segunda-feira, 27 de julho de 2015

Livro das Listas

Inspirado na obra Listas Fabulosas, de Eva Furnari (Moderna, 2013), a proposta de criação deste e-book foi desenvolvida na disciplina Metodologia da Alfabetização, ofertada à Licenciatura em Pedagogia no segundo semestre de 2013. A proposição inicial foi ouvir a leitura integral do livro e, depois, em grupos, criar listas que tivessem uma palavra para cada letra do alfabeto, inclusive o K, o W e o Y. O objetivo do trabalho – que teve início com um estudo sobre abecedários antigos e modernos – foi evidenciar os vínculos com a ordem alfabética que tudo, ou quase tudo pode ter.
O argumento central para a proposição foi perceber que, ao criar listas, estamos oportunizando aos nossos alunos o ingresso no “mundo dos conceitos”, ou seja, na escrita e na compreensão do significado de palavras e expressões que foram cunhadas por alguém e que podem ou não estar inseridas no léxico de uma língua. Desse modo, possibilitamos que se tornem usuários competentes da língua escrita e que aprimorem seus saberes.
Ao confrontarem escritas e significados oriundos de seu entorno cultural, colocam em pauta o que já sabem e o que os demais sabem, mediados pelo professor e, também, pelo dicionário, alcançando assim, o conhecimento científico, objetivo da escola e do processo educativo.
Ao inventar palavras, as crianças, jovens e/ou adultos, nossos alunos, precisam saber que elas devem ser compreendidas por todos, demandando uma “explicação coerente” para que sejam aceitas, e incluídas no léxico.
O resultado de nosso trabalho, o e-book com seiscentas e setenta e seis palavras distribuídas em vinte e seis listas – uma para cada letra do Alfabeto – você conhece no endereço: https://onedrive.live.com/view.aspx?cid=706a75ed2ffcf172&page=view&resid=706A75ED2FFCF172!257&parId=706A75ED2FFCF172!119&app=WordPdf&wacqt=undefined

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Rudimentos de um comportamento leitor: ouvir, pensar, emocionar-se

Uma das constatações iniciais, quando da primeira experiência com uma nova turma para a leitura literária é encontrar crianças que não estão habituadas a “ouvir” histórias.
Como? Todos somos acostumados a ouvir histórias... Sim, somos. Desde pequenos e como filhos de humanos, somos criados ouvindo histórias. Próprias (de nossa família, de nós mesmo, de familiares ou mesmo animais de estimação) e não só.
No entanto, na escola, por que é que as crianças não apresentam um comportamento de ouvintes? Por que não se calam para ouvir? Por que é que querem falar todas ao mesmo tempo?
Crianças que não escutam, não foram ensinadas a ouvir?
Descobri que as crianças, pequenas ainda, têm nenhum ou parco contato com o hábito de ouvir histórias lidas, em voz alta, pelos adultos que os cercam. Adultos contam histórias, mas não leem. Adultos não indicam para as crianças que ler histórias é uma das formas de entrar em contato com as histórias dos outros, inventadas e escritas por outros que não os familiares. Adultos raramente leem para seus pequenos e, mais raro ainda, comunicam o que sentem quando leem. Gostaram? Emocionaram-se? Sentiram raiva? Dor? Angústia? Ou seja, foram tocados pela narrativa lida?
Os adultos que as crianças conhecem – avós, pais, tios, irmãos mais velhos – contam histórias. Oralmente. E quando leem, leem coisas de adulto como jornais, livros, revistas, encartes, contas, extratos, documentos, sites, blogs... Leem para si, não para as crianças. Adultos não costumam dividir com seus rebentos as emoções que sentem ao ler. Costumam esconder. Adultos nem sempre sabem que o exemplo de leitor é um poderoso formador de novos leitores.
Assim, essa prática – ouvir histórias lidas – precisa ser apresentada às crianças. Isso mesmo, precisamos torná-las ouvintes. Precisamos ensinar a elas os "rudimentos do comportamento leitor".
E o que são rudimentos?
Rudimentos são as primeiras noções, os princípios de uma ciência, língua ou arte.
Literatura é arte. Então, apresentar os rudimentos da literatura é alfabetizar literariamente.

1º rudimento: Ouvir
O que é ouvir?  Ouvir é deliciar-se com a voz do outro, é permitir que essa voz seja portadora de segredos que os livros possuem. É esperar, em uma pausa, para ouvir mais. Mais segredos, mais pausas, mais segredos...
Infinitamente.
Ouvir é ser o interlocutor do autor, do texto escrito por ele, do mediador e de sua voz que, apaixonadamente, escolheu um fragmento de nossa cultura para nos encantar, para nos transformar, para nos enredar: em segredos, mistérios, pensamentos, possibilidades.
Ouvir é dar voz a alguém. Ouvir é esperar. Ouvir é aprender a ler. Inclusive, o silêncio.

2º rudimento: Pensar
O que é pensar? Pensar é conversar com as ideias do texto.
É tramar as tramas já tramadas pelo autor e seus personagens.
É inventar perguntas para cada um deles. E logo depois, inventar as respostas. E novas perguntas. E duvidar das respostas...
Pensar é exercer uma capacidade exclusiva da espécie humana.
Pensar é ser humano.
E sofrer e amar por isso.
Pensar é reescrever a obra que está sendo lida, apenas na imaginação.
E isso é muuuuuuiiiiiito importante.

3º rudimento: Emocionar-se
O que é emocionar-se? Emocionar-se é se entregar ao autor.
É dar visibilidade a suas invencionices, é permitir que elas nos invadam e nos convençam.
Emocionar-se é sofrer com os maltratados, gargalhar com os bem humorados, desconfiar com os curiosos.
Nos livros, há muitos abandonados precisando de nossa lágrima, muitos solitários demandando nosso abraço, muitos palhaços querendo nosso riso, muitos amores querendo nossa cumplicidade.
Emocionar-se é viver, intensamente, as emoções que os livros prometem.
E entregam.
Por fim...
Depois de ouvir, pensar e emocionar-se, estamos prontos para ler. Por isso, rudimentos. São passinhos anteriores ao lugar de leitor. Como as pedras que brilhavam deixadas por João, o irmão da Maria, nas trilhas da floresta.
Com as pedras, dá para retornar.
Com migalhas, não.  
Para ler, para si e para os outros, para ser um mediador de leitura, é só seguir os passinhos: ouvir, pensar, emocionar-se.
Simples assim.
Quer tentar?

terça-feira, 7 de julho de 2015

Ler ou contar? Ler e contar

Ler ou contar? Ler e contar!
Cristina Maria Rosa

Uma das perguntas mais frequentes que costumo fazer a professores é: tu contas ou lês histórias aos teus pequenos ouvintes?
Muitos deles estranham a pergunta e indicam desconhecer os atributos do ler e do contar e mesmo o impacto dessas duas concorrentes e importantes formas de mediar o mistério.
O estranhamento à pergunta é compreendido por mim como indicativo de que parte significativa dos mediadores que está nas salas de aula utiliza essas duas importantes práticas escolares de alfabetização literária indiscriminadamente.
No entanto, há diferenças entre ler e contar.
Contar é antropológico. Contar é ancestral. Contar é acessar um repertório individual e coletivo que faz sentido a determinada família ou mesmo sociedade. Contar é narrar a experiência, é transmitir “a partir da experiência”. Contar é narrar uma história, rememorar um fazer. É experimentar o retorno a “certas emoções antigas e presentes”. Contar é tornar perene no tempo “a partir do vislumbre de um narrador qualificado” o “sentido do que lhe está sendo transmitido”. Contar é repassar adiante. Contar, por fim e de acordo com Silveira (2011) “assim como a própria narrativa” não é um ato “desinteressado”, ingênuo, espontâneo.
Contar é a selecionar eventos, formatos e epílogos que nem sempre estão escritos. É a circunscrição de um grupo de palavras, expressões e sentimentos que dependem dos disponíveis no repertório pessoal do contador, além de suas escolhas morais, éticas, artísticas.
Contar é requerer e acionar um repertório particular: de temas, personagens, enredos, tempos e modos de falar e rememorar. Mesmo que o contador se utilize de textos longevos, universalizados pelo impacto e repercussão – e Le petit chaperon rouge é o melhor exemplo - a forma de narrar é própria e para tal concorre um léxico pessoal, restrito à experiência leitora e narradora do sujeito, além de suas filiações históricas, políticas, filosóficas e literárias.
Contar, então, pode ser uma aventura antropológica repleta de aberturas para a construção de sentidos estéticos e literários. Mas não só. Pode ser apenas uma subtração e/ou higienização de um texto originalmente rico, bruto, autoral.
E o que é ler?
Ler é diferente.
Ler é cultural. Ler é reinventar a escrita. Ler é assumir que a linguagem é uma “faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana que permite a cada indivíduo representar e expressar simbolicamente sua experiência de vida, assim como adquirir, processar, produzir e transmitir conhecimento” (BAGNO, 2014).
Como “seres muito particulares”, produzimos sentido “por meio de símbolos, sinais, signos, ícones”. A escrita é uma dessas formas de produzir sentido e pode ser conceituada como “um fenômeno social, uma forma de ação e de interação social”. Assim, “produzir um texto significa dizer algo a alguém, por algum motivo, de algum modo, em determinada situação” (FIAD & VAL, 2014). Para Bagno (2014):

“Nenhum gesto humano é neutro, ingênuo, vazio de sentido: muito pelo contrário, ele é sempre carregado de sentido, nos mais variados graus, e cabe justamente à nossa capacidade de linguagem interpretar o sentido implicado em cada manifestação dos outros membros da nossa espécie”.

A produção de um texto, porém, exige um “leitor proficiente”, aquele que não só “decodifica as palavras que compõem o texto escrito”, mas, também, “constrói sentidos de acordo com as condições de funcionamento do gênero em foco”. Para tal, mobiliza “um conjunto de saberes sobre a língua”, representado por “outros textos, o gênero textual, o assunto focalizado, o autor do texto, o suporte e os modos de leitura”, de acordo com Da Mata (2014).
A produção de um texto demanda ainda, um “mediador", uma pessoa que estende “pontes entre os livros e os leitores”. Medidores selecionam “livros que fascinam” e, assim, transformam pessoas em leitores. Para Reyes (2014), o mediador é necessário desde tenra infância. Em suas palavras:

“Durante a primeira infância, quando a criança não lê sozinha, a leitura é um trabalho em parceria e o adulto é quem vai dando sentido a essas páginas que para o bebê não seriam nada, sem sua presença e sua voz. Por isso, os primeiros mediadores de leitura são os pais, as mães, os avós e os educadores da primeira infância e, paulatinamente, à medida que as crianças se aproximam da língua escrita, vão se somando outros professores, bibliotecários, livreiros e diversos adultos que acompanham a leitura das crianças” (REYES, 2014, p. 213-214).

Na leitura, empresto minha voz - tons, suspiros, silêncios, entonação, dor e alegria - para colorir, discernir, enfeixar, aprofundar, desvendar as palavras escritas por outrem, o autor. Empresto dele o invento e me empresto para mediar.
Assim, a leitura, diferente da contação de histórias, oportuniza o contato com o texto literário que, apesar do tempo e do mediador, mantém-se inalterado, com o léxico, a estrutura textual e as escolhas poéticas do autor.
Um bom mediador dá nome a quem de direito: ao autor, a autoria; ao mediador, os sentimentos todos que encontrou ali e quer perpetuar, divulgar, evidenciar.

Concluindo: Ler é diferente de contar.
Ler é diferente de contar. Não é mais nem menos.
É diferente.
Na escola, a criança – aprendiz da espécie humana que através da fala e pela escrita aprende a organizar o pensamento – acessa, com a audição de histórias lidas, contato e aprimoramento das relações com a cultura escrita, uma de nossas maiores conquistas antropológicas.
Ler para os pequenos desde tenra infância, então, é inseri-los no que de melhor produzimos como “sapiens”: a escrita autoral ou, um modo particular de ver/sentir/narrar o mundo.

Sugestões de leitura:
BAGNO, Marcos. Linguagem. Glossário CEALE. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/linguagemDA MATA, M. Leitor Proficiente. Glossário CEALE. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/leitor-proficienteFIAD, R. & VAL, M. Produção de textos. Glossário CEALE. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/producao-de-textosREYES, Y. 2014. Mediadores de Leitura. Tradução de Elizabeth Guzzo de Almeida. Glossário CEALE. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/mediadores-de-leituraSILVEIRA, N. Saber cuidar, saber contar: ensaios de antropologia e saúde popular. Resenha. Revista Tempus Actas de Saúde Coletiva. Disponível em:  file:///C:/Documents%20and%20Settings/Administrador/Meus%20documentos/Downloads/982-2076-1-PB.pdf




segunda-feira, 6 de julho de 2015

Crianças pequenas e a linguagem: Construção do sentido e a aquisição

Cristina Maria Rosa

Cada vez mais cedo em nossa sociedade a tarefa de receber e inserir crianças na aquisição, organização e aprimoramento da “faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana” (BAGNO, 2014) – a linguagem – tem sido de responsabilidade dos professores e cuidadores nas escolas infantis.
Quando chegam, os pequenos, com meses de vida, balbuciam, resmungam, dão gritinhos, sorriem, choram. São tentativas de representar e expressar simbolicamente sua experiência de vida. Neste momento, mesmo sem saber, contam com os representantes maduros da espécie que, supostamente, possuem experiência para inseri-los no experimento que é a aquisição da linguagem oral.
Individual do ponto de vista interior (das estruturas necessárias para a aquisição) e social, do ponto de vista da cultura disponível, o pequeno exemplar humano depende da qualidade das interações para o seu desenvolvimento. Essa dependência é vital: quanto mais elaborada a linguagem ofertada pelo adulto, mais qualificado é o processo de aquisição, internalização, confronto e expressão do que sente o pequeno.
Ao “adquirir, processar, produzir e transmitir conhecimento” (BAGNO, 2014, 192), ou seja, ao ouvir e perceber as ações e reações dos adultos aos seus primeiros sinais de comunicação, a criança é apresentada ao processo mais bem acabado do que conhecemos como adaptação: o pensamento e a linguagem. Neste processo individual mediado, os demais representantes experientes da espécie funcionam como espelho. É o adulto (mãe, professor, médico) que tem a chave de acesso ao conhecimento (o que é falar/o que é calar), do tempo (quando falar/quando calar), do espaço (onde falar/calar) e causalidade (por que e para que falar/calar).
Internamente, é a partir de reflexos inatos (que todos temos) mediados pela inteligência (que possuímos ao nascer) e pelas interações culturais (a experiência do grupo social no qual a criança nasce) que as Sinapses[2] passam a responsabilizar-se por nossa educação humana, ou seja, trabalham, a partir de estímulos, para tornar um bebê – indefeso e precariamente organizado para se comunicar ao nascer – em um adulto experiente. Essas sinapses precisam de alimento e, assim como nosso corpo, refletem o tipo, frequência e qualidade do estímulo que recebem.
As teses do epistemólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) indicam que o desenvolvimento cognitivo é construído a partir do biológico[3]. Assim, a inteligência começa a se organizar por meio de reflexos inatos e são atos de adaptação ao meio físico, exterior, ao universo do indivíduo. Para ele, a capacidade cognitiva é que constrói mentalmente as estruturas capazes de serem aplicadas às do meio e, assim, a criança constitui sua inteligência através da interação com o mundo, com e através dos esquemas mentais que possibilitam apreender a realidade. Para Piaget (1975), ainda, a construção das capacidades intelectuais ocorre por estágios e, em cada um deles, a criança desenvolve um conjunto de esquemas cognitivos que lhe possibilita compreender o mundo e atuar sobre ele, ou seja, manifestar-se, falando ou calando.
Assim como seu contemporâneo Jean Piaget, Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934) foi um cientista que buscou conhecer os processos de formação da inteligência (o pensamento e a linguagem, preponderantemente). Para el, é nos primeiros meses de vida (primeira infância ou fase pré-intelectual) que algumas funções sociais da fala se tornam aparentes: a criança tenta atrair a atenção do adulto por meio de sons diferenciados, em variados tons e intensidades. Intenta, com isso, obter retorno a suas demandas: organizar o pensamento, comunicar-se, falar, expressar, simbolizar.
Observa-se – a partir dos estudos de Vygotsky, (1991) – que aproximadamente até os dois anos, as crianças possuem um pensamento pré-lingüístico e uma linguagem pré-intelectual, ou seja, há desconexão entre o que se faz, pensa, fala. A partir daí, eles se encontram e se unem, iniciando um novo tipo de organização do pensamento e da linguagem.
Nos estudos de Piaget esse período inicial é nomeado de sensório-motor ou da inteligência prática. Período que abrange do zero aos dois anos de idade, nele o conhecimento relaciona-se com as ações que, por sua vez, são coordenadas pelas percepções. Ao longo do período, o bebê e/ou a criança pequena constrói/apreende uma série de conceitos imprescindíveis à evolução das capacidades intelectuais, como, por exemplo, a permanência do objeto, a capacidade de imitação e representações mentais cada vez mais complexas, que a tornam capaz de atividade cognitiva futuras, entre elas a capacidade de representação mental dos objetos. É nesse momento que se evidencia, nas crianças, o pensamento verbal, mediado por conceitos relacionadas à linguagem e a fala racional, com função simbólica, generalizante. É nesse momento que as crianças descobrem que cada objeto tem seu nome. A fala, então, começa a servir ao intelecto e os pensamentos começam a ser verbalizados. Assim, segundo Vygotsky, o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, pelos instrumentos lingüísticos do pensamento e pela experiência sócio-cultural da criança.
O segundo estágio do desenvolvimento intelectual é denominado por Piaget de Pré-operatório e ocorre dos dois aos sete anos de idade. Caracteriza-se pela elaboração da relação de causalidade e das simbolizações, ou seja, a criança reduz a dependência das diversas sensações e ações motoras. Outra característica desse tempo, de acordo comas teses de Piaget é o egocentrismo, caracterizado pela impossibilidade do pequeno de observar o mundo da perspectiva dos demais, do outro.
É no estágio pré- operacional que ocorre a passagem do plano da ação para o plano da representação, o que é caracterizado pelas primeiras condutas simbólicas. Neste estágio ocorre o aparecimento da linguagem, da brincadeira simbólica e da imitação que se dá na ausência do modelo. Gradual, esse processo de transformação do nível das ações para o nível da constituição das operações mentais, prepara o infante para a construção das operações lógicas elementares e marca, de acordo com Piaget, o início da linguagem. De acordo com Dias (2010),

O surgimento da linguagem parece apresentar estreitas relações com os aspectos cognitivos. A teoria piagetiana sugere que o desenvolvimento linguístico depende do desenvolvimento da inteligência, sendo considerado uma forma de representação desta última. Para o teórico, o desenvolvimento cognitivo que irá possibilitar o nascimento do simbolismo (DIAS, 2010, p. 7).

Por ser uma faculdade cognitiva exclusiva da espécie humana, a linguagem – capacidade de expressar o que pensamos, sentimos, observamos, aprendemos – depende de experiência. Assim, ao interagir com crianças pequenas, entre os primeiros meses de vida e os cinco anos, cabe ao educador nomear e o mundo, dando sentido às demandas dos pequenos, oferecendo a eles o universo conceitual disponível, especialmente pela linguagem verbal em sua forma oral não coloquial e em sua forma escrita, preponderantemente, uma vez que é para aprendê-la que as crianças ingressam na escola.

Sugestões de Leitura:
BAGNO, Marcos. Linguagem. Glossário CEALE. Belo Horizonte: UFMG/CEALE/FaE, 2014. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/
DIAS, Fernanda. O desenvolvimento cognitivo no processo de aquisição de linguagem. Letrônica, Porto Alegre v.3, n.2, p.111, dez./2010. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/viewFile/7093/5931
KOLL, Marta de Oliveira. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 2010.




[1] Pedagoga, Mestre e Doutora em Educação, Pós-Doutora em Estudos Literários na Educação (UFMG, 2011) coordena o GELL – Grupo de Estudos em Leitura Literária; é Líder do GPELHL - Grupo de Pesquisa Escritas, Leitores e História da Leitura (CNPq, 2009) e Coordena o Núcleo Sul em Prosa e Verso, que integra o movimento Brasil Literário.
[2] Processo de comunicação entre as células nervosas – Neurônios – responsáveis por todas as nossas sensações, sentimentos, pensamentos,  respostas motoras e emocionais, a aprendizagem e a memória. São os neurônios que, continuamente coletam informações sobre o estado interno do organismo e de seu ambiente externo, avaliam essas informações e coordenam atividades apropriadas à situação e às necessidades atuais da pessoa. As sinapses são trocas – via impulsos nervosos. As sinapses são processos químicos de interação. A interação é efetuada pela liberação de substâncias químicas chamadas neurotransmissores, que promovem mudanças excitatórias ou inibitórias, ou seja,  permitem que as células do cérebro "conversem entre si". Foi a evolução/adaptação do corpo humano desenvolveu um grande número desses mensageiros químicos para facilitar a comunicação interna e a transmissão de sinais dentro do cérebro. Quando tudo funciona adequadamente, as comunicações internas acontecem sem que sequer tomemos consciência delas.
[3] Para Piaget, o conhecimento é gerado através de interações do sujeito com o meio, a partir das estruturas existentes. Assim, a aquisição de conhecimentos depende tanto das estruturas cognitivas do sujeito como de sua relação com os objetos de conhecimento.