terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Infância combina com leitura

Diz-se muito sobre a leitura. Que ler em movimento nos deixa enjoados, por exemplo. Penso que enjoado é quem não lê. Que ler com menos luz deixa o sujeito cego. Penso que o sujeito que não lê já é cego. Diz-se também, e isso foi antigamente, que ler cansa a vista. Cansa a companhia, cansa as pessoas que precisam aturar as certezas dos mal informados. Diz-se ainda, que a leitura tem hora e lugar. Isso eu confirmo. Tem hora. Todas. E tem lugar. Qualquer um.
Ler é um prazer tão grande que quem gosta, não consegue esperar o lugar ideal nem o momento certo. Mesmo porque, esse lugar ideal quase sempre está longe de onde se está quando um jornal, uma revista, um livro novo nos cai nas mãos. E o momento certo, ou já passou ou ainda não chegou. Então, por que não dar uma olhadinha no sumário, nas manchetes, naquela foto que interessou?
Tem muito mais “coisas” ditas acerca da leitura. A mais séria e de consequências bastante duradouras é que a leitura - os livros, ler, se concentrar, fazer silêncio - afasta as crianças da verdadeira infânciaNesta "verdadeira infância", brincar seria o termo definidor. A “verdadeira” infância seria um lugar do fruir alegrias advindas do gasto incessante de energia: correr, pular, gritar, dar risada, esconder-se, jogar bola, não ter horário para nada, comer despreocupadamente, dormir quando exausto.
Pergunto: criança é só um corpo alegre que entra em movimento por qualquer motivo?
Eu ainda não encontrei nenhuma criança que risse, corresse, pulasse, jogasse sem imaginar grandes aventuras. Essas “grandes aventuras” imaginadas não brotam com o suor, com o volume da voz, com a pressa do correr. Essas aventuras fazem parte do complexo universo da inteligência humana capaz de ser racional e imaginária ao mesmo tempo.
A imaginação é mãe de todas as idéias, é filiada ao regime noturno – ao sonho – e produz verdades que entram em choque com o real. É por isso que muitos preferem sonhar em vez de realizar.
A aventura, ou melhor, a imaginação da aventura, brota desse complexo enigma cinza que temos aprisionado dentro dos ossos da cabeça. A prisão, por pequena, demanda janelas. As da alma, como dizem alguns. As da imaginação, como sabemos todos.
Essas janelas precisam de ar – idéias – e de luz – imagens.
Sabe onde podemos encontrar ar e luz? Nos livros. Ou você não conhece Felpo Filva, o poeta da Eva Furnari?
Por tudo isso é que eu afirmo: Infância combina com leitura. Presente de aniversário, de Natal, de Páscoa, de amizade, de carinho, presente, pode ser livro.
Criança não fica traumatizada se entrar em uma livraria. Silêncio combina com criança. Ler no carro, em movimento, ler no ônibus forçando a retina, ler com uma vela, ler.
Ler combina com infância. E também com adolescência, com maturidade, com terceira idade. 
Ler combina, ler está na moda, ler é chique. Ler indica que você tem pensado ultimamente. Ler oferece argumentos, ler faz pensar em coisas a serem ditas. Ler é massa, é maneiro, é tri legal. Ler é condição de humanidade e, por isso, ler é imprescindível.

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