segunda-feira, 15 de maio de 2017

Eu recomendo: O adiado avô, de Mia Couto


Escolhi “O adiado avô”, de Mia Couto como leitura recomendada para os ouvintes do programa Tons e Letras qua vai ao ar no sábado, dia 21/05, sábado, na FM Cultura de Porto Alegre.
O conto de Mia, "O adiado avô", está publicado junto a outros 16 contos que privilegiam histórias da infância no livro “A menina sem palavra: histórias de Mia Couto”, Editado no Brasil pela Boa Companhia, em 2013.
Mia Couto é um jovem autor que escreve poemas, crônicas, romances e contos. Eu, gosto mais dos contos. Sua prosa poética, um jeito de escrever que nos deixa em dúvida se é narrativa ou poema, lembra os escritos de Guimarães Rosa. Quando leio Mia Couto, sempre rememoro “Fita verde no Cabelo: Nova velha estória”. E ouso pensar que tanto Guimarães quanto Mia escreveram para que eu os leia.
Mas, vamos ao “adiado avô”, pois urge conhecer palavras de Mia Couto. Escolhi o primeiro parágrafo, que reproduzo aqui:

“Nossa irmã Glória pariu e foi motivo de contentamentos familiares. Todos festejaram, excepto o nosso velho, Zedmundo Constantino Constante, que recusou ir ao hospital ver a criança. No isolamento de seu quarto hospitalar, Glória chorou babas e aranhas. Todo o dia seus olhos patrulharam a porta do quarto. A presença de nosso pai seria a bênção, tão esperada quanto o seu próprio recém-nascido.
– Ele há-de vir, há-de vir.
Não veio. Foi preciso trazerem o miúdo a nossa casa para que o avô lhe passasse os olhos. Mas foi como um olhar para nada. Ali no berço não estava ninguém.”

Pergunto a vocês, leitores: Zedmundo será avô?
No desenrolar do conto, uma instigante e pungente história em sete páginas, o tema é o pertencimento. E, ao mesmo tempo, refere-se ao desejo de voltar aos braços dos cuidadores na infância: pais, mães, avós, tios, irmãos mais velhos. É um modo de observar a saudade de dar colo e de ganhar colo. Mia Couto revela, nas palavras do adiado avô, como é difícil adultecer. Leia:

"... no côncavo de suas intimidades, o velho Zedmundo se explicou. Eu não sou avô, eu sou eu, Zedmundo Constante. Agora, ele queria gozar o merecido direito: ser velho. A gente morre ainda com tanta vida! Você não entende, mulher, mas os netos foram inventados para, mais uma vez, nos roubarem a regalia de sermos nós. E ainda mais se explicou: primeiro, não fomos nós porque éramos filhos. Depois, adiámos o ser porque fomos pais. Agora, querem-nos substituir pelo sermos avós".

Leia “O adiado avô”.
Leia escritores em língua portuguesa.
Leia este e os demais contos de Mia Couto.
E ouça o programa Tons e Letras. Ele vai ao ar às 11 horas dos sábados, na FM Cultura de Porto Alegre.

Ficha técnica:
Tons & Letras
Apresentação: Luís Dill
Produção: Luís Dill
Horário: Sábados, às 11h
Twitter: @fm_cultura
Facebook: fmcultura107.7

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