Dando prosseguimento às pesquisas sobre o Manuscrito “Artinha de Leitura” de JSLN, elaborei uma pequena análise da “Carta ao Mestre” que o escritor Pelotense deixou grafada logo no início de sua cartilha. Manuscrita e parcialmente ilustrada em 1907 e dedicada “as escolas urbanas e ruraes”, “Artinha da Leitura” foi encaminhada, em julho de 1908, ao Conselho de Instrucção Pública do Rio Grande do Sul que a rejeitou com as seguintes palavras:
“Sobre a cartilha primaria ‘Serie Brasiliana’, em manuscrito, de J. Simões Lopes Netto, entende o Conselho que, não podendo o Estado impõr a orthographia seguida pelo autor, deve ser reparado o trabalho por estar em desacõrdo com o Regulamento e não obedecer ao criterio de ensino” (Ata da 6ª Sessão, 25/07/1908).
Durante esses cem anos de desaparecimento o manuscrito recebeu diferentes nomes: “livro didactico-primário” por João Simões Lopes Neto (1904); “cartilha primária” pelo Conselho de Instrução Pública (1908); “livro sobre motivos rio-grandenses intitulado Artinha de Leitura” por Carlos Reverbel (1945); “Eu no Colégio” por Manoelito de Ornellas em 1955; “O verdadeiro Terra Gaúcha” por Carlos Francisco Sica Diniz (2003) e “livro de leitura” por Aldir Schlee (2006). Encontrado em novembro de 2008 e depositado aos cuidados do IJSLN, o manuscrito pode finalmente ser conhecido e estudado, uma vez que foi digitalizado pelo NDH/UFPel.
A “Carta ao Mestre” que se encontra na página 4 do manuscrito, entre outras preciosidades, indica que “Ler e escrever devem andar de par”. João Simões, então, sugere ao mestre que “logo de começo, faça por que o aprendiz vá ajeitando-se, educando a mão, os dedos, a segurar o lápis. Podendo ser, faça-o praticar com o lápis e papel, este em pequenas folhas avulsas; a chamada pena de pedra e a louza tornam a mão pezada. Vijie em que durante o trabalho, o aprendiz guarde uma posição hijienica: natural e cômoda” (JSLN, 1907, p.4).
Para o escritor, a letra e seu traçado eram importantes, tanto que escreveu:
“Durante o primeiro tempo somente exercicios de linhas, retas e curvas, e ângulos. Procure que essa tarefa inicial vá sendo bem feita e que para o deante o aprendiz escreva sempre com boa letra, simples, sem arabescos, alinhada e em pé (reta). A escrita reta ou em pé corresponde á atitude que a criança toma espontaneamente quando escreve pela primeira vez; a escrita reta que é um importante auxiliar para o ensino da leitura, é também mais lejível que a inclina da e ocupa menos espaço” (JSLN, 1907, p.4).
Embora afirme que ler e escrever “devem andar de par”, quase todas as indicações do escritor são no sentido da escrita, sem arabescos, clara, ou seja, em busca de um treino gráfico, o que pode ser observado no fragmento a seguir:
"Depois - no segundo, terceiro mez – vá dando-lhe a fazer as letras de cursivo e romanas, como exercicio de copia; dê-lhe também singelos modelos de desenhos, sem sombra, ou que elle os trace de memória: uma pá, uma chave, cadeado, relojio, chaleira, etc. Quando bastante adestrado em copiar letras e silabas, começará a escrever sob ditado e assim apura o ouvido e a atenção. Faça-o sempre ler o que escreveu" (JSLN, 1907, p. 4).
Em nota de rodapé JSLN apela para o bom senso do mestre, tanto no que concerne “a duração da aula, distribuição dos trabalhos, horário” bem como a utilização das notas de seu livro. Em suas palavras, “tudo fica subordina ao senso prático, tirocinio e cultivo do mestre” (JSLN, Artinha da Leitura, 1907, pág. 04).
É interessante conhecer um João Simões que,apesar da pouca escolaridade, indica, nesse livro didático, muito conhecimento a respeito dos processos pedagógicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário