Uma das perguntas que mais ouço
quando relato descobertas em minha pesquisa sobre bebês leitores é a respeito
dos procedimentos que os adultos devem adotar para que seus bebês se tornem
crianças leitoras
Respondo de imediato: leia para ele!
E logo emendo: escolha bons
livros, leia todos os dias!
E exagero: não entregue a ninguém,
nem ao bebê a tarefa de ler. Essa tarefa é do adulto da espécie!
E argumento: nós, Sapiens,
devemos, por preservação, se não houver argumento mais sólido – e há – educar os
infantes. Com relação à linguagem, maior traço distintivo entre nós e as demais
espécies que conosco habitam esse planeta, devemos educar o gosto, pois este
não é genético, não vem inserido no DNA. Gostar de ler e ler o que é bom se aprende em casa, no colo do pai e
da mãe, da avó ou da madrinha e até de tia-avó. Pode até ser que, em alguns casos, se aprenda na
escola, mas aí o assunto é outro...
Tendo como objetivo apresentar resultados de pesquisas
que vêm sendo desencadeadas em duas instituições – UNESP/Presidente Prudente/SP
e UFPel/RS – escrevei, recentemente, um artigo no qual revelo que bebês indicam
ter “repertório literário” e que este pode ser observado em comportamentos espontâneos e adquiridos.
Como fonte teórica para o diálogo com as descobertas que realizo desde
2015, cerco-me de pesquisadores para quem as práticas formadoras do leitor
são definidas pelo conteúdo – o que ler – e pelos procedimentos ou “como” ler.
No primeiro aspecto, Cademartori
(2014), Machado (2002), Paulino (2014) e Zilberman (2005), concordam que o
texto literário deve ser ponto de partida para a alfabetização literária. Com
relação aos procedimentos, Tzvetan Todorov (2010) nos ensina que a principal
função de um professor é iniciar os seus “nessa parte tão essencial de nossa
existência que é o contato com a grande literatura” e que a escola deveria
“ensinar os alunos a amar a literatura”. Aqui, me refiro a todos os tipos de professor...
Para a pesquisa que desencadeei
um pouco antes do nascimento da Júlia, a primeira bebê a ser acompanhada até os
três anos de idade, organizei coletas de informações em interações com bebês,
os livros, suas mães e eu mesma.
Entre os primeiros resultados – descreveo atitudes de bebês bem pequenos em relação aos livros. E informe quais as atitudes que indicam se já
foram apresentados a práticas culturais nas quais o livro é protagonista.
Nas interações com os bebês, observei gestos, ritos e modos de ter contato com o livro mesmo quando o bebê
indistingue o artefato cultural de qualquer outro objeto. Esses modos de
manipular independem de sua idade cronológica e revelam o quão familiarizado o
bebê está com livros e modos de ler.
Percebi que, em alguns casos, o
bebê confunde o livro com
um objeto qualquer, como um chocalho, bola ou uma boneca. O primeiro gesto que
observamos foi tocar e bater sobre o livro. Ele busca sentir as dimensões do objeto.
Logo depois, busca pegar e aproximar o livro de si e da boca – fonte conhecida
de sensações. Após bater, tocar, pegar e aproximar, o bebê leva o livro à boca,
evidenciando que não conhece, não foi apresentado ao livro como objeto
cultural. Pode também ocorrer de o bebê, ao “pegar de qualquer jeito”, ao
tentar olhar e ou folhear, pode folhear de “trás para frente”, ou pegar várias
páginas ao mesmo tempo. São indícios de que ao bebê ainda não foram
disponibilizados os rudimentos do
comportamento leitor, atitudes prévias e imprescindíveis para a
alfabetização literária.
Diferentemente, entre os bebês
que já foram apresentados ao livro como objeto central da cultura escrita, as
atitudes são diferentes e, de forma mais intensa, também manifestam seu repertório de informações sobre o
livro, a leitura e a literatura.
Entre as evidências do comportamento adquirido – quando o bebê indica perceber os ritos no trato com o livro – pude observar que costuma folhear e ajudar o adulto a folhear. Quando este está lendo, ouve com atenção. Se lhe é oportunizado, segura sozinho o livro, imitando a ação do adulto e, quando permite, escolhe o que quer ler, abre, observa, fecha, troca, guarda. Eventualmente, reclama se o livro se fecha e comemora ter encontrado algo conhecido em alguma página ou capa. Ao apontar o livro ou imagens nele, indica ao adulto que o livro está danificado, responde a perguntas olhando e/ou apontando para imagens ou escritos, e balbucia, exclama, põe a mão na cabeça e “lê” em voz alta, com entonação. São alguns dos indícios de que o bebê conhece ritos esperados quando o objeto em interação é o livro. Percebi ainda, que alguns bebês estranham um livro desconhecido e o comparam, descartam, devolvem, se não querem a interação com aquele livro, por exemplo.
Entre as evidências do comportamento adquirido – quando o bebê indica perceber os ritos no trato com o livro – pude observar que costuma folhear e ajudar o adulto a folhear. Quando este está lendo, ouve com atenção. Se lhe é oportunizado, segura sozinho o livro, imitando a ação do adulto e, quando permite, escolhe o que quer ler, abre, observa, fecha, troca, guarda. Eventualmente, reclama se o livro se fecha e comemora ter encontrado algo conhecido em alguma página ou capa. Ao apontar o livro ou imagens nele, indica ao adulto que o livro está danificado, responde a perguntas olhando e/ou apontando para imagens ou escritos, e balbucia, exclama, põe a mão na cabeça e “lê” em voz alta, com entonação. São alguns dos indícios de que o bebê conhece ritos esperados quando o objeto em interação é o livro. Percebi ainda, que alguns bebês estranham um livro desconhecido e o comparam, descartam, devolvem, se não querem a interação com aquele livro, por exemplo.
Para quem quer inciar o processo - tornar seu bebê um apreciador de literatura, um leitor -,
duas atitudes são as mais importantes: Gostar de ler e gostar de ler
para o bebê.
Os livros, nesse primeiro
momento, podem ser os da Eva Furnari, no Brasil os mais adequados para os
pequeninhos: pelo formato, ilustrações e texto. A coleção Miolo Mole é a mais
adequada.
Depois é fazer sempre, todos os
dias, os mesmos ritos e ir qualificando e ampliando a biblioteca do bebê.
Faça o seguinte:
1. Convide o teu bebê a ouvir com atenção;
2. Permita e incentive-o a escolher o que quer ler;
3. Apresente capa, tamanho, indique figuras, letras, formas,
cores, formato, entre outros elementos que compõem o livro;
4. Leia com voz adequada a cada momento da narrativa: em voz
alta, com entonação, com rima, imitando ou inventando vozes para os personagens
e cante, quando há canções;
5. Convide a folhear ou permita que o bebê te ajude a
folhear;
6. Permita e incentive-o a segurar sozinho o livro;
7. Narre os ritos de abrir, observar, fechar, trocar, guardar.
Assim: Vamos abrir nosso livro? Olha só, o menino está andando de bicicleta!
Será que ele vai passear na praia? Vamos folhear a próxima página e descobrir?
8. Aponte e nomeie o livro entre outros objetos (brinquedos,
por exemplo) ou imagens nele, para identificá-lo para a criança;
9. Indique e mencione se eles foi danificado e lamente,
solicitando que se cuide dele;
10. Pergunte ao bebê olhando e/ou apontando para imagens ou
escritos, sobre o que ele está vendo e ajude-o a identificar essas imagens;
11. Compare, escolha, devolva, guarde, cuide e narre cada uma
dessas atitudes, para que o bebê saiba que o livro e sua presença na família é
importante;
12. Presenteie livros, leve o bebê a ritos e eventos de
letramento e mencione a coleção que ele está iniciando;
13. Dê a ele os teus livros de infância e diga há quanto tempo
estes livros estão entre vocês;
14. Indique pessoas que leem, elogie os benefícios da leitura e
usufrua da companhia do teu bebê ao ler os livros dele com ele;
15. Escolha um ligar no quarto ou na casa em que oslivros do bebê serão armazenados, indicque esse ligar para ele, dê acesso e elogio os cuidados que el tem com seu acervo. Por fim, deleite-se lendo com ele!
15. Escolha um ligar no quarto ou na casa em que oslivros do bebê serão armazenados, indicque esse ligar para ele, dê acesso e elogio os cuidados que el tem com seu acervo. Por fim, deleite-se lendo com ele!
Referências: ROSA, C.M. & JUNQUEIRA, R. Alfabetização
literária: os bebês e seus modos de ler. Trabalho apresentado no Jogo do
Livro. Belo Horizonte: FaE/UFMG, 2017. Para ler o artigo integral, escreva
para cris.rosa.ufpel@hotmail.com