domingo, 23 de outubro de 2016

O sítio do Colégio

Na tarde de sexta-feira, 21 de outubro, a convite da coordenação de ensino fundamental do Colégio São José, estive participando da Jornada Literária: para ler, dialogar e inventar com as meninas e meninos dos quartos anos do ensino fundamental.
A proposta – fazermos juntos um livro digital – foi inventada por mim e pareceu uma brincadeira. Foi assim: Eu escrevi um conto há muito tempo atrás, quando meu filho estudava lá, coincidentemente no 4º ano.
Escolhido entre outros desses tempos, imprimi, li em voz alta para as crianças e dialogamos sobre as aventuras de uma turma muito agitada que estudava lá.
Algumas das crianças presentes até imaginaram que seriam elas as do conto!
Depois do papinho, as crianças foram convidadas a desenharem livremente. Algumas, só escreveram. Após, cada desenho foi digitalizado.
Com um notebook plugado em uma lousa digital, projetei o que estava fazendo: diagramando e executando o projeto gráfico de um livro digital utilizando o formato PowerPoint: com meu texto e as imagens que eles haviam produzido.
Foi uma festa ver surgir na tela grande um livro quentinho...
Algumas das páginas do livro que fizemos juntos podem ser conferidas aqui. Mas, para ler o livro completo, tu deves enviar um email solicitando compartilhamento.
Escreva para mim.
E se quiseres desenvolver o mesmo projeto em sua escola, mande e-mail para cris.rosa.ufpel@hotamail.com e indique a turma que gosta de ler. Eu vou lá e leio com eles!

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Em busca de Estrelas e um Abecedário na UFRGS

Cristina Maria Rosa


Entre 2014 e 2016 atuei, como professora na área da linguagem, na 2ª edição do Curso de Especialização em Docência na Educação Infantil, um bem sucedido experimento da UFRGS/MEC.
Dessa experiência – a disciplina Linguagem, Oralidade e Cultura Escrita – surgiram dois livros digitais: ABC (um abecedário com todos os estudantes envolvidos no experimento) e Em busca de Estrelas, uma reunião de pequenos textos narrativos.
Aqui, publicizo parte dessas duas produções que possuem ficha cartalog´rafia e podem ser inseridas nos currículos de meus alunos, na ocasião. Para receber as obras na íntegra, envie um email para mim.
Em Busca de Estrelas
As palavras, evidências de nossa humanidade, tornam-se, cada vez mais rapidamente, pontes. Em torno delas, as mais variadas paisagens indicam de onde viemos e para onde desejamos ir. Escrever, então, é deixar marcas. Pegadas, como as encontradas pelo personagem Levain, de O planeta dos Macacos (2015, p.27), em sua primeira incursão em Soror, um dos planetas de Betelgeuse – estrela de primeira grandeza da Constelação de Órion. Essas marcas, datadas, indicam nossa passagem pela linguagem – o tanto próximos que estamos dela – em um tempo único: o ano de 2015, que rapidamente de esvai, como areia fina nas mãos.
As histórias, inventadas, passam a existir pelas palavras. Cada uma delas, oriundas de uma palavra também inventada, foi escolhida para produzir mais e mais: palavras, sentidos, inventos. Escrever, então, é inventar. Ao escrever depois de ler os contos escritos por outro, a cada um coube um tantinho de emoção. Lado a lado com a emoção antecipadamente vivida, escrever tornou-se pertencer.Em uma mesma trincheira, autores em busca de um mesmo fim: emocionar. Escrever, por fim, é permanecer. Que as palavras – e todos os seus sentidos aqui inscritos – permaneçam.
O livro digital Em busca de Estrelas foi uma das proposições da disciplina Linguagem, Oralidade e Cultura Escrita inserida na 2º edição do Curso de Especialização em Docência na Educação Infantil, um bem sucedido experimento da UFRGS/MEC realizado nos anos 2015-2016.
Acredito que “na cultura escrita, a literatura, por ser expressão máxima da arte de pensar e escrever, é que nos possibilita conhecer e refletir sobre o mundo e as pessoas, de forma livre e, por isto, sua leitura favorece o desenvolvimento da crítica e da criação”. Assim, a tarefa aos estudantes foi: Ler três contos escritos pela professora; Escrever uma narrativa a partir de palavras inseridas nos contos; Ler em voz alta o escrito aos colegas; Permitir sua publicação no formato Livro Digital.
O livro foi organizado por ordem alfabética de autores, foi corrigido segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (2009), não tem fins lucrativos e está sendo disponibilizado pelos autores a seus amigos, colegas, professores e público em geral.


ABC: um abecedário da turma.
Gênero literário da Literatura Infantil com características lúdicas Bordini (2011), Abecedários, cartas de ABC e silabários foram utilizados para ensinar a ler e escrever nas escolas brasileiras até meados do século XX. Segundo Frade (2010), Cartas de ABC são materiais que ainda circulam, mas em circuitos paralelos ao da escola, pois esta é a guardiã das formas de transmissão da cultura escrita. 
De acordo com BOTO (2004, p.495), o termo cartilha constitui um desdobramento da palavra “cartinha” que, por sua vez, era usada para identificar aqueles textos impressos cujo propósito explícito seria o de ensinar a ler, escrever e contar. Apresentavam usualmente o abecedário, a construção das palavras e suas subdivisões, alguns excertos simples com conteúdos moralizadores, quase sempre precedidos de excertos de orações ou de salmos.
A palavra cartilha, remonta às situações corriqueiras e freqüentes: até o século XIX, boa parte dos textos escritos que as crianças traziam de casa para utilizar na escola eram manuscritos; dentre esses, as cartas eram uma fonte privilegiada... Muitos eram os meninos e meninas que, em Portugal, aprenderam a ler inicialmente mediante a leitura de cartinhas...
À semelhança e por analogia, elabora-se – para os primeiros textos impressos com a finalidade alfabetizadora – a expressão “cartinha de leitura”. Daí vem a “cartilha”. Cartilhas, manuais escolares ou livros didáticos integraram o conceito de escolarização e podem ser considerados partícipes do universo cultural da escola e mesmo da sociedade como um todo.
Um dos exemplos é a longevidade da cartilha Arte da Leitura do poeta português João de Deus, a primeira a ser utilizada no Brasil (MORTATTI, 2000). Em seu conteúdo, letras, sílabas, palavras e poemas em uma ordem diferente da alfabética. Ao final, um texto poético mais longo e tabelas de adição, subtração, multiplicação e divisão. Foi adotada nas escolas públicas do Brasil desde 1876 (MORTATTI, 2000) e no RS, editada em Porto Alegre pela Editora Selbach.
Para Ferreira (2008, p. 35), o livro didático é “depositário de um conteúdo que, antes de tudo, tem o papel de transmitir às jovens gerações os saberes e as habilidades que, em uma dada área e um dado momento, são julgados indispensáveis à continuidade de uma sociedade”. Para a estudiosa, “trata-se, ao mesmo tempo, de um instrumento ideológico, pedagógico e socializador” e, por ser um “instrumento do universo cotidiano da vida escolar, a produção desse material atinge educadores, alunos e familiares, autores, editores, intelectuais e autoridades políticas.
Se, para o Estado, a organização e monitoramento dessa produção representa o controle ideológico, para as editoras, os livros didáticos são produtos economicamente rentáveis” (FERREIRA, 2008, p. 35). E para o professor, o que significa o livro didático? Ele pode ser um produto de seu projeto pedagógico?

terça-feira, 11 de outubro de 2016

João Bez Batti 76 anos



11 de Novembro: Aniversário de João Bez Batti
Cristina Maria Rosa

Neste dia 11 de outubro, ao indicar um livro para os ouvintes do Programa Tons e Letras (fmcultura107.7), decidi homenagear João Bez Batti.
Leia o que escrevi...



Em novembro, dia 11, nosso maior escultor vivo, João Bez Batti, comemora 76 anos.
Quando guri, três ou quatro, João ia com a mãe à beira do rio.
Ela, roupas para lavar.
Ele, as pedras do rio.
Os seixos rolados.
Os fragmentos que, decepados dos grandes blocos, por tempos passados, por rolarem uns sobre os outros, tinham se tornado redondos, lisinhos, macios, quase.
Seixos.
Seixos rolados.
João era apaixonado por eles.
Pedaços circulares, encurvados, rechonchudos, orbiculares, curvados, torneados, roliços, cilíndricos, balofos, esféricos, rotundos.
De pedra.
Basaltos?
De todos os tamanhos, formavam um tapete à margem. À margem do rio em que sua mãe lavava.
Capturados um a um, levados, alguns, escondidos no mato, perto de casa.
Para rever?
Guardar?
Brincar?
De muitas cores: Incomparáveis cinzas, gradações de bege, imitações de areias, semelhanças com verdes, proximidades com pretos, alguns avermelhados.
Às margens, dispostos os seixos, como um brinquedo.
Um jogo espalhado que cabia a João reunir, comparar, apalpar, seriar, selecionar, separar, agrupar. Inventar ordens as mais diversas. Depois, recomeçar.
À distância, e mesmo bem pertinho, um cenário.
Capturado pela retina, tornou-se íntimo pelo toque.
Inverteu o jogo, o menino.
Moveu a pedra.
Domou o bruto.
João, guri, às margens, o futuro em pedras.
Naquele cenário, possível imaginar formas...
Semelhanças, pronunciamentos, reentrâncias, vales, ranhuras, parecenças...
Faces?
Esculturas.
Esculturas de João Bez Batti.
Em homenagem a esse escultor de mãos que revelam o ofício, em homenagem a João Bez Batti, o livro que hoje recomendo é “Ouvindo Pedras, da série Diários Descobertos.
Escrito por Luis Dill e belamente ilustrado por Alexandre Camanho, o livro reúne imaginação e informações verídicas sobre a infância do escultor Aleijadinho.
O exemplar que tenho, garimpei em sebos, um lugar interessante para nossos filhos, netos, sobrinhos, alunos...
Leia os autores gaúchos.
Leia Luis Dill.
Conheça nossos escultores.
Visite João Bez Batti nos Caminhos de Pedra em Bento Gonçalves.

Ouvindo Pedras, de Luis Dill.
Cristina Maria Rosa, 11 de outubro de 2016.
Ficha técnica:
Tons & Letras
Apresentação: Luís Dill
Produção: Luís Dill
Horário: Sábados, às 11h
Twitter: @fm_cultura
Facebook: fmcultura107.7