Véspera de Natal
Cristina MAria Rosa
Manhã, em meu jardim.
Como de costume, eu lia o jornal e tomava café. Perto de mim, as orquídeas que
pela primeira vez floresceram, o ipê amarelo prometendo e minha gata, Áfia
Libni, fazendo manha.
Em uma coluna que
noticia fatos do passado, li que, há 50 anos, uma jovem de 15 anos, saiu para
entregar presentes para a vó.
Era véspera de Natal.
Em minha casa e na
notícia lida.
Esse ano, sem meu
filho querido por perto e sem poder visitar a família, estávamos só nós dois,
Alex e eu, arrumando o presépio, a árvore, as guloseimas. Eu já fizera Sagu –
uma receita da Tereza –, me preparava para fazer um Bolo de Natal e andava
feliz da vida, inventando com minha nova Batedeira.
No jornal, a morte da
jovem foi noticiada.
Morte não combina com
Natal, que é a festa do nascimento. Em minha família, Natal é uma data forte,
sempre foi comemorada, visto que Stefano Guiseppe, meu pai, amava presépios.
Li novamente a
coluna: “Há 50 anos, uma jovem de 15 anos, que saiu na véspera do Natal para
entregar presentes para a vó...”
E fiquei pensando:
Morta. Soterrada sob
a neve. Nos arredores de Londres. Na moderna Inglaterra?
A manhã, em meu
jardim, apesar do verão, se tornou cinza.
Até flocos de neve
senti...
Me recolhi.
A batedeira, sobre a
bancada, já não mais me convidava a mais e novas guloseimas.
Passei a confabular
comigo mesma: Que presentes entregaria a jovem? Por que saíra sozinha? Teria
encontrado no caminho a neve, em uma tempestade violenta?
Segundo a notícia, o
mau tempo dificultou o trabalho da polícia, que acreditou se tratar de um caso
de assassinato.
Assassinato? Como
assim? Por que matariam uma jovem, quase menina, às vésperas do Natal? Quiseram
seus presentes? Eu insistia em não acreditar...
Resolvi desbaratar
esse crime.
Não sosseguei
enquanto não convidei meus alunos, da UNAPI, a encontrarem hipóteses plausíveis
para essa morte.
Há hipóteses
plausíveis para a morte de uma jovem?
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