segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Pequeno Glossário: Alfabetização Literária

Alfabetização Literária.

Cristina Maria Rosa

 

É o processo de apresentação da literatura a todos e demanda deliberação, constância e qualificação, pois a formação do gosto não pode ser aleatória, eventual e desprovida de critérios.

Desenrolando...

Alfabetização Literária é o processo de apresentação da literatura – seus atributos e ritos – a todos: bebês, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Na alfabetização literária é indispensável, essencial, primordial a deliberação (desejar, imaginar, planejar e propor a leitura), constância (ler frequentemente, ao menos uma vez ao dia) e qualificação (selecionar obras e atuar com habilidade). Isso significa dizer que a formação do gosto por ler literatura não pode ser aleatório, eventual e desprovido de critérios. Esses atributos – deliberação, constância e qualificação – serão, a seguir melhor explicitados.

O que é um processo deliberado?

Apresentar a literatura para as crianças em casa e na escola demanda saber de seu poder antes, durante e posteriormente à vida escolar. Desse modo, deve ser premeditado, ou seja, planejado, concebido, engendrado, criado, idealizado, imaginado, tramado, tecido antes da presença de usuários e seus modos de conhecer os livros e seus segredos. Nesse processo cabe selecionar obras, preparar locais de leitura, ler antes de ler para outrem, aprender a ler pontuando sons e silêncios. Todo texto tem ritmo, o leitor precisa encontrá-lo e esse atributo integra a apresentação do ler literatura.

Um processo frequente é aquele que tem periodicidade, é costumeiro, cotidiano, habitual, presente, recorrente, não é eventual. Isso significa dizer que desde bem pequenas as crianças podem conviver com as delícias que os ritos de manipular, folhear, ouvir, ver e até cheirar e abraçar os livros proporciona. Processo frequente significa ter constância, continuidade, reiteração, sequência, assiduidade. Processo frequente é o que permite amiudar-se com os objetos de conhecimento, ou seja, tornar-se íntimo do livro e da leitura.

E o que é um processo qualificado de apresentação do livro e da leitura?  É o que se cerca de critérios de escolha de obras, autores, temas e atitudes na apresentação aos futuros leitores. Ser qualificado significa ser apto, capacitado, especializado, habilitado, instruído, preparado para escolher o que ler e dialogar ou mesmo silenciar sobre o lido. É ter a sensibilidade de apresentar a arte e deixar que essa reverbere no ser que está se apropriando de suas qualidades.

Habilidade referencial à vida dos humanos em sociedade, além de integrar os saberes docentes, qualificar o processo de aquisição da linguagem oral e inserir as crianças pequenas na cultura escrita, a alfabetização literária é urgente e imprescindível.

Pesquisadores interessados no tema como Bartolomeu Campos de Queiros (2009), Beatriz Cardoso (2014), Lígia Cademartori (2014), Ana Maria Machado (2002), Graça Paulino (2014), Regina Zilberman (2003) e Tzvetan Todorov (2012), são unânimes em atribuir à escola o poder e o dever de ensinar a amar a literatura. Dialogando com as reflexões e proposições desses que me antecederam na produção teórica e metodológica, contribuo pesquisando o que, como e quando ler para crianças. Com pesquisa iniciada em 2014, acompanho um grupo de bebês em seus processos de aquisição da leitura e as conclusões a que venho chegando indicam que o conhecimento dos termos “alfabetização literária”, “literatura infantil” e “mediador” devem fazer parte da formação do professor que atua na educação infantil e anos iniciais da escolarização. Penso que as similitudes e diferenças entre os termos "acervo" e "repertório literário" são preponderantes para o estabelecimento de critérios para a escolha de obras que devem ser disponibilizadas aos pequenos na escola.