quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Le storie di Lupo

 


Le storie di Lupo

Cristina Maria Rosa

Escrito por Philippe Jalbert e traduzido para o italiano por Giulia Calandra Buonaura, Le storie di Lupo (2022), é uma storie divertente, ou seja, uma paródia. Não de uma história, mas, sim, de um grupo de referências que temos sobre o personagem lobo e suas aventuras na floresta.

A paródia tem como intuito criticar e/ou ridicularizar algo ou alguém e, assim, apresenta-se como uma forma de arte literária. O maior ganho no uso desta forma de escrita é a presença e o aprimoramento do senso crítico do leitor em relação a temas polêmicos.

Prometendo ao leitor acesso a uma “Storie divertente com del vero lupo dentro”, o livro oferece, na primeira e também na última capa, informações suficientes para ser lido, apreciado, adquirido. Como exemplo, em um dos paratextos impresso na última capa esta escito: “Il lupo è arcistufo dei soliti conigli selvatici. Qui ci vuole qualcosa di nuovo de mettere sul menù… Che por trovarlo debba avventurarsi fuori dal bosco?” Em uma tradução livre seria: O lobo está enjoado de só comer coelhos selvagens. Quer inserir algo novo em seu cardápio. Por que, para encontrar, deve aventurar-se fora do bosque? É um convite ao leitor para descobrir a trama. Mesmo assim, leia antes de comprar.

Formato

Nem grande, nem longa, a edição que avaliei foi impressa em junho de 2022 na França e Editada pela Franco Cosimo Panini Editore S.p.A em Modena, Italia, neste mesmo ano. Possui capa acartonada (24 cm de altura, 20,5 cm de largura e lombada de um centímetro), guarda ilustrada e vinte e cinco páginas de miolo em papel sulfite. Ilustrado em cores com destaque para o vemelho e o preto, seu grande “jogo” é a cara de nojo do lobo diante de suas “velhas” possibilidades alimentares: galinhas, carneirinhos, porquinhos e – não podia faltar – a Chapeuzinho Vermelho.

A maior parte das cenas contidas no livro estão alocadas em duas páginas e, nelas, o lobo sempre aparece forte, grande, assutador e com uma bocca più larga (muito grande). Ilustrada, a guarda – folhas que une a capa ao miolo – dá ênfase aos personagens em difentes momentos do livro, reproduzindo-os em um quadriculado que mais parece uma HQ.

Por que ler Le storie di Lupo…

Entre as boas razões para indicar a leitura, compreensão e posse do livro de Philippe Jalbert (2020) estão:

1. Conhecer o que é e como se faz uma excelente paródia. Neste caso, qualificada por se referir a vários momentos da vida do personagem que foi vencido, em diferentes a anteriores embates com outros personagens. O autor conta com esse saber do leitor, aciona seu repertório. Na verdade, precisa dele para brincar. Conhecer e se deliciar com o humor de Jalbert (2020) em Le storie di Lupo é usufruir do ridículo, do pedantismo e, por fim, do medo da personagem central da narrativa.

2. O segundo motivo é o investimento em uma atividade intelectual bastante intensa: compreender a obra. Único para cada leitor, o exercício de decodificar, pensar sobre, imaginar, inferir, depreender, conjecturar e comparar são atributos da leitura que instigam a inteligência humana e, desse modo, produzem sapiência, vínculo e gosto pela leitura.

No caso de Le storie di Lupo, de Jalbert (2020), a coerência advém da dieta real do personagem, ou seja, lobos comem coelhos, galinhas, porcos, carneiros. Essa “coerência” leva à aceitabilidade da paródia, um tipo de intertextualidade. São elementos que permitem e oportunizam a compreesão e até incentivam uma análise crítica. A pergunta imediata que surge é: Lobos enjoam de comer sempre a mesma coisa?

Por fim, defendo a aquisição da obra. Fenômeno vivido por mim o riso – só pode ocorrer se tivermos Le storie di Lupo, de Philippe Jalbert (2020), em nossas bibliotecas, para ler e reler tantas vezes quantas desejarmos.

sábado, 24 de setembro de 2022

Uma montanha de livros


La montagna di libri più alta del mondo

Cristina Maria Rosa


Livros escritos para a infância que, no título, mencionam “leitura” ou “livros”, imediatamente, capturam a minha atenção. O mesmo ocorre quando a imagem da capa sugere ou explicita essa prática cultural. Foi o que ocorreu com La montagna di libri più alta del mondo, de Rocio Bonilla (2021). Ao observar a seção de livros para crianças na Libri di Eppi – a Livraria que fica na Via Piazzi, 7, em Torino –, a imagem e o título deste livro me fez selecioná-lo para uma primeira leitura. Na segunda, me convenci: deveria adquirí-lo.

A capa...

Uma pilha de livros sustenta, acima das árvores – nas nuvens – um guri.

Ele parece tranquilo, relaxado, deitado sobre uma improvável montanha.

De livros.

Ele está corado, indicando emoção.

Curioso, concentrado, comovido, ele lê.

Para complementar o culto ao livro – e à leitura – passarinhos silenciosos respeitam o abandono ao prazer que o personagem indica viver: todos olham para cima, como se acompanhassem a leitura ou observassem as imagens contidas no livro.

Singela, a ilustração.

Mas convincente.

É uma ilustração originalmente em aquarela e seus tons pasteis convidam à admiração das margens, das cores, dos detalhes.

Ler, nesta capa de livro, parece ser uma atitude em ascendência: quanto mais se lê, mais se quer ler, diz a mim a imagem.

O livro

A trama não é desconhecida: um menino, desde bem pequeno, sonha voar. Tenta muitas vezes e de vários modos. Constroi asas – grandi, piccole – e de vários materiais: le piume (com penas), com la carta (de papel) o il cartone (de papelão). Um dia, a mãe, inteligente, oferece a ele a única possibilidade que humanos tem de voar sem correr os riscos que asas inventadas ocasionam.

Ci sono altri modi per volare, diz ela. E põe un libro nelle sue mani. Há outras maneiras de voar, diz ela, e lhe oferece um livro.

O menino amò così tanto la storia che mamma gli aveva regalato che la finì tutta d'un fiato. Gostou tanto da história que a mãe lhe havia presenteado que a terminou em um instantinho.

E…

Iniziò um altro libro

É desse modo que o personagem inicia seu voo. É assim que a “montanha” de livros começa a ser “edificada”.

Créditos e formato

O título original da obra é La muntanya de libres més alta del món e a Editora que primeiro a publicou foi a Bromera (S.L. Alzira, 2015). A primeira versão italiana ocorreu em março de 2018. É uma obra recente, portanto. A décima reimpressão ocorreu em outubro de 2021 e foi um exemplar desta que avaliei. Editada pela Valentina Edizione (Milano, Italia), possui 27,5 cm de altura, 21,5 cm de largura e lombada de um centímetro. Com guarda ilustrada e quarenta e duas páginas (miolo) em papel couche, as ilustrações tornaram o ivro uma obra de arte!

Avaliando a obra…

La montagna di libri più alta del mondo, de Rocio Bonilla (2021) foi elaborada com um argumento simples: antes de conhecer o poder do livro e da leitura, o personagem tem a oportunidade de elocubrar outras saídas para realizar seu desejo. O autor relata cada uma delas e todas são compatíveis com a inventividade e a imaginação infantil.

Voar é um sonho que mescla mitologia e realidade. Baseado nas ideias de Arquimedes e Bacon, Leonardo da Vinci (1452-1519) desenvolveu um protótipo de um helicóptero. O desenvolvimento tecnológico e científico da época, no entanto, não permitiu que realizasse o feito de ver sua invenção alçar voo. Já no início do século XX, Alberto Santos Dumont (1873-1932) inaugurou a era pioneira da aviação sendo o primeiro a demonstrar publicamente seu voo em uma aeronave, o 14 Bis1Atualmente, há inúmeras maneiras de voar e, mesmo assim, poucos, bem poucos de nós podem voar sós, como pássaros.

Mais próximo de Ícaro que de Santos Dumont, o personagem Lucas, em La montagna di libri più alta del mondo (2021), cria artefatos voadores com materiais que possui e, este modo infantil mas também histórico de pensar e fazer, torna a trama verossímil. E é a verossimilhança – no sentido de possível e até provável – que convence o leitor das artimanhas do menino.

Para além deste aspecto, se apaixonar pela leitura é parte fundamental da formação de qualquer novo leitor e, assim, se fecha o ciclo de “recados” que Roccio Bonilla (autor e ilustrador) propõe.

A obra tem argumento, ele é convicente, não há exageros. Pode ser lido, apreciado, compreendido. E, tão importante quanto, pode integrar um belo projeto de formação de leitores.

Eu recomedo!

1 Nota: Em “O sonho humano de voar: do mito de Ícaro e Dédalo ao avião de Santos Dumont”, Borges, Chaves e Araújo (2021) conjecturam que retratar tais narrativas é relevante para iniciar o diálogo sobre as aspirações humanas a partir do mito até que se chegue à concretização do que seria uma das maiores invenções da humanidade. Fonte: International Journal of Development Research Vol. 11, Issue, 06, pp. 47574-47575, June, 2021 https://doi.org/10.37118/ijdr.21890.06.2021.



quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Catalogo dei Genitori


Catalogo dei Genitori

Cristina Maria Rosa

Os teus parentes são “pesados”, cansativos? São ávaros, grudentos, pegajosos e te interrompem a toda hora? Troque-os! São nervosos, irritadiços, esquisitos? São descomprometidos? São chorões, se lamentam o tempo todo? Babões, faladores, chatos, indecisos? Troque-os!

Esse instigante e bem humorado grupo de perguntas encontra-se entre os elementos pré-textuais do livro Catalogo dei Genitori (PONTI, 2020). Anunciando o conteúdo, convida o leitor a se deliciar com a possibilidade de trocar seus familiares por outros. No livro, ainda, indicação de como proceder em caso de scambio e uma revelação: local e afazeres dos familiares originais depois de entregues para permuta.

Imperdível!

O livro

O nome – Catalogo dei Genitori – anuncia uma brincadeira a partir de uma constatação: há “tipos” – modelos, espécies, feitios, exemplos, figurinos, ideias ou moldes – de comportamentos que pessoas, quando em maternidade ou paternidade, expressam, revelam, adotam. Assim, neste inventivo e curioso catálogo, escrito e ilustrado por Ponti e impresso pela primerira vez em 2008, cada um pode se encontrar: como filho/filha, como mãe/pai e, também, como tias/tios, avós/avôs. Desde a capa, o auteur-ilustrateur Claude Ponti, sugere a existência de uma variedade de “modelos” familiares. Tanto no título como na ilustração. E, em um subtítulo, a intenção: dedica o livro a crianças que querem “trocar” de família, mais especificamente, de mães e/ou pais.

No índice há trinta e cinco espécies de genitores, entre eles, aventureiros, biodegradáveis, discretos, solitários, complicados, malvados, ausentes. Ao fim de cada descrição, Claude Ponti sugere qual o “tipo” de filho que suporta esses “feitios” de familiares. Em alguns casos, são crianças misteriosi e ribelli; em outros, sensibili al rumore. Em outros ainda, bambini a cui piacciono le sorprese e il cambiamento. Esse “detalhe” na proposta filosófica do livro é uma deliciosa descoberta!

Novità

No catálogo, nem todos os genitores são uma dupla heterosexual. Apresentados como “novità novissima”, há entre as espécies descritas, Le cinque mamme (as cinco mães) e I cinque papà (os cinco pais), personagens definidos como dotados de características múltiplas que os tornam, eventualmente, mães, pais, tios, amigos, confidentes.

Há, também, I compositi (parentes dotados de variados atributos que atuam em “bando” ou bloco e oportunizam às crianças curiosas provarem numerosos modos de viver) e La leisola, uma mulher que, por escolha ou acaso, tornou-se mãe. No livro, é descrita como alguém que vive molte vite nello stesso tempo (muitas vidas ao mesmo tempo). E há, ainda, casais em que se destaca o comportamento de um dos dois, como em Il kerobustoive (pai inflexível, decidido, forte, colérico e mãe ausente ou invisível) ou em La kerobusta, em que os papeis se invertem e o pai é que se invisibiliza.

Formato

O formato?

Exuberante!

A edição que avaliei foi impressa em novembro de 2020 em Milano, Italia. Possui capa acartonada (38,5cm de altura, 27,5 cm de largura e lombada de um centímetro), guarda ilustrada e quarenta e cinco páginas de miolo em papel couche. Ilustrado em cores, a maior parte dos “modelos” de familiares contidos no “catálogo” aparece em duas páginas: em uma, texto; na outra, a ilustração. Seu título original é Catalogue de parents e foi impresso pela primeira vez em Paris (L'écoleloisirs, 2008). Traduzido para o italiano pela Babalibri srl, Milano, em 2009, é dedicado aos genitores do autor.

Avaliando a obra…

A obra não deixa de me surpreender. Já percorri suas páginas duas ou três vezes e, a cada leitura, descubro algo que ainda não percebera. Atribuo parte deste deslumbramento ao contato com minha segunda língua, o Italiano e com a Literatura disponível para crianças aqui. Mas, inegavemente, o livro é impactante.

Qual é sua potência? Penso que ao descrever ideias ou moldes de comportamentos adotados por pessoas quando em maternidade ou paternidade, propiciam que todos, não apenas os pequenos, se observem como espécie que se repete. Nos cuidados com a prole, indicamos como desejamos que a humanidade deve se portar, quais nossas expectativas acerca dos outros e de nós mesmos. O livro é uma possibilidade de reflexão. Ora sutil, ora escrachada, sempre intensa!

Três boas razões para ler, compreender e ter Catalogo dei Genitori

Sim, tenho três boas razões para indicar a leitura, compreensão e posse da obra Catalogo dei Genitori, de Claude Ponti (2020).

Ler uma obra, sempre, é presentear-se com mais uma imagem que a humanidade faz de si mesma. Assim, ler Catalogo…, com certeza, é conhecer e se deliciar com o humor de Conti. Ler esta obra é observar o ridículo, o exagero, a esquisitice, a violência de alguns parentes. É ainda, perceber o descompromisso, a chatisse, a indecisão e o abandono que alguns de nosso familiares nos oferecem e/ou impõem. Se há “tipos” maravilhosos no livro? Quase não. Se houvesse, quem os trocaria por outros?

Compreender uma obra é uma atividade intelectual bastante intensa. Único para cada leitor, o exercício de decodificar, pensar sobre, imaginar, inferir, depreender, conjecturar e comparar são atributos da leitura que instigam a inteligência humana e, desse modo, produzem sapiência, vínculo e gosto pela leitura.

A textualidade que todo livro deve oferecer ao leitor é composta por elementos que o tornam “comunicação”. Por “textualidade” entendo a presença de coerência, coesão, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade. Catalogo dei Genitori possui todos esses atributos e, ainda, valores morais e culturais. Desse modo, se apresenta plenamente apto a ser lido, compreendido e analisado criticamente.

Por fim, defendo a aquisição da obra. Fenômeno vivido por mim – a reiterada leitura de Catalogo dei Genitori (Conti, 2009), que gera uma infinita quantidade de novas e outras interpretações – só pode ocorrer se a tivermos em nossas bibliotecas.

Créditos:

ISBN: 978-88-8362-200-7

Via Brisa, 3 – 20123 Milano – info@babalibri.it