terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Nem só de areias vive o Areal...


Nem só de areias vive o Areal...

Cristina Maria Rosa


Pelotas é matriz de excelentes contos.

Conheço vários amigos e amigas que, de tão “na cara” as evidências, se transformam em bons contadores de histórias. Como Verissimo ou Saramago.

Não é o meu caso.

Eu me contendo em escrever o que me contam. E, se alguém gosta, fico feliz da vida.

Este é sobre o Areal. O “bairro” mais “avenida com adjacências” que conheço. Um belo lugar, repleto de presente e, acabo de descobrir, com um passado surpreendente.

Já escrevi sobre o Areal em Cobras no Laranjal, um de meus livros mais biográficos.

Já morei no Areal.

Já dei aulas lá.

Minha padaria predileta é lá.

O museu da Baronesa significa muito para mim.

A Avenida já recebeu muitas de minhas dores e, em caminhadas pelo canteiro central, elucubrações se transformaram em contos ou projetos.

Tenho uma amiga que tentou se suicidar nela, atirando-se sob os carros que insistem em correr ali...

Foi ali que morou um dos professores mais icônicos da UFPel e, ao passar em frente a antiga casa hoje escola, sempre recordo seu sorriso.

Mas, sobre o Areal como lugar geográfico, pouco escrevi.

Hoje, recebi um presente.

Uns papeizinhos guardados desde tempo remoto.

Na verdade, fotografias de papeizinhos.

Papel e papeizinhos oriundos de arquivos catalogados, divididos e subdivididos.

Nesses, a notícia de que o Areal, em priscas eras, foi mar.

“Era mar há milênios!”, disseram minhas fontes.

Em seu solo, “areia e água salobra”, me informaram.

Curiosa que sou, perguntadeira, inevitável saber como descobriram...

Na vontade de ter um poço, “há muitos anos,  furamos o jardim e analisamos a água”.

E...

O “engenheiro que fez o trabalho” contou “que era mar, aqui”.

Que lindo, eu disse.

Que lindo, mesmo, morar no mar, sobre o mar, perto do mar, pensei.

 

E, com o laudo da areia que um dia foi mar em mãos, fiquei pensando: acredito ter aqui um bom material para um conto...

Sempre soube que Pelotas era essa fonte infindável de memórias.

E informo: suprimo fontes com elegância!