de tricô feitos pelas tias, pão com melado e keschmier comido na casa da Nonna e piqueniques em riozinhos de água gelada com o Seu Giuseppe.

Se tudo der muito certo, mesmo, meninas têm vontade própria, ensaiam peças de teatro na escola, passeiam na praça com as amigas e não correm riscos quando se apaixonam.

Meninas, quando mocinhas, escolhem a quem namorar, a que filmes assistir e quantos e quais livros ler. E moças, já, andam por aí, donas de seus desejos e responsáveis por suas escolhas. Sim, estudam, pois querem bancar as próprias vidas. Mas voltam para casa, nas festas de fim de ano, para abraçar os pais.

Um dia, talvez, elas voltam com um bebê no colo, anunciando que aprenderam e já desejam ensinar.

Meninas, quando felizes, podem escrever sua história e, se tudo der certo, certíssimo, podem até ler em voz alta, sem chorar, o tempo que escreveram.

Metodologias ativas: sobre plantar árvores...

 

Metodologias ativas: o que é isso?

Cristina Maria Rosa

 

Parte da Pedagogia se interessa por responder, hoje, já, agorinha, pela aprendizagem de pessoas em todos os níveis e modalidades de educação. Metodologias ativas é um título que representa esse desejo vinculado ao tempo da urgência, esse mesmo que estamos vivendo hoje em que parece que tudo é “para ontem”.

Mas, o que são metodologias ativas?

Nelas, em comum, o aluno, o estudante é o principal ator, é o protagonista. E a proposta dessas metodologias é “ajudar”, mediatizar, contribuir para que o protagonista adquira o saber. Uma das definições encontradas em uma busca sobre o tema informa que Metodologias ativas são “novas formas de desenvolver o processo de aprendizagem”, uma vez que “se utilizam de “experiências reais ou simuladas” com o objetivo de “criar condições” para “solucionar os desafios advindos das atividades essenciais da prática social”. Mais aprofundadamente, encontras referências ao ler As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes, um texto de Neusi Berbel publicado em 2011. Ao fim deste texto, inseri o link para pesquisares.

 

Ativo: lépido e faceiro?

“Ativo” tem, no seu campo semântico[1], a presença de palavras como dinâmico, ágil, vivo, enérgico, animado, agitado, mexido, movimentado. E, ainda, participante, presente, atuante. Ativo, ainda, é alguém que não deixa de ser eficiente, eficaz, diligente, pronto, rápido, ligeiro, despachado, desembaraçado, empreendedor, competente.

Ao conhecer essas possibilidades para a palavra “ativo, não se pode deixar de imaginar que também é um trabalhador esforçado, inteligente, esperto, perspicaz, sagaz, astuto, objetivo, prático, pragmático, atinado, lépido. O que me fez pensar em lebres, que, todos afirmam ser mais rápidas que tartarugas embora existam controvérsias...

Ativo ainda é sinônimo de industrioso, laborioso! E dele se diz que, quando exerce uma atividade, demonstra ser operante, funcional, produtivo, efetivo. Mais modernamente, entre as novas gerações, ativo é alguém que está ligado, conectado e, poeticamente pode se dizer que é muito intenso, forte, vigoroso. Se o sujeito estiver na vida pública e for “ativo”, se diz dele que é influente, importante, “grande” ou “grandão”. Tudo para afirmar que é respeitado, prestigiado. Por fim, para circunscrever esse termo polissêmico, há fenômenos da natureza que precisam ser respeitados quando a eles nos referimos como “ativos”. É o caso dos Vulcões que, se estiverem em atividade, eruptivos, causam muita confusão.

Lembrando quem aqui tudo foi escrito no masculino – ativo, eruptivo, grandão –, pois os dicionários, em nossa língua, ainda não descobriram a flexão de gênero.

Os tipos de metodologias ativas

Ao proceder um estudo sobre o tema descobri que há onze tipos de metodologias ativas: gamificação, júri simulado, ensino híbrido, mapa conceitual, estudo de caso e sala de aula invertida, tempestade cerebral, aula expositiva dialogada, aprendizagem entre pares, aprendizagem baseada em problemas e aprendizagem baseada em projetos. Resolvi te apresentar, com minhas palavras, o que aprendi.

Gamificação é uma metodologia que intenciona dinamizar vínculos, utilizando o que os meninos e meninas já dominam para aprenderem mais na escola. Conta com colaboração e engajamento, possibilidade de avaliação constante por parte do professor e dos integrantes, agilidade na proposição e resolução de demandas e favorece a consolidação de uma inteligência coletiva.

Ensino híbrido é um programa de educação formal que mescla momentos presenciais (na presença de pares e professor) e outros, em que o estudante busca aprender de modo online, com orientação e acompanhamento. As propostas de ensino híbrido se dividem em sustentados e disruptivos e isso significa dizer que quando há inserção de novas metodologias sem a exclusão de parcelas da proposta de ensino tradicional, temos o modelo “sustentado”, ancorado no que já havia. Se, no entanto, temos a apresentação de uma metodologia que propõe a total quebra do ensino tradicional, estaremos diante de uma metodologia disruptiva.

Júri simulado é uma metodologia que organiza os aprendentes em três grupos: acusação, defesa e julgamento. Através da simulação de um tribunal, “casos” são estudados e argumentos sãos construídos. Embora listada entre as “novas” metodologias, lembro de ter vivido essa experimentação no ensino fundamental, lá em minha cidade natal, Santa Rosa.

Mapa conceitual é o uso de diagramas – conjuntos coloridos de círculos, retângulos e/ou triângulos interseccionados e marcados, destacados ou hachurados por setas, flechas ou chaves – e outras ferramentas gráficas que concebem e apresentam de forma visual as analogias entre conceitos e ideias. É denominado “mapa mental” ou “mapa conceitual” pela oferta de links visuais que tem o intuito de se tonar memorizável e facilmente compreensível. Exige esforço para compreender os conceitos e expressar saberes conexos. Eu amo mapas mentais e sempre que estou estudando, faço.

Estudo de caso são relatos de casos da vida real com o intuito de oferecer ancoragem para a aprendizagem a partir de um “caso”, uma situação, uma história. Com em todo caso, tem peculiaridades e sobre ele podem ser feitas perguntas com o intuito de ampliar o modo como se conhece algo. Os casos a serem levados para a sala de aula devem estar focados em habilidades e competências a serem adquiridas ou ampliadas e esta é uma abordagem ativa e colaborativa que intenciona promover o desenvolvimento da autonomia.

Por sua vez a Sala de aula invertida é uma metodologia que intenciona colocar o aluno em contato com elementos teóricos e metodológicos a respeito de um tema antecipadamente do encontro com o professor e colegas. Assim, ele “estuda em casa” e, quando chega na escola, pode debater, dialogar, perguntar e até ensinar o tema aos demais. O foco é não apenas receber do docente uma visão definitiva e expositiva sobre o tema, mas, sim, tornar o momento mais rico e pleno de “opiniões” diversas. O estudante passa a realizar atividades antes, durante e depois das aulas, presenciais e online.

 Tempestade cerebral é um método utilizado para desenvolver as capacidades criativas de um grupo. Ao conhecer o que pensam de forma desorganizada, o professor pode explorar “a priori” níveis e graus de conhecimento e, com a formulação de uma nova redação, dar forma a conceitos. Apresentações de ideias, liberdade de expressão, choque de conhecimentos, palavras livres e soltas são habilidades a serem trabalhadas a fim de que o estudante possa expressar organizadamente um saber com concisão, logicidade, pertinência e aplicabilidade. O foco do professor, neste caso, é avaliar o processo até a aquisição dessas habilidades e a capacidade de descobrir soluções apropriadas ao problema apresentado. Ao estudar a tempestade de ideias lembrei de momentos vividos quando, estudante recém chegada na UFSM e em contato com pessoas que estudavam design de produtos para a publicidade, ouvi o termo pela primeira vez. Para eles, era uma técnica corriqueira...

A Aula expositiva dialogada compreende uma relação em que o eu e o outro importam. Uma relação dialógica e ética é o seu fundamento e o foco está na capacidade de aprender a refletir profundamente sobre o saber algo. A participação dos educados é um objetivo e esta proposta metodológica se coloca filosoficamente contrária à educação bancária. Sempre gostei dessa abordagem e me reconheço nela. Quando tive a primeira oportunidade de realizar um estágio no campo da Didática e meu público eram professoras de escola, empreguei essa metodologia. Era o ano de 1989 e eu me sentia plena em exercitar o diálogo com que já estava no mundo do trabalho. Nunca esqueci essa experimentação e dela sempre levei ensinamentos.

Aprendizagem entre pares ou times (em inglês, peer instruction ou team based learning) é aquela que incentiva o debate, a reflexão, o diálogo entre iguais, em conjunto. Times aprendem em grupo, com alguma disputa entre os demais. “Nosso time” é uma noção importante para essa metodologia. A disputa, como ocorre em gincanas, oferece a essa metodologia um elemento de “animação” e contribui para o “espírito de grupo”. Como tutora de um grupo PET na Educação e em convívio com outros grupos, participamos, em certa ocasião, de uma grande gincana. Nela, inventamos música, tema, lema, cores, nome e, em clima de GreNal, disputamos cada ponto. Nosso time, vitorioso, entendeu que juntos, somos melhores.

Quando se trata da Aprendizagem baseada em problemas estamos diante de um olhar para a realidade e, após, a necessária seleção de um “problema” para estudo. O foco é adquirir afinco na observação e categorias de aprofundamento para descrever e propor alternativas. A ideia é ter um professor orientador, estudantes protagonistas e, como resultado, a “criação” de uma solução ou proposta de intervenção.

Por sua vez, a metodologia denominada Aprendizagem baseada em projetos tem como diferencial a trabalho em grupo, colaborativo, com o intuito de resolver problemas que ocorrem fora do ambiente escolar, mas que dizem respeito à vida dos estudantes. Por ter como um dos princípios a interdisciplinaridade, extrapola o trabalho de um professor ou de uma disciplina e seus resultados devem ser compartilhados na sala de aula, ao fim de um período ou intervenção.

Para observar outra formulação teórica, consultei o artigo Metodologias ativas: das concepções às práticas em distintos níveis de ensino, elaborado por José Armando Valente, Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida e Alexandra Fogli Serpa Geraldini. Ao estudar as contribuições e limites que as aprendizagens baseadas nas metodologias ativas com o uso de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação entre alunos do ensino básico ou superior, os autores reuniram um grupo de textos reflexivos e uma narrativa digital que possibilitou entender as diferentes concepções sobre metodologias ativas, bem como analisar as potencialidades destas para uso em diferentes níveis de ensino. Os autores, como argumento, escrevem:


A educação que se desenvolve imbricada com a cultura encontra-se pressionada pelas práticas sociais típicas da cultura digital, caracterizadas pela participação em redes sociais virtuais da web, como Facebook, Instagram e Twitter. As redes potencializam a interação independente de hierarquias, a convivência com a abundância de informações disponíveis em distintas fontes - nem sempre confiáveis -, o estabelecimento de relações entre informações, a produção, o compartilhamento e a publicação de novas informações, a manifestação de opiniões para apoiar ideias, contradizer e explicitar valores de acordo com a ética que orienta as relações do sujeito com os outros e mobilizar pessoas para uma ação comum, em busca de atingir objetivos acordados socialmente.

 

Para os pesquisadores, o maior desafio é superar a “instrução ditada pelo livro didático, centrada no dizer do professor e na passividade do aluno”. Acreditam que “práticas sociais inerentes à cultura digital, marcadas pela participação, criação, invenção, abertura dos limites espaciais e temporais da sala de aula e dos espaços formais de educação” podem vir a integrar “distintos espaços de produção do saber. Para tal, indicam como central “reconsiderar o currículo e as metodologias que colocam o aluno no centro do processo educativo e focam a aprendizagem ativa”. No texto, conceituam metodologia e aprendizagem ativas, além de identificar pontos de convergência entre os dois conceitos, apresentar distintos modos de trabalhar com metodologias ativas em diferentes níveis de ensino e provocar uma reflexão crítica sobre suas contribuições e limites quando as metodologias se desenvolvem com a midiatização das TDIC. Nas referências desse texto, te informo como acessar o original.

Concluindo...

No cenário educacional contemporâneo há significativos desafios a serem afrontados por nós, professores, na promoção de aprendizagens e, dentre elas, as mais significativas. O fenômeno mais desejado parece ser conquistar e manter a atenção e o comprometimento de crianças e adolescentes que, diante de retornos indiscriminadamente intensos, frequentes e fugazes que as tecnologias digitais lhes aportam, ainda não desenvolveram habilidades de seleção do que realmente importa para sua presença no mundo do conhecimento.

Ao buscar “metodologias ativas”, ou seja, procedimentos técnicos e saídas eficazes para acessar o saber, muitos de nós imaginamos que estamos diante de uma grande novidade e, ao aprender essa ou aquela artimanha, procedimento, tática, artifício, esquema, recurso, conseguiremos ter “de volta” a criança ou o adolescente que sempre sonhamos: integrado, curioso, atento, interessado, colaborativo.

 

É de artimanhas que precisamos?

Compreender como essas abordagens influenciam a motivação dos estudantes, a retenção dos saberes constituídos e o desenvolvimento de habilidades críticas, porém, requer conhecer para que estudamos. Por que a humanidade escreve memórias? Quais destas memórias são consideradas conhecimentos indispensáveis para a vida em sociedade? Como estas memórias se transformam em currículos escolares? Como são escalonadas para integrar os graus e níveis de escolaridade? O que nós, como sociedade, deixamos de fora destas listas e abordagens e por que o fazemos?

 Penso que é de grande valia circunscrever obstáculos percebidos pelos educadores na implementação de metodologias, mas, além destes, urge que saibamos de onde viemos e para onde vamos. Ou, de onde imaginamos que viemos e para onde desejamos ir.

A efetividade do processo educacional não pode estar a serviço, apenas, de um calendário organizado em ciclos e mediado por técnicas. Necessário que, a cada tempo transcorrido e novo ano de saberes conquistado, saibamos o quanto mais íntegros, solidários, cuidadores de nós, do outro e do planeta nos tornamos. Esse é o papel da escola! Ela foi inventada para nos encontrarmos, nos olharmos, nos cheirarmos. Ela foi instituída para que saibamos que em bando, podemos ser melhores. E que as regras podem ser avaliadas, modificadas, reinventadas, mas, que sem elas, somos erráticos.

Não nos faltam conteúdos, leis, regras, metodologias. Não nos faltam conhecimento escolar. Nem livros, professoras e professores dedicados, estudiosos, comprometidos. Sim, pode ser que não tenhamos tantos aparelhos de ar condicionado nas escolas, mas ainda sabemos plantar árvores.

Ao listar e conceituar um grupo de “metodologias ativas” que estão sendo propostas atualmente, tive o intuito de perguntar: será que são elas que desempenham papel crucial nos processos de ensino e aprendizagem em curso? Têm elas o poder de serem nomeadas como responsáveis por experiências mais participativas e significativas nas escolas? Ao declarar que suas abordagens são inovadoras e centradas nos/nas estudantes, garantimos ambientes educacionais mais dinâmicos e envolventes? Será que com elas garantiremos sombra e água fresca?

Para saber mais...

Quer conhecer dois textos sobre o tema?

1.    As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes, de Neusi Aparecida Navas Berbel, disponível em: <http://proiac.sites.uff.br/wp-content/uploads/sites/433/2018/08/berbel_2011.pdf>.

2. Metodologias ativas: das concepções às práticas em distintos níveis de ensino. Revista Diálogo Educacional. Curitiba, junho de 2017. Disponível em http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-416x2017000200455



[1] Campo semântico é o conjunto formado pelos diversos sentidos que uma única palavra pode apresentar quando inserida em contextos diversos. Quer saber mais sobre o tema? Clique em https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/portugues/o-que-e-campo-semantico.htm.


domingo, 9 de fevereiro de 2025

Pedagogia: apreço à pluralidade do aprender, ensinar, pesquisar e divulgar

 

Pedagogia

Cristina Maria Rosa


A Pedagogia pode ser compreendida, conceituada, percebida como uma estratégia política? A pedagogia se conforma, se organiza como “práticas e experiências” que visam ensinar algo? Ela poderia ser conceituada como “articuladora” de processos educativos? Por haver múltiplos lugares de aprendizagem ela seria uma das profissões envolvidas em diferenciados processos educativos? Perguntando de outro modo, padrões de consumo moldados pela publicidade empresarial podem ser considerados fruto de políticas educativas? Há uma “pedagogia” para consumo?  Neste caso, artefatos midiáticos[1] poderiam ser produtores de "pedagogias"?

A existência de relações de ensino e aprendizagem em diferentes nichos sociais regulados pela cultura seria o imperativo pedagógico contemporâneo? Por ocorrem em vários lugares da cultura e não apenas na escola, as plurais e diversas mediações que intencionam o ensino e aprendizagem seriam “pedagogias”?

 O novo milênio, recém iniciado e já finalizando seu primeiro quarto, engendra poucas e nem sempre novas questões para todos nós, profissionais da educação cujo produto não pode ser conhecido sem o passar do tempo. A distinção ou pretensa igualdade entre os termos Pedagogia e seu plural – pedagogias – é uma destas “questões”.

Formação pedagógica

Parte da formação continuada em qualquer profissão é ler. Sobre a formação, o exercício e os impactos dela na sociedade. Mas não só...

Pedagoga, há algum tempo tenho me defrontado com o uso – em textos, propostas e comunicações – da expressão Pedagogias.

Ao ler o substantivo Pedagogia pluralizado, aciono a possibilidade de compreender o termo como sinônimo, entre outros, de atividades pedagógicas estratégicas ou ferramentas planejadas com o objetivo de promover o aprendizado. Ou ainda, métodos e processos específicos para um público selecionado e até proposições dirigidas a níveis ou modalidades de ensino. Pedagogia, nestes exemplos, seria um modo, um meio, uma fórmula ou tática, um mecanismo e/ou dispositivo e, até, um artifício ou esquema e até uma técnica que, uma vez aprendida, ao ser acionada produziria os resultados desejados.

Neste espectro conceitual, caberia mencionar as variadas e consolidadas proposições teóricas e metodológicas que ao fim do século XIX e durante todo o XX, deram margem e até mesmo engendraram o uso do vocábulo “pedagogias”: as tendências pedagógicas. Estas, de orientação liberal ou progressista, assumiram para si e como suas, a totalidade da profissão, especialmente em escolas. Ao me convencer de suas verdades, teria havido, durante todo esse tempo, a formação de docentes (pedagogos e pedagogas, em especial), para o exercício de uma educação liberal e, em seu oposto, para uma educação progressista, cada uma delas fracionada por categorias mais ou menos conservadoras ou libertárias. Penso que a concomitância dessas abordagens, poderia, sim, ter dado impulso ao uso do termo pedagogia em sua flexão de número: pedagogias.

Mais recentemente, expressões como pedagogias ativas (incentivado a participar ativamente da construção do conhecimento com foco na autonomia, criatividade e protagonismo, nesta abordagem o educando é centro do processo de aprendizagem), pedagogias renovadas – cujo foco é a adaptação a exigências da sociedade globalizada do conhecimento – e pedagogias culturais – invenção originada na ampliação da noção de lugares de aprendizagem e de processos educativos que extrapolam o âmbito escolar – têm sido mencionadas

Pedagogia

Quase uma sinédoque – recurso estilístico que se serve da figura de linguagem para substituir uma palavra por outra pela proximidade de sentidos entre ambas – em raras publicações sobre esses termos a Pedagogia, como profissão, é conceituada. Aproveitando-se da compreensão generalizada, do senso comum sobre parte dos saberes que circulam sobre essa profissionalidade – a profissão e seu exercício em sociedade – usuários do termo “pedagogias” ignoram ou fazem questão de não mencionar que a Pedagogia é um campo da ciência que estuda o ensino e a aprendizagem. Envolve a compreensão de como as pessoas aprendem, como as diferenciadas gerações dão sentido e significado ao conhecimento, à cultura, às relações éticas e políticas.

Área de estudo focada na educação e no desenvolvimento humano, a Pedagogia intenciona compreender fenômenos educativos em larga escala e também individualmente, uma vez que a aprendizagem de cada um é fundamental para a vida em sociedade. É por sua importância na vida individual e de pequenos grupos assim como na dos demais, que há tantas modalidades de educação no país.

A Pedagogia, também, é capaz de indicar quais os mais eficientes e eficazes modos de uma nação obter, via processos de estudo, pesquisa, organização metodológica e publicização de saberes, as aprendizagens essenciais, as habilidades e as competências que todos têm o direito de ter, mobilizar, usufruir.

Por estar assentada sobre áreas consistentes de pesquisa – psicologia, linguagem, sociologia, história, política e ciências, entre outras – e ser integrada por suas descobertas e consensos, a Pedagogia oportuniza olhar para processos de ensino e de aprendizagem a partir de diferentes perspectivas. Apesar de ter como imperativo profissional responder socialmente pelas aprendizagens essenciais circunscritas por conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que devem ser mobilizados, articulados e integrados pelos “sujeitos educados”, a Pedagogia extrapola o “fazer”.

Por sonhar, desejar, investir em uma sociedade que tenha como princípio a liberdade e tenha como ideal a solidariedade humana, a Pedagogia pode e deve ser pautada pela igualdade de acesso e permanência de todos em processos educativos. Através da defesa de um utópico pluralismo de ideias, a Pedagogia indica ter apreço à tolerância e respeito à diversidade, pluralidade e liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar saberes.  Em busca de um padrão de qualidade de aprendizagem e ensino, mas, também, de acesso a processos educativos e suas variadas consequências, a Pedagogia importa-se com o eu, o nós e o outro.

Ao desejar, desde tenra idade, que todos façamos parte de uma educação ao longo da vida, ou seja, que todos sejamos aprendizes e ensinantes do que temos de melhor em busca do sermos capazes de contribuir com a sociedade de forma significativa, produtiva, ética, priorizando o bem comum, a Pedagogia se insere e se pauta nos ideais e princípios da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, uma conquista de toda  nação. Inspirada em princípios, a Pedagogia como campo de formação de profissionais tem por finalidade o pleno desenvolvimento humano, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho.

Pedagogias e seus quetais...

A Pedagogia, por se ocupar com habilidades e competências necessárias para que todos se desenvolvam de forma a que tenham condições e oportunidades de contribuir para a sociedade, tem sido confundida.

Confundida com métodos, processos, artimanhas e estratégias.

Sim, há métodos, na Pedagogia.

E sim, há processos, artimanhas e estratégias no fazer pedagógico.

Sim, não se pode negar que a Pedagogia oferece a professores, gestores e a outros profissionais não tecnicamente habilitados para os processos formais do educar, ferramentas e técnicas que tem como intuito melhorar a qualidade dos procedimentos de aquisição de saberes não apenas formais, escolares, listados em diretrizes, bases e parâmetros. A Pedagogia tem o bom hábito de não escolher destinatários: ela é pública e de qualidade e não se nega a promover o desenvolvimento de habilidades educacionais amplas que possam vir a ser generalizadas.

E, com certeza, o conhecimento produzido pela Pedagogia, apesar de peculiar por todos os seus atributos como campo de saber que extrapola mas não prescinde do fazer, pode vir a ser aplicado para melhorar outros e variados “métodos”.

Intencionalmente criados para os processos que ocorrem na escola – maior e mais consistente local de convivência desde tenra idade no Brasil – os modos de ser e estar pedagógicos se relacionam mais intimamente de que conseguimos supor com o projeto de nação que temos. Individualmente e como país. Esses “modos de ser e estar”, no entanto, são autorizados, cerificados, diplomados.

Instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, as Universidades brasileiras se caracterizam pela produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional.

Assim, é nela, a Universidade, que a Pedagogia é tratada. Comprometida com todas as leis que regem e normatizam a educação escolar no país, seus currículos são reavaliados sistematicamente, seus egressos são experimentados nos diferenciados locais de trabalho e seus efeitos são conhecidos em graus e níveis de escolaridade, domínio de saberes e usufruto da cultura no sentido amplo. Não há nenhuma outra profissão que abranja tantos processos, tantas pessoas, tanta importância, pois não há um só pesquisador ou profissional técnico e tecnológico “de ponta”, em qualquer outra profissão, que não tenha aprendido a ler e escrever.

Finalizando...

Em um texto intitulado Discursos sobrte o profissionalismo docente: paradoxos e alternativas conceptuais, Maria Assunção Flores indica que "mudanças sociais, culturais e políticas têm tido repercussões no trabalho" de professores de uma maneira geral. Entre elas, "maior ceticismo em relação à sua autoridade, uma cultura consumista e transformações nas tecnologias de informação e comunicação". A autora, porém, observa que, apesar disso, "os professores têm respondido de diferentes modos a esses desafios em diversos contextos, com implicações ao nível do profissionalismo docente e das suas identidades profissionais".

Nesta mesma linha e finalizando, penso que, embora muitas vezes seja associada à prática de algum ensino, a Pedagogia é uma forma de pensamento e linguagem, atitude e intervenção, sonho e realidade que, em contraste com as demais já experimentadas e convivendo com a pluralidade de todas elas, se oferece como base para a educação na vida das pessoas em sociedade.

Saber mais...

Para saber mais de Maria Assunção Flores leia Discursos sobrte o profissionalismo docente: paradoxos e alternativas conceptuais. Disponível em:  https//www.scielo.br/j/rbedu/a/nRWmGDz4XZ6zZWSzpV5VWLS/





[1] Produtos ou elementos criados e disseminados por meio de diferenciadas plataformas como jornais, rádio, televisão, revista e internet, artefatos midiáticos são textos, imagens, áudios, vídeos, animações, infográficos ou outros, criados para entretenimento, educação, publicidade, informação e/ou outras finalidades. Podem desempenhar papel importante na forma como consumimos e interagimos com a informação e a cultura.

Aprendizagens essenciais: um desejo

 

Aprendizagens essenciais: um desejo

Cristina Maria Rosa

A Base Nacional Comum Curricular, aprovada no país em 2017, é resultante de trâmites que envolveram diversos atores: professores, gestores, pesquisadores, estudiosos, juristas, entre outros. Ao fim de um período de estudos e proposições, o Ministério da Educação entregou ao Conselho Nacional de Educação o texto para que, em audiências públicas de caráter consultivo em Manaus, Recife, Florianópolis, São Paulo e Brasília, fossem colhidas contribuições para a elaboração final da norma.

A BNCC, como é conhecida, precisou do CNE – órgão normativo do sistema nacional de educação – que tem como dever apreciar (ler, compreender, avaliar e avalizar, de acordo com a Lei 9131/95) o “rascunho” para produzir um parecer com destino a um projeto de resolução que, ao ser homologado pelo Ministro da Educação, se transformou em norma nacional.

Assim, em uma forma simples de conceituar, a BNCC pode ser descrita como um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico – pertinente e articulado – e progressivo (que se complexifica com o avançar dos anos de escolaridade), de aprendizagens essenciais que todos as crianças, adolescentes e jovens que estão inseridos no sistema de educação devem desenvolver ao longo das etapas (educação infantil, ensino fundamental e médio) e modalidades (EJA, educação especial, EAD, indígena, do campo, quilombola, bilíngue de surdos e profissional e tecnológica) da Educação Básica.

O foco dessa normativa é assegurar os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei no 9.394/1996) e a Constituição Federal de 1988.

Parecem muitas regras, pareceres, normativas? Todas elas são necessárias e, de algum modo, atualizam a pauta sobre o que devemos, como sociedade, oferecer às novas gerações em termos de escola, conhecimentos, habilidades, valores e atitudes. Orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, a BNCC foi elaborada e é destinada exclusivamente à educação escolar e integra as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica.

 

As consultas públicas

Nas reuniões que ocorreram em todo o país durante a apreciação da proposição, 235 documentos foram protocolados com contribuições recebidas no âmbito das audiências públicas, além de 283 manifestações orai, consideradas essenciais para que os conselheiros tomassem conhecimento das posições e contribuições advindas de diversas entidades e atores da sociedade civil e, assim, pudessem deliberar por ajustes necessários para adequar a proposta considerando as necessidades, interesses e pluralidade da educação brasileira.

No dia 15 de dezembro, o parecer e o projeto de resolução apresentados pelos conselheiros relatores do CNE foram votados em Sessão do Conselho Pleno e aprovados com 20 votos a favor e 3 contrários. Com esse resultado, seguiram para a homologação no MEC, que aconteceu no dia 20 de dezembro de 2017.

 

Valendo...

E no dia 22 de dezembro de 2017 foi publicada a Resolução CNE/CP nº 2, que institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular a ser respeitada obrigatoriamente ao longo das etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Básica.  Lembrando que a BNCC aprovada se refere à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental, sendo que a Base do Ensino Médio será objeto de elaboração e deliberação posteriores.

Quer saber tudo sobre esta importante normativa?

Acesse http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/base-nacional-comum-curricular-bncc