quinta-feira, 21 de março de 2024

Literatura infantil ou literatura para crianças?

Literatura para criança: um conceito a ser aprimorado

Cristina Maria Rosa 

Há algum tempo escrevi que a literatura infantil é um gênero literário produzido por adultos – autores, ilustradores, editoras – disseminado por medidores para a infância que estes adultos imaginam existir entre as crianças de seu tempo.

E afirmei que, por ser volúvel, indefinida, em trânsito, a infância é um conceito de difíceis contornos.

Pensava e mantenho a certeza de que por ter natureza interdisciplinar, o trato às questões das crianças e da infância não necessariamente precisam ser todas inseridas na obras que para elas preparamos, lemos, disponibilizamos.

Esse argumento é oriundo da observação de que são, na maioria dos casos, os adultos que escrevem, leem, escolhem e definem certos textos como “próprios à leitura pela criança”. Por isso mesmo, a literatura infantil é fruto de épocas que, mais ou menos assertivas, vão deixando um rastro de pistas para compreendermos como tratamos nossos pequenos, como os inserimos em nossas questões, todas elas tão importantes na vida adulta.

Assim, o que pensamos e como tratamos a morte, por exemplo, pode vir a deixar marcas na literatura que produzimos para as crianças.

Do mesmo modo, o que pensamos e como tratamos o abandono, evidencia o surgimento de livros em que este fenômeno de nossa espécie, apesar de parecer absurdo, ocorre.

É assim, também, com o que pensamos e como tratamos a indiferença, um sentimento de "irrelevância do outro". A indiferença é o contrário do que convencionamos chamar de importante, relevante, constituidor do humano em nós. A literatura para crianças vai ter títulos em que esse tema aparece, indicando que sim, queremos uma infância que pense e se importe. Consigo e com "o outro".

Por fim, pergunto: As escrita que produzimos para nossos pequenos pode ser "apartada" das questões filosóficas? Pode ignorar as questões que nos tomam o sono, quase todos os dias?

Penso que estas e outras questões a serem "destrinchadas" indicam que  a literatura para crianças é assunto sério.

Mas, não podemos esquecer...

É, primeiro, arte.

Doce e útil.

Mas arte, sempre!


sexta-feira, 15 de março de 2024

Geografia

 


Geografia

Cristina Maria Rosa

 

 

Quando os conheci, eram Diego, Eliane, Eric, Cláudia, Izabel, Jéssica, João, José Antonio, Luana, Paulo, Suelen e Tassia.

Agorinha mesmo, pensando em cada um deles, em cada uma delas, já não são mais só nomes em uma lista do cobalto.

A Tassia escreve contos. O João decidiu ler. A Claudia vai à feira do livro. A Eliane elogia profundamente. O Eric veio e se foi. A Izabel tem voz gentil. A Jéssica aparece eventualmente. O José Antonio revelou segredos. A Luana é tímida. O Paulo educa meninas. Suelen não deu o ar da graça.

Meus e minhas.

Alunos e alunas.

Da Geografia!

Licenciatura em Geografia.

Entendo a Geografia como uma “grafia a respeito do mundo”, este mundo em que vivemos como espécie. No dicionário, leio que é uma ciência que se pretende capaz de compreender os fenômenos físicos, biológicos e humanos que ocorrem no planeta além de dar pitacos sobre suas causas e observar e descrever relações entre esses eventos.

Não é pouca coisa...

Mas, como eu ia escrevendo acima, a Geografia, na UFPel me chegou por meio de um grupo.

Todas as quintas, 19 horas, em diferentes lugares e até em sala de aula improvisada, vi e conheci.

E, confesso, me diverti.

Hoje, sei mais que antes.

Hoje, conheço mais e melhor estudantes que trabalham.

E que estudam, ao mesmo tempo.

Partilharam comigo seus sonhos, suas perspectivas, suas expectativas.

Revelaram delicadezas e maus tratos.

Doeu ouvir.

Almejaram um futuro intergeracional na UFPel.

Será que somos capazes?

Geografia.

Uma ciência repleta de gentes.

E que gentes!