terça-feira, 4 de maio de 2021

Um abraço e um chá



Ler, escrever e tomar chá

Cristina MAria Rosa

Um abraço e um chá é quase tudo o que desejo com minhas minhas queridas alunas da UNAPI. Por enquanto, esse desejo só se realiza virtualmente. Mas... Ler, escrever e conversar não está proibido. Então, inventamos em dezembro e agora, em maio, está prestes a chegar a nossas telas, para leitura, "Um abraço e um chá". É um e-book que escrevemos como uma das tarefas da nossa disciplina LiteraturaNo e-book, meu conto se intitula "Véspera de Natal". Leia:



Véspera de Natal

Cristina Rosa

Manhã, em meu jardim. Como de costume, eu lia o jornal e tomava café. Perto de mim, as orquídeas que pela primeira vez floresceram, o ipê amarelo prometendo e minha gata, Áfia Libni, fazendo manha.

Em uma coluna que noticia fatos do passado, li que, há 50 anos, uma jovem de 15 anos, saiu para entregar presentes para a vó.

Era véspera de Natal.

Em minha casa e na notícia lida.

Esse ano, sem meu filho querido por perto e sem poder visitar a família, estávamos só nós dois, Alex e eu, arrumando o presépio, a árvore, as guloseimas. Eu já fizera Sagu – uma receita da Tereza –, me preparava para fazer um Bolo de Natal e andava feliz da vida, inventando com minha nova Batedeira.

No jornal, a morte da jovem foi noticiada.

Morte não combina com Natal, que é a festa do nascimento. Em minha família, Natal é uma data forte, sempre foi comemorada, visto que Stefano Guiseppe, meu pai, amava presépios.

Li novamente a coluna: “Há 50 anos, uma jovem de 15 anos, que saiu na véspera do Natal para entregar presentes para a vó...”

E fiquei pensando:

Morta. Soterrada sob a neve. Nos arredores de Londres. Na moderna Inglaterra?

A manhã, em meu jardim, apesar do verão, se tornou cinza.

Até flocos de neve senti...

Me recolhi.

A batedeira, sobre a bancada, já não mais me convidava a mais e novas guloseimas.

Passei a confabular comigo mesma: Que presentes entregaria a jovem? Por que saíra sozinha? Teria encontrado no caminho a neve, em uma tempestade violenta?

Segundo a notícia, o mau tempo dificultou o trabalho da polícia, que acreditou se tratar de um caso de assassinato.

Assassinato? Como assim? Por que matariam uma jovem, quase menina, às vésperas do Natal? Quiseram seus presentes? Eu insistia em não acreditar...

Resolvi desbaratar esse crime.

Não sosseguei enquanto não convidei meus alunos, da UNAPI, a encontrarem hipóteses plausíveis para essa morte.

Há hipóteses plausíveis para a morte de uma jovem?

Infâncias nas palavras de Ieda Kurtz

 


Infâncias

Cristina Maria Rosa

Reuni em Infâncias, contos que revelam meu peculiar olhar sobre as crianças que me cercam desde que tive a minha própria criança, há vinte e seis anos atrás. Ao observar como meu filho foi se constituindo criança, o que perguntava, fazia, como sorria, como escolhia amigos e o que permitia que eu conhecesse através de seus relatos, tiver a oportunidade de registrar pequenas histórias de meninos e meninas que conviveram conosco. Foi desse modo que eduquei meu olhar e escuta. Hoje, adultos, eventualmente esses meninos me narram acontecidos, só para os terem escritos. Sobre minha autoria, Ieda Kurtz escreveu:

Cristina Maria Rosa é graduada em Pedagogia pela UFSM, Doutora em Educação pela UFRGS, pesquisadora e professora da Faculdade de Educação da UFPel. Tem nos livros e na literatura uma paixão. Com olhar sensível, ao mesmo tempo em que apresentava ao seu filho o universo da literatura e das histórias infantis, percebeu que suas alunas não possuíam o hábito da leitura. Sabedora de sua importância na escolarização de uma criança, especialmente na fase em que estão se inserindo na cultura escrita, passou a incentivá-la em suas aulas e decidiu aperfeiçoar-se, tornando-se especialista em Literatura Infantil e, por conseguinte, escritora. Cristina é observadora e, com ouvido apurado e sensibilidade, ao lhe serem relatados fatos do cotidiano infantil, transforma-os em belíssimos contos. (AZEVEDO, Ieda Maria Kurtz de. Um olhar sobre a autora. Pelotas, 2021).



segunda-feira, 3 de maio de 2021

Infâncias: e-book novinho em folha...

 

Infâncias

Cristina Maria Rosa

Reuni em Infâncias, meu peculiar olhar sobre as crianças que me cercam. Observo o que pensam, como falam, o que escolhem para si no convívio com os adultos. Percebi que buscam, com furor, muitas vezes, nosso olhar de aprovação. Outras, ignoram nossa autoridade e nos desafiam a incluir suas lógicas em nossas verdades.

Mas...

Preponderantemente, descobri que sempre amei esses seres humanos em desenvolta e instigante presença na minha vida.

A ser lançado em maio, Infâncias, o meu mais novo e-book contou com a obra (trabalho artístico e intelectual) de muitas pessoas. Entre elas, Ellem Rudijane Moraes de Borba que escreveu na Apresentação:

 

 

"A obra é composta por pequenos contos formando um mosaico de olhares sobre a infância. O primeiro conto: A fada dos moranguinhos trata-se de uma autoficção, nele a autora relata parte de sua infância, seus contatos com os livros e os caminhos que trilhou para se tornar uma escritora. Este conto dá o tom da obra, como observado no seguinte trecho: “Algumas coisas eu não lembro. Então invento. Outras eu lembro bem. E não gosto. Então, invento”. Importa considerar aqui as palavras de Julien Serge Doubrosvsky, ao descrever o gênero autoficção: “[...] A ‘verdade’, aqui, não poderia ser uma cópia exata, claro. O sentido de uma vida não está num lugar, não existe. Não está por ser descoberto, mas por ser inventado, não em seus detalhes, mas em seus rastros: ele está por ser construído” (DOUBROVSKY, 1988, p.77). Desta forma, a obra vai se construindo, ofertando ao leitor um desfile de personagens reais, observados através de um olhar atento, que coloca em evidência detalhes significativos, relatados por familiares, amigos, papais, mamães, avós, tios... E, também, através da mídia, como no conto “Os treze de Platão”. As narrativas são carregadas de imagens e reflexões propondo olhares múltiplos e específicos, através dos quais as personagens e os eventos apresentados flutuam entre o “real” e a “ficção”, dando vida e poesia ao texto em um estilo único e criativo de trabalho com a linguagem e com a arte de escrever.