quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Uma carta para o GELL

 

Queridos colegas do GELL

Escrevo hoje para lhes contar uma novidade que não é nova, mas acho que novidades não precisam ser tão novas desde que sejam boas. Enfim, comecei o doutorado! Foram meses de espera e tentativas até que em setembro de 2021, recebi a notícia da aprovação do meu projeto e bolsa. Mudei para São Carlos, SP, e comecei minha aventura no Instituto de Química de São Carlos (IQSC-USP). Vocês devem estar se perguntando por que somente agora estou lhes contando isso. A verdade é que nem eu acreditava no que estava (ainda está) acontecendo. O primeiro semestre exigiu muita dedicação e busca por profissionalismo. Se existe algo que nem sempre nos é dito na pós-graduação, é o fato de que não somos mais somente estudantes, somos profissionais também. Diante deste cenário, nos exigem excelência em aprender e colocar em prática o que foi aprendido. Precisei parar para repensar na profissional que sou e na que quero me tornar. Então, olhei muito seriamente para dentro de mim e procurei esta pessoa. Vocês não vão acreditar no tanto de gente que tinha morando lá! Encontrei uma pesquisadora (ufa!), programadora, uma pessoa com algumas habilidades de gestão, entre outras personalidades. Estava bem contente com as Carininhas que conheci, quando percebi que faltava uma. “Cadê a Profe que tava aqui?”, perguntei. Ninguém respondeu. Passei um certo tempo buscando por ela. A ideia de perdê-la trouxe o sentimento de não pertencimento. Comecei a pensar que havia feito a escolha errada e que este não era o meu lugar. Eis que um dia houve um projeto em dada disciplina, que exigia colaboração e troca de conhecimentos entre os alunos. Uma perguntinha aqui, uma resposta lá…e eu já não estava sozinha em minha busca. Assim, timidamente, a professora apareceu. Não só isso, ela encontrou nos meus colegas outros professores também. Ai que alívio! Hoje, não nos separamos mais. Por vezes, preciso dar mais atenção às outras profissionais que habitam este 1,60 m de pessoa. Porém, basta uma oportunidade de trocar e compartilhar conhecimento, que a “profe” aparece. Ela vem meio cabreira, espia, avalia a situação e sempre acaba por se manifestar. Nós duas temos planos, coisas grandes, como são todas as ideias antes de assumirem uma forma concreta. Em outra oportunidade, eu conto tudinho para vocês. Por hora, só vim mesmo contar uma velha novidade.

Abraços, com saudades, Carina.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Um continho que estava guardado...


Calça cor de creme

Cristina Maria Rosa

 

De manhã, acordava em casa, quase sempre.

No barraco de chão batido, rolava um café e um banho.

Depois, o modelito para o translado: calças cor de creme, camisa colorida – vermelha, quase sempre, amarela, azul ou verde, eventualmente. Raramente, branca.

Em dias especiais, a beca poderia ser composta por um tom – a mais ou a menos – da sempre impecável calça cor de creme. Era bege, para alguns. Cor de caramelo para outros.

Todos já entenderam.

Então, na iminência do ônibus que o levava ao centro – ao trabalho – em uma banca ali pertinho, adquiria o jornal.

Todos os dias.

Qual jornal? Não recordo.

Mas lia, no ônibus.

Todinho.

Mesmo.

Sabia o que ocorria na capital, nos bairros da cidade, alguma coisa de Brasília...

Sabia dos empregos que, nos classificados, empresas ofertavam. Tanto que um dia se foi.

Se apresentou na capital. Fez teste ao vivo e...

Deu um show!

Quando voltou, alguns poucos anos depois, contava barbaridades. Todos duvidavam.

Ele? Jornal embaixo do braço ao chegar no velho e bom emprego, calças impecavelmente frisadas, oferecia com algum desdém: alguém quer ler?