Ler, escrever e tomar chá
Cristina MAria Rosa
Um abraço e um chá é quase tudo o que desejo com minhas minhas queridas alunas da UNAPI. Por enquanto, esse desejo só se realiza virtualmente. Mas... Ler, escrever e conversar não está proibido. Então, inventamos em dezembro e agora, em maio, está prestes a chegar a nossas telas, para leitura, "Um abraço e um chá". É um e-book que escrevemos como uma das tarefas da nossa disciplina Literatura. No e-book, meu conto se intitula "Véspera de Natal". Leia:
Véspera
de Natal
Cristina Rosa
Manhã, em meu jardim. Como de costume, eu lia o jornal e tomava
café. Perto de mim, as orquídeas que pela primeira vez floresceram, o ipê
amarelo prometendo e minha gata, Áfia Libni, fazendo manha.
Em uma coluna que noticia fatos do passado, li que, há 50 anos,
uma jovem de 15 anos, saiu para entregar presentes para a vó.
Era véspera de Natal.
Em minha casa e na notícia lida.
Esse ano, sem meu filho querido por perto e sem poder visitar a
família, estávamos só nós dois, Alex e eu, arrumando o presépio, a árvore, as
guloseimas. Eu já fizera Sagu – uma receita da Tereza –, me preparava para
fazer um Bolo de Natal e andava feliz da vida, inventando com minha nova
Batedeira.
No jornal, a morte da jovem foi noticiada.
Morte não combina com Natal, que é a festa do nascimento. Em
minha família, Natal é uma data forte, sempre foi comemorada, visto que Stefano
Guiseppe, meu pai, amava presépios.
Li novamente a coluna: “Há 50 anos, uma jovem de 15 anos, que saiu
na véspera do Natal para entregar presentes para a vó...”
E fiquei pensando:
Morta. Soterrada sob a neve. Nos arredores de Londres. Na
moderna Inglaterra?
A manhã, em meu jardim, apesar do verão, se tornou cinza.
Até flocos de neve senti...
Me recolhi.
A batedeira, sobre a bancada, já não mais me convidava a mais e
novas guloseimas.
Passei a confabular comigo mesma: Que presentes entregaria a
jovem? Por que saíra sozinha? Teria encontrado no caminho a neve, em uma
tempestade violenta?
Segundo a notícia, o mau tempo dificultou o trabalho da polícia,
que acreditou se tratar de um caso de assassinato.
Assassinato? Como assim? Por que matariam uma jovem, quase
menina, às vésperas do Natal? Quiseram seus presentes? Eu insistia em não
acreditar...
Resolvi desbaratar esse crime.
Não sosseguei enquanto não convidei meus alunos, da UNAPI, a
encontrarem hipóteses plausíveis para essa morte.
Há hipóteses plausíveis para a morte de uma jovem?