Assista o vídeos sobre a inauguração da Exposição Meu ABC, ocorrida em Porto Alegre em 17/12/2013.
O link é:
http://www.ebc.com.br/cultura/galeria/videos/2013/12/obra-rara-de-erico-verissimo-e-exposta-no-rio-grande-do-sul
Olá! Um "Alfabeto à Parte" foi criado para pensar sobre a leitura literária na escola e na formação de professores.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Meu ABC, de Erico Verissimo em Santa Maria
A exposição Meu Abc, de Erico Verissimo foi inaugurada em 19/08/2014 na CESMA, em Santa Maria.
Lá, em um espaço adequado a exposições, houve um diálogo com o público, no qual pude apresentar trajetos de minha pesquisa e detalhes que as páginas de Meu ABC oferecem a quem estuda Abecedários. F
O Abecedário Meu ABC, de Erico Verissimo, foi publicado pela primeira vez em 1936 e hoje, existe apenas um exemplar, preservado no Setor de raros da Biblioteca Lucília Minssen, em Porto Alegre. Foi lá que pude conhecer, ler e fotografar o abecedário original, uma preciosidade preservada.
Inverno sem pés descalços
Campanha realizada pelo Projeto de Extensão Leitura Literária na Escola.
O banner foi criação da Roberta Bohns.
Apoio: PET/Educação, Professores e Estudantes da FaE/UFPel.
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Discurso de Posse na APL - 29/08/2014
ACADEMIA PELOTENSE DE
LETRAS
ACADÊMICA: CRISTINA MARIA ROSA
Posse na Cadeira 16
Patrono: Antonio José Gonçalves Chaves
Paraninfa: Gilsenira de Alcino Rangel
Salão de Atos da Academia Pelotenses de Letras
Parque Dom António Zattera, 500
19 horas – 29 de agosto de 2014
Ao tomar posse na Cadeira
16 de Academia Pelotense de Letras, cujo patrono é Antônio José Gonçalves
Chaves, tenho por compromisso reapresentá-lo a todos nós. Para tal, recorri a
dois estudiosos de nossas letras e costumes: Guilhermino César e Auguste de
Saint-Hilaire e a suas obras: História
da Literatura do Rio Grande do Sul (1737-1902), publicado pela Editora
Globo, em 1956, e Viagem ao Rio Grande do Sul (1820-1821), publicado na Europa em 1887 e, cem anos depois, 1987, de forma
completa no Brasil.
Guilhermino César reconhece[1]
Gonçalves Chaves como o primeiro “natural da terra” a
dar notícias profundamente circunstanciadas da “vida econômica, social e política”
da Província e ressaltar o “estágio cultural dos rio-grandenses”. Ao indicar
grande preocupação com a falta de escolas de primeiras letras, Gonçalves Chaves
produziu um dado biográfico definidor em minha escolha por representá-lo,
homenageá-lo, mantê-lo vivo, uma vez que sou eu uma professora de primeiras
letras.
Nascido no ano de
1781, em São Tiago d’Ouro, Comarca de Chaves, o filho de Manuel José de Moraes e Izabel Maria Gonçalves chegou solteiro
ao Brasil em 1805. De seu lugar de origem, Comarca
de Chaves, incorporou mais um sobrenome aos
recebidos em batismo. Afirmando, ainda jovem, que tinha apreço pela memória,
por ser herdeiro, pelo pertencimento, nomeou-se Gonçalves – da mãe – e Chaves,
da comarca onde nascera. Duas mães, a terra e a biológica. Interessante, muito
interessante. Este, mais um dos dados de sua biografia que me tornam
interessada em conhecê-lo melhor.
Ao adotar o Brasil
para viver e prosperar inventou-se navegador, escritor, político, charqueador.
Suas Memórias Ecônomo-Políticas, citadas
pelos dois estudiosos, foram publicadas no Rio de Janeiro. Em número de cinco[2], indicam que não era um
marinheiro de primeira viagem. Resultado de dezesseis anos de observação e
análise das peculiaridades locais do Rio
Grande de São Pedro do Sul, produziu um riquíssimo relatório no qual também
denuncia o “vazio encontrado na sociedade continentina, quanto à ilustração
reclamada por seu crescimento e importância econômica”.
Referido como
possuidor de uma “prosa singela”, Gonçalves Chaves registra a ausência de
escolas para uma população de pouco mais de “106.000 almas no ano de 1823”. Em
suas palavras: “Não nos consta que haja mais de três homens formados, naturais
desta Província, e quatro meninos em Coimbra. Esta falta de gosto pelas
ciências, não se pode ter, contudo como inaptidão
para elas nos naturais” E busca argumentar, indicando que a inaptidão pelas
ciências se devia, primeiro, à falta de escolas de primeiras letras[3] e, em segundo, à pouca
idade da Província, informando que, apesar da opulência adquirida pelas
famílias, estas “lamentavam ver seus filhos, já homens” inabilitados a “entrar
em estudos” (1956, p. 68).
Para Guilhermino
César, Antonio é um “tramontano da Vila de Chaves” que “radicou-se no Rio
Grande em 1805 e, à margem do arroio Pelotas, montou uma charqueada, a mais
próspera da capitania no seu tempo”. Guilhermino refere ainda, nestas notas
biográficas retiradas das memórias de Gonçalves Chaves, a presença de
Saint-Hilaire nesta charqueada.
Outra informação
relevante a respeito de Chaves é seu caráter abolicionista, reconhecido pela proposição da extinção do tráfico de escravos
e, em longo prazo, a abolição. Segundo relatos, Gonçalves Chaves considerava que
“manter escravos num país continental era mais caro do que os alforriá-los e posteriormente
tê-los como empregados”. Controversa, a sua proposição? Para a época,
revolucionária.
E
como registra sua existência quem o conheceu?
“Margens do
Rio Pelotas, 5 de setembro de 1820”. Com essas palavras é que se inicia o
relato do conhecimento travado por Saint Hilaire com Antonio José Gonçalves
Chaves, o Sr. Chaves. Em uma viagem de Iate que partiu de Rio Grande, o
pesquisador europeu narra a passagem pelos canais de navegação da época,
chegando ao “rio chamado Pelotas, em cujas margens” estava “situada a
residência do Sr. Chaves”. E logo: “A viagem de hoje foi muito agradável. O Sr.
Chaves é um homem culto, que sabe latim, francês, com leitura de História
Natural e conversa muito bem. Pertence à classe dos charqueadores, fabricantes
de carne seca. Os charqueadores compram o gado dos estancieiros; mandam matá-lo
e retalhá-lo; a carne é salgada e, depois de seca, vendida aos comerciantes” (Saint-Hilaire
(201, p. 79).
A estada de Saint-Hilaire na “Paroquia de São
Francisco de Paula”, nossa atual Pelotas, se estendeu por dez dias. A
“fotografia” que fez do local é peculiar: “nada mais belo que a região
percorrida por nós; oferece vasta planície com alguns pontos ligeiramente
ondulados. Por toda parte o terreno apresenta gramados com árvores e bosques esparsos,
onde pastam cavalos e bois. Um grande número de belas casas cobertas de telhas
aparece aqui e elai, tendo cada uma delas um pomar cercado de valas profundas,
protegidas por um renque de bromeliáceas. (...) O aspecto da região recorda
tudo que a Europa tem de mais pitoresco: os pomares, onde só se veem árvores
novas, e as casas recém construídas dão a essas regiões um ar de frescura e
novidade que ainda mais a embeleza” (SAINT-HILAIRE, 1987, p. 80-81).
Em 11 de setembro, há um interessante apontamento no
diário de Saint-Hilaire que, incorporado .
Pioneiro da navegação a vapor, Domingos José de
Almeida também foi membro do Conselho Geral da Província e segundo deputado
mais votado à Primeira Legislatura da Assembléia Legislativa Provincial do Rio
Grande do Sul (1835), com o início da Revolução Farroupilha, filiou-se ao lado
Republicano. Após o assassinato do preceptor de
suas filhas, na Charqueada São João, retirou-se para o Uruguai, onde
estabeleceu outra charqueada. Em 1938, faleceu em um naufrágio por causa de um
temporal, no Uruguai. Sobrevivendo à Revolução Farroupilha (1835-1845) afastou-se para sua
propriedade e daí para Montevidéu, onde montou nova charqueada. Morreu em um
naufrágio em 1838.
O
legado de Antônio José Gonçalves Chaves: a Charqueada São João
Localizada na Estrada da Costa, 500,
às margens do arroio Pelotas, hoje Bairro Areal, a charqueada foi construída em
1810. Em estilo colonial português é uma propriedade ampla, na qual se pode
conhecer a opulência do período, 204 anos depois.
Um dos principais pontos turístico da
cidade, a Charqueada tem importância histórica e cultural: registra um tempo e
um modo de vida, informa e restitui o passado, reapresenta um Rio Grande do Sul
que não mais existe, embora reverbere ainda em nomes, ruas, livros, poemas e
registro jornalísticos parte de seus acontecimentos ali ocorridos. Vale a pena
conhecer esse europeu/brasileiro, navegador sul-americano, republicano
farroupilha, charqueador pelotense. Um homem à
frente de seu tempo como alguns que conhecemos e nem sempre, admiramos no tempo
certo.
Obrigada
Referências:
CESAR, Guilhermino.
História da Literatura do Rio Grande do Sul (1737-1902). Porto Alegre: Editora
Globo, 1956.
SAINT-HILAIRE,
Auguste. Viagem ao Rio Grande do Sul (1820-1821). Porto Alegre: Martins
Livreiro Editor. 2002.
[1] No capítulo III
de “História da Literatura do Rio Grande do Sul (1737-1902)”, intitulado “Dos
precursores ao início da literatura escrita”, entre as páginas 65 e 116,
Guilhermino César apresenta traços biográficos dos primeiros rio-grandenses
autores de livros impressos. Entre eles, o Antônio José Gonçalves Chaves e suas Memórias Ecônomo-Políticas.
[2] A 1ª, 2ª e 3ª foram
publicadas na Tipografia Nacional no Rio de Janeiro, em 1822; a 4ª, idem, em
1823 e a 5ª, na Tipografia de Silva Pôrto e Companhia, no Rio de Janeiro, 1823.
[3] Nas palavras de
Gonçalves Chaves: “em toda esta província até 1820 havia uma única sala de
Latim, a de Porto Alegre, que não havia uma escola de primeiras letras paga
pelo Estado em toda a Província. Em 1821 abriu-se uma aula de filosofia
racional em Porto Alegre, e duas de Latin: no Rio Grande e no Rio Pardo. E as
aulas de primeiras letras que se mandavam criar nas freguesias, ninguém as tem
querido? Porque o honorário é só de 100.000 e com menos de 400.000 não se pode
achar um mestre”.
Academia Pelotense de Letras
No dia 29/08/2014, fui empossada na Academia Pelotense de Letras.
Passei a ocupar a Cadeira 16, originalmente pertencente a Antônio José Gonçalves Chaves.
Pertencer à Academia é uma responsabilidade: com as letras, com a educação, com a história.
E, também, um festa partilhada com amigos e com as letras.
Ao tomar posse na Cadeira
16 de Academia Pelotense de Letras, cujo patrono é Antônio José Gonçalves
Chaves, tive por compromisso reapresentá-lo a todos nós. Para tal, recorri a
dois estudiosos de nossas letras e costumes: Guilhermino César e Auguste de
Saint-Hilaire e a suas obras: História
da Literatura do Rio Grande do Sul (1737-1902), publicado pela Editora
Globo, em 1956, e Viagem ao Rio Grande do Sul (1820-1821), publicado na Europa em 1887 e, cem anos depois, 1987, de forma
completa no Brasil.
Aplaudida pelo Confrades, recebi o aval para integrar o grupo e passar a trabalhar pela literatura na Cidade de Pelotas.
Meu ABC em Belo Horizonte
A abertura da Exposição Meu ABC, de Erico Verissimo em Belo Horizonte ocorreu no dia 31/07/2014. O espaço ArtEducação, na Faculdade de Educação da UFMG foi escolhido pelo fluxo de estudantes, professores e pesquisadores da área da educação.
Na abertura, a presença de colegas e queridos amigos, entre eles, Gil, Célia Belmiro, Lalu, Zélia Versiani e Luis Camargo.
Clássico: o que é isso?
Na aula de Literatura
Infantil II (Licenciatura me Pedagogia da FaE/UFPel) ocorrida em 17/09/2014, uma das estudantes perguntou:
- Professora, o que é
um clássico?
Respondi para ela,
mostrei alguns dos livros que havia levado, indiquei algumas das características
de um texto clássico. E fiquei pensando.
Por que não escrever um pequeno texto sobre isso? Vamos a ele.
Ao buscar apoio entre
os teóricos, encontrei um pequeno e claro texto do Sergius Gonzaga[2].
Ele busca delimitar ou mesmo circunscrever alguns “traços definidores do que
hoje se considera um texto clássico”. Para ele, a primeira característica é a
atemporalidade, ou seja, clássica é uma obra que ultrapassa “o seu tempo,
persistindo de alguma maneira na memória coletiva e sendo atualizada por
sucessivas leituras, no transcurso da história”.
Outra das
características mencionadas por Gonzaga em seu texto é presença, nos clássicos,
de “paixões humanas de maneira intensa, original e múltipla” e serem obras que
“registram e simultaneamente inventam a complexidade de seu tempo. A linguagem
é outra das características marcantes e definidoras de uma obra clássica, de
acordo com Gonzaga. Para ele, nas obras clássicas há a presença de “formas de
expressão inusitadas, originais e de grande repercussão na
própria história literária.
Por serem “obras de
reconhecido valor histórico ou documental, mesmo não alcançando a
universalidade inconteste”, autores nacionais ou mesmo regionais podem ser
considerados clássicos e, no Rio grande do Sul, João Simões Lopes Neto pode ser
considerado um deles. Para Gonzaga, ainda, “talvez a característica fundamental
de uma obra clássica seja a sua inesgotabilidade”, ou seja, a capacidade que um
livro tem de permanecer interessante, novo a cada leitura, múltiplo, tendo sempre
algo a nos dizer. Ele cita Calvino (1993) para corroborar sua afirmação: "Um
clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para
dizer".
Para o estudioso, um “clássico
é fundamental também pelo efeito que deflagra na consciência do leitor” e,
de acordo com esse olhar, propões que o consideremos, “simultaneamente” como “forma
única de conhecimento”, “utilização da linguagem de uma maneira exemplar,
original e inesperada” e “um conjunto de revelações, idéias e sentimentos que
têm a propriedade de durar na memória mais do que outras manifestações
artísticas”.
E na
literatura para crianças, o que são considerados clássicos?
Na literatura escrita
para as crianças, atualmente, são reconhecidos como clássicos os Contos de Fada, também nomeados Contos Maravilhosos ou Contos de Encantamento. São as
narrativas compiladas da oralidade por Charles Perrault (1628-1703) e pelos
Irmãos Grimm – Jacob (1785-1863) e Wilhelm (1786-1859) – e as narrativas criadas
por Hans Christian Andersen (1805-1875), preponderantemente.
Quais as
características desses contos maravilhosos que os tornam clássicos? Com
certeza, a longevidade, a presença intensa e concomitante nas infâncias desde
então. São narrativas que persistem na “memória coletiva” e tem sido
atualizados “por sucessivas leituras” e mesmo recontações e reescrituras.
Outra das
características dos contos maravilhosos que os tornam clássicos é a abordagem
de temas humanos, como o amor, e nele a inveja, o ciúme, as disputas e as
violações e o medo – do abandono, da solidão, da crueldade e da morte, entre
outros. Esses “temas”, tratados “de maneira intensa, original e múltipla”
encantam, produzem o desejo de serem desvendados, desvelados desde tenra idade.
Ao registrar e
simultaneamente inventar “a complexidade de seu tempo”, os contos maravilhosos revelam a infância que havia em priscas eras, e as tramas que a ela eram
pertinentes. Mesmo tendo se passado trezentos e dezessete anos de sua primeira
grafia conhecida (PERRAULT, 1697), o memorável encontro de Chapeuzinho Vermelho com o Lobo
Mau parece ser absolutamente passível de acontecer. Hoje. E em um matinho
qualquer, a caminho do Laranjal. E é isso que o torna clássico: indica uma
infância possível: ingênua, no limite entre a curiosidade e o perigo.
Uma obra, para ser
considerada clássica precisa, também, criar formas de expressão “inusitadas,
originais e de grande repercussão na própria história literária”.
Neste caso, a clássica expressão “Era uma vez...”, que abre grande parte dos
contos, além de original, tem grande impacto na memória afetiva de gerações,
sendo empregada sempre que se quer anunciar a leitura ou mesmo o mistério.
Os clássicos –
compilados e/ou inventados pelos autores acima citados – são obras “de
reconhecido valor histórico ou documental”, integrando a história da língua dos
países de origem bem como retratos de um tempo e de um modo de pensar não
apenas a infância. Pela qualidade, diversidade e contribuição à dicionarização
da língua, sua filologia e mesmo memória oral, os contos registrados pelos
irmãos Grimm, por exemplo, são considerados patrimônio cultural[3].
Outra importante razão
para os contos encantados serem
considerados clássicos é sua “inesgotabilidade”, ou seja, é possível fazer
diferenciadas e infindáveis leituras de uma mesma narrativa. Leituras e
recontos, vide as inúmeras versões hoje conhecidas de algumas das narrativas.
No Brasil, podem-se
considerar clássicas as narrativas de Monteiro Lobato, pois possuem as
características que Ítalo Calvino ressalta como indispensáveis ou mesmo
componentes de um clássico: possuem longevidade, tratam temas humanos com
intensidade, registram e simultaneamente inventam a complexidade de seu tempo,
criaram formas de expressão inusitadas, originais e de grande repercussão,
tem valor histórico e documental e oferecem uma possibilidade inesgotável de
leituras...
No entanto, diferentemente
dos clássicos universais, há algumas características que aparecem
preponderantemente em textos literários para a infância. Quais são? Entre
muitas das características que definem ou mesmo organizam um texto para que ele
seja considerado como pertencente ao campo da arte literária infantil
está a presença da magia ou de um elemento mágico, a necessidade da imaginação
ou faz-de-conta, a ancestralidade ou pertencimento, a localização geográfica e
temporal indefinida ou tempo/espaço inexistente, a literariedade ou linguagem
metafórica e a ludicidade ou mentira/verdade.
Assim, textos
literários infantis são textos que estabelecem uma conexão imediata com a
imaginação, com o mundo que existe como desejo, possibilidade. O texto
literário nos remete a situações inusitadas e podemos, através dele,
transgredir (a ordem, as leis, as regras, as idades) ou mesmo só pensar que se
faz isso. Através dele podemos brincar de ser outro, mais novo, mais
velho, com poder, sem nenhum, com muito ouro, com quase nada...
Textos literários
infantis são também textos que apresentam vínculo com a ancestralidade,
com nossa condição de humanos em sociedade. O texto literário nos faz
pertencer e nos ensina que, um dia, em torno do fogo, ouvíamos
e contávamos e, desse modo, inventávamos a linguagem...
Textos literários
infantis são os que prevêem a existência de elementos mágicos, fantásticos,
inverossímeis que, na trama, são absolutamente possíveis de existir, como a pó de pirlimpimpim... São textos
caracterizados pela presença de linguagem metafórica e em alguns casos, de
palavras ou expressões inventadas, que produzem tamanho efeito no leitor que
ele acaba acreditando nelas, vivendo-as, multipicando-as. Como exemplo, temos o
invencível traço de Eva Furnari e seu Pandolfo: "No reino da Bestolândia, havia um jovem príncipe chamado Pandolfo.
Pandolfo nada entendia de amor ou amizade...". Pronto, já entrei
no reino, visualizei Pandolfo, ele é jovem, não entende nada de amor ou
amizade, o reino existe e quero saber o que será dito na próxima página.
É Eva Furnari e suas invencionices. Literatura pura, da mais alta
qualidade.
Textos literários
infantis são brinquedos inventados por nós, através de um mecanismo incrível, o
nosso cérebro e nossa imaginação. Não há máquina que imite, é criação pura,
invencionice, bobices e gostosuras, como diz Fanny Abramovich. Doce e útil, a
literatura tem o compromisso de encantar o leitor e, ao mesmo
tempo, torná-lo mais culto, mais perspicaz, mais inteligente, mais
curioso... A obra literária não tem a tarefa de informar, embora possa fazer
isso, não tem a tarefa de educar, apesar de poder. Tem compromisso com a
imaginação, a emoção, a estética...
Simples assim...
Punto e basta!
[1] Docente na FaE/UFPel, coordena o
ALFABETA desde 2004 e o GEELHL desde 2009.
[2] Integral disponível em http://educaterra.terra.com.br/literatura/temadomes/temadomes_classicos_2.htm
[3] Os manuscritos do primeiro volume dos Contos de Fada para o Lar e as Crianças (1812) dos irmãos Grimm
foram reconhecidos pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade. Jacob e
Wilhelm são considerados cofundadores da Germanística, pois eram colecionadores
de textos da tradição popular escrita e falada, filólogos, historiadores de
direito e políticos. Integral em: http://www.brasil.diplo.de/Vertretung/brasilien/pt/__pr/Nachrichten_20Archiv/02.05.13_20contos_20de_20fadas.html