Autora: Cristina Maria Rosa
Instigada por uma leitura que me foi apresentada recentemente e por uma expressão – coisas de mulher – que moveu Nadiéjda Krúpskaia a escrever um pequeno texto, decidi perguntar a meu grupo de contatos online o que são “coisas de mulher”.
Instigada por uma leitura que me foi apresentada recentemente e por uma expressão – coisas de mulher – que moveu Nadiéjda Krúpskaia a escrever um pequeno texto, decidi perguntar a meu grupo de contatos online o que são “coisas de mulher”.
Para Krúpskaia
(1909-1910), “coisas de mulher” eram os trabalhos considerados “exclusivamente
femininos”, como “costurar, cozinhar, lavar, cuidar de crianças”. Além disso,
no artigo escrito no início do século XX, circunscreve os “pequenos cuidados”
que se relacionavam com a “concretização de afazeres domésticos isolados” como
“cozinhar o almoço, limpar a casa, remendar o uniforme, educar os filhos”,
tarefas, que segundo seu modo de pensar, “merecem todo o respeito e de forma
alguma, desprezo”.
Uma de suas
críticas foi dirigia à imprensa que, de acordo com Nadiéjda, atribuía, exclusivamente
à mulher, o trabalho doméstico. O argumento utilizado, então era de que o “lar”
e a “vida familiar” era a “esfera” que melhor correspondia à “individualidade
da mulher”. Assim, recomendava que a mulher deveria se preocupar em ser um “dona
de casa exemplar”.
Para Krúpskaia
(1909-1910), é evidente a hipocrisia contida nessa argumentação. Ela é enfática
ao considerar que os homens “jamais se rebaixam a realizar o trabalho
doméstico”, pois, “no fundo de sua alma”, consideram-no “coisa de seres menos
evoluídos, possuidores de necessidades mais simplórias”.
Século XXI
Passados mais de 100
anos desse tempo em que Nadiéjda Krúpskaia denuncia, o que pensam mulheres e
homens? O que seriam “coisas de mulher” em 2017? Se há “coisas de mulher” o que
seriam estas “coisas” para quem é criança, jovem, estuda, trabalha, cria filhos
e netos em plena “sociedade do desempenho” (HAN, 1959)?
Sem discriminação
de gênero nem idade, enviei a pergunta a todo o meu grupo de contatos via
WhatsApp. As respostas foram surpreendentes. A única ressalva na comunicação
dos resultados foi indicar a opinião dos homens ao final.
Agradeço a todas as
pessoas (familiares, amigos, alunas, colegas) que contribuíram. Com as palavras
de todos vocês pude compor um mosaico muito interessante do que são “coisas de
mulher”.
“Coisas de mulher”
Oscilando entre
características culturais, comportamentais e biológicas e citando afazeres e
trabalho em casa e na sociedade, as mulheres que responderam à pergunta
refletiram a partir de si mesmas e do que observam a seu redor. Para elas, não
há consenso na expressão “coisas de mulher” e um grupo considerável afirmou que
não há essa distinção ou, ainda, que “não existem coisas específicas de mulher”,
pois “a mulher pode tudo”. Algumas afirmaram que a expressão está em desuso, que
não cabe mais em tempos com tantas demandas.
“A única marca que
carregamos em comum – todas nós mulheres – é a força interior que nos faz
enfrentar toda e qualquer situação imposta pela vida”.
“Absorventes, com certeza!”.
“Acho que a
maternidade seja a única coisa que realmente ainda pode ser atribuída
exclusivamente às mulheres”.
“Acho que envolve
desde maquiagem a ciclo menstrual”.
“Acho que tem
coisas que a mulher faz melhor. Mais delicada, com mais paciência”.
“Acredito que essa
frase nos dias de hoje não exista mais. A mulherada está tão independente que
coisas tipo shopping, cabeleireiro, manicure, são feitas por homens também, sem
preconceito algum! Não existe mais isso de "coisas de mulher”, “coisas de homem”.
“Acredito que seriam
certas roupas, maquiagem, mas têm coisas de mulher que homens usam e não vejo
problema nisso!”.
“Acredito que tenha
muito a ver com o tipo da mulher. Para algumas, pode ser um batom, unhas e
cabelos bem arrumados. Para outras, uma tarde reunida com as amigas para bater
um papinho gostoso, dar risadas e até chorar. Mas, no fundo, acredito ser um
pouco de tudo isso”.
“Adoro essas
perguntas! São coisas que mulheres fazem, gostam, usam de
modo geral. O que elas quiserem!”.
“Amorosidade no olhar, capacidade de colocar o
outro no mesmo grau de importância de si mesmo e batom!”.
“Antigamente a carreira
artística não era coisa para mulheres. Havia imenso preconceito e as mesmas
eram tratadas como prostitutas. Hoje, as mulheres tem ampla aceitação e
destaque e os homens tem liberdade de criação artística, desempenhando papéis de
mulheres com naturalidade”.
“Aquelas com toques
delicados, feitos com amor, suaves e apaixonantes, sem ter algo determinado ou
listado do que é ou não é, mas tudo aquilo que a mulher toca deixa sua marca”.
“Batons, esmaltes,
depilações, cólicas, sabedoria, paciência, coragem e muito mais...”.
“Boa pergunta.
Ontem eu estava vendo novela. Nela, a personagem da atriz Maria Cândida dizendo
que o neto ia jogar futebol, andar de skate... A outra atriz, que faz o papel
de Ivana, perguntou: E se ele quiser brincar de boneca? – Não, isso é coisa de
menina, ela respondeu. Eu, aqui em casa, vivo isso. Minha sogra tem 66 anos e
acha que nós, mulheres, temos obrigação de cozinhar, lavar, passar, arrumar a
casa. Se pedir algo para meu namorido,
escuto: Isso é a tarefa da mulher...”.
“Cabe a uma mulher
aquilo que ela decidiu seguir”.
“Coisas de
mulher... Em se tratando de coisas materiais, tudo que uma mulher julgar que
pertença ou que lhe pertença”.
“Coisas de
mulher... Tudo é coisa de mulher. A gente é responsável por tanta coisa -
inclusive pelo que não devia ser: a sociedade impõe "coisas de
mulheres". O que são mulheres? Coisa de mulher é nascer, é crescer, é
aprender, é desenvolver, é viver. E é cuidar, educar, pensar, se preocupar.
Coisa de mulher é lutar, é conquistar espaço, é estudar, é aguentar, é "se
virar". “Coisa de mulher” são vários verbos, porém, também são vários
sentimentos. É alegria, sabedoria, força. É amor. Também é preocupação. Às
vezes, também, é medo. E é resistência. Coisa de mulher é resistência”.
“Como definir
quando as mulheres desempenham tantos papéis e se utilizam de tantas coisas? Vi
minha mãe dirigir um fusca e fazê-lo de Topic, levando minhas amigas e eu para
escola. Vi minha tia arar a terra e ordenhar vacas, fazendo desses afazeres seu
sustento. Vi minha irmã pegar seu aluno no colo, ofertar a ele acalanto e
segurança. Vi minha amiga posar para fotos com suas botas e bolsas, fazendo
marketing de sua loja. Por fim, me vi empurrando o carrinho de minha filha e
mostrando a cidade para ela. As coisas de mulher são atitudes. Sentimentos
feitos, ação de quem batalha, trabalha, acolhe, se vira e ensina. Ama, encara,
deixa pra lá e corre atrás. Cada cabeça uma sentença, cada mulher um arsenal de
coisas que coleciona para ajudar a ser a melhor versão de si e desempenhar a
função que desejar exercer”.
“Cuidar da casa,
marido, filhos, trabalhar”.
“Dar à luz, parir,
ter contigo a vida! A melhor coisa do mundo! Ou, como dizia Guimarães Rosa, “um
menino nasceu, o mundo tornou a começar". Então, o melhor de ser mulher é
tornar à potência de tornar a começar”.
“Depende do que se
refere a “coisas”. Se objetos, diria que absorvente pode ser dito como objeto
exclusivo de mulher e me refiro ao comum, não o interno, pois este pode ser
utilizado por homem se ele assim entender usar. Se for em sentido anatômico, o
útero e a geração de um filho é próprio de mulher, por enquanto. E no geral,
nada mais pode ser dito que é “coisa de mulher”. Tudo é passivo para os dois
gêneros. Respondi?”.
“Difícil dizer o
que são coisas de mulher. Vou refletir um pouco sobre...”.
“É qualquer coisa
que ela queira, mas sempre envolvida por delicadeza e sensibilidade”.
“É tudo que ela
deseja, quando essa mulher tem uma formação familiar e intelectual. Devo
citar?”.
“É tudo que tem de
bom no mundo!”.
“É um rótulo que a
sociedade colocou para diferenciar dos homens. Para sustentar o machismo”.
“É uma definição
taxativa daquilo que somente serve para mulher e não serve para o homem, isto
é, objetos femininos, mas com carga negativa de superficial: conversas entre
amigas pejorativamente apontadas como fúteis. Não sei se nos últimos tempos
tenho visto essas definições um pouco com amargura, mas me parece que o mundo
tem apontado para essa direção, ao menos, e delimitando, o meu mundo”.
“É uma expressão de
machismo. Quando os homens querem justificar determinadas atitudes femininas que
eles não compreendem – ir ao banheiro com outras mulheres, por exemplo – as
definem como gestos típicos e exclusivos ao mundo feminino”.
“Em se tratando de
coisas materiais, tudo que uma mulher julgar que pertença ou que lhe pertença. Pelo
lado fisiológico e emocional, sorrir e abraçar a todos como se nada tivesse
acontecido, depois de brigar com Deus e o mundo, durante uma TPM. Somente a
mulher para agir desta forma, um homem jamais entenderá (e sentirá) o que é
isso.
“Entendo que são
assuntos e atitudes de interesse do sexo/gênero feminino, como, por exemplo,
maquiagem. No geral, mulheres, gays, transgêneros e afins que tem interesse por
usar ou pesquisar sobre o assunto”.
“Estávamos falando
agora mesmo sobre isto, que meninos, desde pequenos, ganham brinquedos que estimulam
a ter uma profissão. A menina é cuidar da boneca, panelinha, ferro, tudo para
ser dona de casa”.
“Estou viajando com
minha mãe e ela respondeu que “coisas de mulher” é TPM! Eu acho que coisas de
mulher é o olhar de ternura que temos sobre tudo...”.
“Êta perguntinha
complexa! Penso que é tudo que uma mulher puder fazer sozinha para alcançar o
que quer, independente do espaço em que estiver. Eu me nego discutir o que uma
mulher pode ou não! Porque cada uma pode coisas diferentes e em muitas coisas
homens e mulheres se complementam, ao invés de serem concorrentes...”.
“Eu não sei te
dizer em uma única frase o que são “coisas de mulher”.
“Eu, como mulher,
digo que é o conjunto de objetos, comportamentos e modos de pensar que fazem
parte da nossa personalidade. Embora hoje esse universo não seja mais restrito
ao que a sociedade entendia como feminino, já que hoje tudo pode ser coisa de
mulher, desde panelas à bola de futebol ou chorar vendo uma novela e praticar
uma arte marcial”.
“Fiz a pergunta
para minha filha, de dez anos e ela disse que não há coisas de meninas ou
meninos, o que importa é o que a pessoa gosta de fazer. Meninas podem querer
brincar de futebol e meninos de boneca”.
“Me dá um tempo...”.
“Muitas vezes, duas
ou mais mulheres conversam sobre gravidez, menstruação e segredinhos. Vem um
xereta e pergunta qual o assunto. Elas, sendo tímidas ou reservadas, para
despistar, respondem: Coisas de Mulher!”.
“Mulher é muito
detalhista naquilo que faz, às vezes busca a perfeição e, ao dar seu toque
feminino, se diz: isso é coisa de mulher!”.
“Mulher Maravilha.
Se eu pudesse girar a cintura de 58 cm de Lynda Carter... Mulheres queimaram o
sutiã, o que não foi uma má ideia, afinal, é mais uma prisão que aperta e dói!
Lógico que havia muito mais sobre misoginia do pequeno recorte que farei
naquele grande protesto. No entanto, viramos escravas com M maiúsculo, chegam a
ser quatro jornadas diárias, além das várias faces que temos que assumir,
trabalhar fora, cuidar da casa, estudar, dar atenção de qualidade aos filhos e
ao marido. Ser competente profissional, exímia dona de casa, mãe exemplar,
companheira, amante, esposa. Sem falar nos cuidados estéticos, unhas bem
feitas, cabelos arrumados e maquiagem. Escravas da sociedade, do botox e de
inúmeros procedimentos estéticos na tentativa de disfarçar a alma que envelhece
triste enquanto corremos atrás de tudo ao mesmo tempo o tempo todo... quer
saber? Devolve meu sutiã!”.
“Mulheres amam os
filhos, gostam de jantar em um bom restaurante, regado a bom vinho. Gostam de
ir ao banheiro juntas, de ir ao shopping fazer compras. Principalmente, comprar
sapatos. Gostam de batom, cílios grandes, enfim, de serem elegantes. E de outra
infinidade de coisas. Afinal, somos lindas, de um jeito ou de outro. Não achas?”.
“Na infância, brinquedos panela, fogão, boneca.
Tarefas ensinadas pelas mães como cozinhar, limpar a casa, bordar, fazer tricô,
crochê”. Com o avanço das tecnologias, essas “coisas de mulher” foram sendo desmistificadas.
Com a inclusão social advinda das ações afirmativas e a divulgação dos esportes,
como fator não só de competição, as mulheres passaram a se envolver no universo
masculino, sendo jogadores de futebol, vôlei, basquete, pilotos de carro,
lutadoras...”
“Não existem coisas
específicas de mulher, pois a mulher pode tudo. Mas, o mais importante e
exclusivo que é da mulher, é o poder de gerar a vida!”.
“Objetos,
acessórios e atitudes que a sociedade impõe e que só mulheres fazem”.
“Os apetrechos que nos deixam preparadas e
confiantes todos os dias?”.
“Outro lugar que mulheres
ocupam com destaque é o setor das comunicações, das redes de computadores,
encontrando-se mulheres "nerds"...
“Para mim, é tudo
aquilo que me deixa feliz. Exemplo: eu gosto de tênis esportivo masculino, para
mim, isso é “coisa de mulher”.
“Para mim, não
existe "coisa"de mulher e nem de homem. Tudo é de todos sem
designações de cores ou tarefas... ”.
“Para mim, não
existem coisas de mulher. Tudo é para quem quiser. Costumam dizer que é coisa
de mulher desde as tarefas domésticas, cuidar dos filhos, até chorar ou usar
rosa. Aquilo que para a sociedade não tem importância ou que traz
"fragilidade e feminilidade". Para mim, se fosse pra ser dito o que é
coisa de mulher, eu diria que é ser forte, ser guerreira, ser corajosa. É enfrentar
todos os dias uma sociedade que só nos diminui. Ser mulher é lutar todos os
dias pelo nosso espaço no mundo”.
“Pelo lado
fisiológico e emocional, sorrir e abraçar a todos como se nada tivesse
acontecido, depois de brigar com Deus e o mundo, durante uma TPM. Somente a
mulher para agir desta forma, um homem jamais entenderá (e sentirá) o que é
isso”.
“Penso que não
existe "coisa de mulher", pois nós conseguimos nos encaixar e
desdobrar para tudo! Talvez não tenhamos a prática dominada de algo, mas damos
um jeitinho de logo conquistar”.
“Penso que uma das
características das mulheres é a palavra. As mulheres têm esse dom de
comunicação exacerbado. E é um poder e tanto, diga-se de passagem. Resultado
disso são as conversas femininas, seja para falar sobre moda, tempo, romances,
desafetos, filhos...”.
“Pode ser algo com
conotação depreciativa ao se referir às obrigações que foram estrategicamente
imputadas às mulheres, como cuidar da casa, dos filhos, marido, entre outras. Além
das necessidades emocionais não satisfeitas que, às vezes, acabam sendo vistas
como "chiliques" ou "coisas de mulher"! Essa foi uma das
várias respostas que eu posso te dar!”.
“Pode ser o que tem
dentro de sua bolsa, mas, em geral, é aquilo que cabe a uma mulher de acordo
com o que ela é”.
“Podem ser doces ou
amargas, delicadas ou pesadas, cor-de-rosa ou azuis”.
“São aquelas que
nós conquistamos, pois queremos e sonhamos, e, acima de tudo, temos capacidade
para isso, pois os obstáculos impostos por uma sociedade só podem ser vencidos
se quisermos e lutarmos para conquistar espaço e desconstruir algumas ideias
enraizadas”.
“São as coisas que
a mulher escolhe ter/fazer/conquistar. Seja no emprego, na roupa, na casa, nas
relações, em tudo”.
“São atividades e
comportamentos atribuídos socialmente e culturalmente para o universo feminino.
Estas atividades rotuladas ‘femininas’, geralmente são conceituadas como
frágeis ou fúteis”.
“São meras
construções sociais e culturais. Referem-se às expectativas que uma determinada
sociedade, em um dado tempo histórico/social e cultural, estabelece para
pessoas que nascem com a genitália ‘feminina’".
“São tantas coisas
que tive que pensar: Fazer as compras da feira, ir ao médico levar filho...”.
“São tantas coisas.
Podem ser coisas de homem também, porque não? É também é muito pessoal,
particular de cada uma. Têm mulheres que adoram estar sempre maquiadas, já
outras não; há mulheres que adoram futebol, que pensam em ter várias
maquiagens, sapatos, bolsas, vestidos ao mesmo tempo que pensam em carros,
jogar bola, beber cerveja com as amigas... Isto é só uma parte de coisas de
mulher, que pode ser muitas coisas”.
“Segredos! Magia! Força!
Vigor! Talvez sejam características. E objetos seriam echarpes, chapéus, luvas,
brincos, sapatos, cremes, batons, esmaltes, bicicleta, carro...”.
“Sempre difícil de
responder, porque hoje não há mais essa divisão: coisas a fazer são igualmente
divididas (em tese), coisas de sentir (conheço muitos homens tão sensíveis
quanto, ou até mais)”.
“Ser capaz de
coordenar e fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Isso reflete exatamente meu
momento...”.
“Ser mãe, amamentar,
maquiagem, ter menos força física, gerar um ser, conseguir realizar múltiplas
tarefas”.
“Sexto sentido,
sensibilidade aflorada”.
“Têm a ver com
liberdade, pois as mulheres são o que quiserem ser”.
“Tem relação direta
com o cuidar mais criterioso. Com o florir e perfumar o dia. Dar todo o frescor
necessário a vida”.
“Todas as coisas do
mundo. Deste e de outros, também...”.
“Tudo o que a
mulher quiser indiscriminadamente”.
“Tudo que faz a
mulher feliz! Por exemplo, eu amo futebol...”.
“Tudo que uma pessoa é capaz de fazer. A mulher passa a impressão de fragilidade,
mas somos guerreiras, com um toque de suavidade”.
“Um jeito especial
de ser e de fazer”.
“Uma das primeiras
profissões admitidas para as mulheres era o magistério e a enfermagem. Mas isso
há muito caiu e temos mulheres em diversos campos, inclusive na aviação, salvo
aquelas consideradas perigosas ou insalubres”.
“Vou tentar, não é
fácil. Acredito que é um padrão de comportamento que desde menina é imposto
pela sociedade. Estou me referindo à forte competição entre as mulheres. Nós
nos vemos como competidoras e não como aliadas. E é apenas na vida adulta que
nós percebemos que isso não é verdade”.
O que são “coisas
de mulher” para os homens que responderam à pesquisa? No universo perguntado, um grupo considerável de homens. Nem todos, no entanto, responderam. Os quatorze aventureiros
se encontram aqui. Ele têm de quinze a 68 anos e não se furtaram a dar suas opiniões, nem tão diferentes das mencionadas pelas mulheres. As respostas foram:
“Eu acho que coisa
de mulher é só menstruação, perdão pela palavra. O resto pode ser feito por
homem e mulher. Não tem descriminação”.
“Firulas.
Brincadeira. Coisa de mulher é tudo que elas quiserem, afinal elas dominam o
mundo, coisa de mulher é espaço de desejo, de carinho, de mudança de alteridade”.
“Aprendi essa resposta
esta semana. A resposta é: o que ela quiser que seja!”.
“Pergunta difícil.
Diria que coisas de mulheres são as relativas ao corpo feminino, que são
determinadas pela biologia...”.
“Depois te
respondo, está bem?”
“Não sei, afinal,
coisas não têm gênero”.
“Pergunta difícil
essa”.
“Pergunta difícil!”.
“Creio não ser a
pessoa mais indicada, mas diria que tudo pode ser "coisa de mulher".
É uma convenção cultural de tudo que foi atribuído, significado como tal. Então,
tudo pode ser "coisa de mulher".
“São todas as
atividades para as quais a mulher tenha interesse, sem nichos exclusivos para a
masculinidade”.
“Batons, esmaltes,
depilações, cólicas, sabedoria, paciência, coragem e muito mais...”.
“São as coisas que
tem a ver com a "sensibilidade aplicada", ligadas aos sentidos e as
emoções mais simples”.
“Tens de pedir à elas,
eu só sei o que é “coisas de homens”...
A revolução das Mulheres
Na quarta capa, em
texto assinado por Wendy Goldman, o leitor é convidado a se defrontar com uma
antologia de artigos, ensaios, atas e panfletos “provocativos” escritos por
“radicais pensadoras” e “ativistas” no início do século XX. O intuito é
provocar insights próprios.
Ao realizar a
pesquisa, de modo informal e em apenas três dias, colhi muitos insights. Pretendo,
ao partilhar os resultados, ser fiel aos depoentes e dar voz a quem nunca, de
vez em quando ou sempre, pensa em “coisas de mulheres”.
Mulher: identidade relacional e
histórica?
Observando um dos
escritos de Deepika Bahri intitulado Feminismo
e/no Pós-Colonialismo (Estudos Feministas, Florianópolis, 2013), no qual a
pesquisadora discorre sobre a relação entre feminismo e pós-colonialismo a
partir de conceitos-chave, percebo que a ninguém cabe “falar” e mesmo “escutar”
pelo outro.
No artigo a autora
evidencia as principais categorias conceituais – representação, mulher do primeiro
mundo, essencialismo e identidade – encontradas em debates e discussões nas perspectivas
feministas dentro dos estudos literários pós-coloniais e revela, ao observar esses
conceitos na obra de várias pensadoras, o “esforço dos estudos feministas
pós-coloniais para estabelecerem a identidade
como relacional e histórica em vez de essencial ou fixa, enquanto mantêm o gênero como uma categoria significativa
de análise.
Declaro que não há,
neste pequeno exercício de opinião, nenhuma intenção de “falar” pelo outro, “representar”
o outro. Penso que, “inerentemente interdisciplinar”, o feminismo observa,
estuda, “examina os relacionamentos entre homens e mulheres” além das “consequências
dos diferenciais de poder para a situação econômica, social e cultural das
mulheres (e dos homens) em diferentes lugares e períodos da história” (BAHRI,
2013). Desse modo, este ensaio
não é um estudo e, sim, uma voz. Melhor, é um exercício de escuta de muitas
vozes.
Textos citados:
BAHRI, Deepika. Feminismo
e/no Pós-Colonialismo. Revista Estudos Feministas, Nº 21(2): 659-688,
maio-agosto/2013. Florianópolis, SC, 2013. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2013000200018
HAN, Byung-Chul.
Sociedade do Cansaço. In: GIANOTTI, Carlos Alberto. O cansaço das demandas. ZH
PROA, 17 E 18 DE JUNHO DE 2017.
KRÚSKAIA, Nadiéjda.
Deve-se ensinar “coisas de mulher” aos
meninos? In: SCHNEIDER, Graziela. A
revolução das Mulheres. São Paulo: Boitempo, 2017.