sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Sapos e Bodes no apartamento...


Primeiríssima infância: o idílico e o poético garantido?

Cristina Maria Rosa

Hoje assisti a defesa de Projeto de Tese de Cristiene Galvão. Ela está se tornando uma muito importante pesquisadora no campo da literatura que é produzida para bebês no país, sob om olhar atento e cuidadoso de suas orientadoras.

Mestrado

Já no mestrado, Cristiene brilhou. No texto Existe uma literatura para bebês?, disponível no Repositório da UFMG, encontra-se parte significativa dos caminhos que ela percorreu para definir o que é uma “experiência literária". Lei a o resumo:


Esta dissertação insere-se na linha de pesquisa Linguagem e Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFMG e tem por objetivo principal investigar o teor literário em livros de literatura destinados a crianças de 0 a 2 anos. Para tal, busca aproximações com o universo infantil, considerando os bebês como sujeitos que são produtos e produtores de cultura e que, na troca de experiências como os outros e com o meio, constroem suas singularidades. Analisar as publicações literárias para bebês apresenta-se como um grande desafio, uma vez que as crianças dessa faixa etária estão dando os primeiros passos rumo à ordenação do mundo. A abstração tão necessária para que as crianças possam criar outros mundos em outros tempos e espaços, característica do texto ficcional, ainda não está garantida em obras para esta faixa etária e isso acarreta diferenças singulares nas publicações para esse público. Podem esses livros receber o selo de literários? Podem os bebês produzir sentidos em contato com narrativas ficcionais? Para responder tais perguntas é preciso o apoio de lentes teóricas que consideram a infância como um acontecimento e os bebês como sujeitos que se constituem na linguagem e que por meio dela subjetivam e compartilham suas experiências. A opção de conhecer e analisar os livros de literatura infantil destinados aos bebês objetivou categorizá-los segundo suas propostas interlocutórias e entrelaçá-los com as perspectivas vigostskiana, wallonianas e golseanas de ampliar as experiências afetivas e cognitivas das crianças, levando em conta as particularidades dessa faixa etária. Bernardo, Compagnon, Eagleton, Jouve são, também, importantes interlocutores dessa pesquisa uma vez que redimensionam o conceito stricto sensu dado à literatura, atitude tão necessária para a apreensão da pluralidade de produções existentes na atualidade. Na esteira da ampliação desse conceito, autores com Hunt e Sosa auxiliam a configurar as especificidades dos textos literários destinados às crianças. O corpus de análise foi selecionado a partir de acervo particular e intentou abranger a diversidade de produções para essa faixa etária. Foram levantadas as seguintes categorias: materialidade, temática, gêneros, número de palavras, conceito da obra. Os resultados indicam que, dentro de um conceito mais abrangente de literatura, é possível classificar livros destinados a bebês como literários desde o instante em que a ruptura com a realidade se materialize, não como uma transcrição, mas como uma (re) apresentação do real. Ainda que muitos livros infantis destinados a bebês não apresentem uma estrutura narrativa, já se observa a fratura com o real e um exercício ficcional capaz de criar tensões das mais variadas cores e tons.

 

Algum diálogo sobre a criança...

O infante de nossa espécie é sujeito ativo, pensante, razão em potencia? Como definir infância?

Para Ana Maria Machado, é fundamental que apresentemos às crianças uma variedade de impressos que informem sobre a presença, na cultura escrita, de múltiplos livros, linguagens, temas, vozes, ilustrações. O intuito seria propor o desenvolvimento da capacidade crítica. Esta proposição contraria uma anterior, clássica, defendida por Cecília Meireles. Para a poeta que também foi professora, apenas livros de qualidade deveriam ser ofertados aos pequenos, argumento que se encontra em Problemas da Literatura Infantil, publicado em 1951, pela Secretaria de Estado da Educação de Belo Horizonte.

Cristiene, em seus estudos que se orientaram pela análise contrastiva, indica que, dentro de um conceito mais abrangente de literatura, é possível classificar livros destinados a bebês como literários desde o instante em que a ruptura com a realidade se materialize, não como uma transcrição, mas como uma (re) apresentação do real.

E...

Foi assim que Lembrei de Graça Paulino e de um de seus artigos: Sapos e bodes no apartamento.

Impossível não lembrar...

 

Por fim...

Crianças merecem literatura...

Pois...

Literatura subverte!

Inclusive o insondável!

Inclusive o insondável!!!

Subverte o real! Transforma o real. E...

O que é o real?

 

Bônus

A dissertação está aqui: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUOS-ARRJJ5

Nenhum comentário:

Postar um comentário