quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Letramento Literário: Graça em 1999


Letramento Literário: uma entrevista com Zélia Versiani.

Cristina Maria Rosa

 

Em 30/07/2008, o Blog Escrita Brasil entrevistou Maria Zelia Versiani Machado. O tema? Letramento literário. Para conhecer a entrevista na íntegra, clique em: http://escritabrasil.blogspot.com/2008/07/letramento.html

A questão central...

Juliana – O que é Letramento Literário? Qual a importância da existência de um grupo de pesquisa, dentro da academia, sobre o Letramento Literário?

Zélia – O letramento literário – estado ou condição de quem faz usos da literatura – supõe um processo que pode se iniciar antes de se saber ler e escrever. Nas histórias, nos provérbios, nos ditos populares, nas adivinhas, nas parlendas, entre outros textos ficcionais e poéticos da oralidade, por meio de muitas vozes que não se restringem àquelas do universo familiar mais próximo. Na escola, com o aprendizado da leitura e da escrita, os impressos – livros, jornais, revistas e as telas como portadores de textos literários passam a fazer parte desse processo de letramento, dando mais autonomia ao leitor. A partir da alfabetização ele poderá interagir mais com a cultura escrita literária que o envolve. Ele passa a escolher o que quer ler, a indicar livros de que gostou. O trabalho dos professores, depois disso, continua a ser imprescindível no sentido de ampliar, a cada etapa da escolaridade, as experiências literárias de seus alunos.

O termo ‘letramento literário’ foi usado pela primeira vez no Brasil por Graça Paulino, num trabalho encomendado para a ANPEd[1], na sequência do trabalho de Magda Soares[2]. Na época, o nosso grupo de pesquisa tinha o nome Grupo de Pesquisas de Literatura Infantil e Juvenil. Em seguida passamos a adotar o nome Grupo de Pesquisas do Letramento Literário – GPELL – pelo fato de, assim, integrarmos mais a literatura no contexto da cultura escrita às nossas discussões. Desta forma, a mudança de nome buscou destacar a importância da leitura literária, do leitor, da formação de leitores – professores e alunos –, da leitura literária na escola e em bibliotecas, etc. Como grupo de pesquisa do Ceale – Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita, da Faculdade de Educação (UFMG) – a opção pelo letramento literário afinava-se às ações do Centro, entre as quais aquela voltada para a formação de professores. A oportunidade de diálogo com professores da educação básica tem nos mostrado caminhos para levar a literatura para dentro da sala de aula. Sem esse contraponto, esse diálogo com o leitor-professor ou aluno, não estaríamos fazendo jus à designação letramento literário. A outra ponta – para quem e para onde vão os livros – nos interessa tanto quanto os “bons” livros da literatura. E sabemos que uma exigência para que ele chegue ao leitor é a de cumplicidade, uma cumplicidade que se alcança quando o professor é autor e ator do processo, quando partilha as suas leituras com seus alunos, com outros professores, com pesquisadores. Acreditamos que essa condição de autoria e de ser ator de suas ações mediadoras na sala de aula pode ser conquistada pelos professores em cursos de formação. Outra ênfase do Grupo, a da pesquisa, não tem perdido de vista essa perspectiva da formação de leitores. Acabei indo além do conceito. Inevitavelmente.



[1] PAULINO, G. Letramento literário: cânones estéticos e cânones escolares. In: 22º Encontro Nacional da ANPED, 1999, Anais do 22º Encontro Nacional da ANPED. Caxambu: Associação Nacional de Pesquisa em Educação, 1999.

[2] SOARES, M. Escolarização da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy A. M.; BRANDÃO, H. M. B.; MACHADO, M. Z. V. (Orgs.) Escolarização da leitura literária. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.



Nenhum comentário:

Postar um comentário