sexta-feira, 4 de setembro de 2020

O que se aprende com a leitura que se vende?


Lendo Graça em obras
Cristina Maria Rosa


Em uma resenha intitulada “Um passeio literário pela educação”, Vania Marta Espeiorin[1] organiza alguns apontamentos e reflexões extraídos do livro Literatura: saberes em movimento, organizado pelos pesquisadores Aparecida Paiva, Aracy Martins, Graça Paulino, Hércules Corrêa e Zélia Versiani, que integram o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da UFMG. Escreve a resenhista: "A ideia de movimento sinaliza avanços, novos ensinamentos, mudanças. Na educação, o ato de ensinar e de aprender por meio do literário provoca questionamentos e articula desafios, ou seja, pressupõe ação. [...] O livro é "uma coletânea de artigos que mostra justamente a associação do texto literário com o processo de ensino e as leituras da vida"
Capítulos
Em onze capítulos distribuídos em duas partes: "Saberes literários e a escola como instância de formação de leitores" e "Saberes literários e outras instâncias socioculturais de formação de leitores", quinze estudiosos das áreas da educação, literatura, teatro e letras discutem os efeitos do jogo dos saberes que permeiam a esfera literária. Hércules Corrêa e Aracy Martins, na apresentação "Os jogos dos saberes literários", desmistificam a concepção de que a literatura é algo sem compromisso com a educação e o conhecimento. Mesmo que ela não nasça para ensinar, pode proporcionar ao leitor saberes que se “movem, se entrecruzam, se somam, se multiplicam, se dividem e, porque não, se subtraem" (Corrêa e Martins, 2007: 8).
A resenha
O olhar dos pesquisadores, no livro resenhado por  Vania Marta refere-se à Aula (2004), livro em que Roland Barthes afirma que a literatura assume muitos saberes, de acordo com o olhar da resenhista. Em suas palavras: "Esse vigor da literatura pode sugerir que ela não combina com métodos conservadores".
Ao referir-se à introdução "Literatura e educação: diálogos", a resenhista cita Vera Teixeira de Aguiar que "recupera a etimologia do termo", "discute conceitos de literatura e enfatiza que a literatura como arte de ler e escrever sempre esteve atrelada ao poder e ao prestígio dos grupos dominantes".
O que coube à Graça?
No recorte em que refere o trabalho de Graça em “Um passeio literário pela educação”, Vania Marta Espeiorin informa que tendo ciência que a formação de leitores não se restringe à escola, Graça Paulino registra o crescimento da indústria editorial, elaborando um capítulo intitulado "O mercado, o ensino e o tempo: o que se aprende com a leitura que se vende?".
De acordo com Espeiorin (2008), Graça Paulino centraliza a discussão no livro Memórias de minhas putas tristes, do colombiano Gabriel García Marques. Lançada no Brasil em 2005, a obra ficou em primeiro lugar na lista das mais vendidas. Paulino salienta o tipo de leitor que a obra é capaz de cativar e lembra: "leitores se formam mesmo é através de suas próprias leituras" (Paulino, 2007: 146), ou seja, das próprias escolhas literárias, que podem estar na prateleira dos livros mais vendidos ou não.






[1] Resenha publicada na revista online Ciências & Cognição (http://www.cienciasecognicao.org) em 10 de dezembro de 2008. O artigo, na íntegra, está disponível em: http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v13_3/m318305.pdf.

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